O potencial da natureza para a saúde humana depende mais dos humanos do que da natureza!!!!
Nos dias que correm, ouvimos falar amiúde do potencial da natureza para a saúde humana. Será possível garantir saúde humana sem garantir a saúde da natureza?
Será possível viver de forma saudável sem ecossistemas saudáveis à nossa volta?
Entendo o potencial da natureza para a saúde humana numa relação bidirecional, condicionada uma pela outra, embora numa dependência assimétrica.
Recentemente, num evento de promoção de práticas ecológicas e sustentáveis, pró ambientais, um contador de histórias conduzia um grupo de crianças a dizerem, em uníssono, que o planeta precisava da nossa ajuda. Compreendi, penso eu, a intenção ecologista daquele apelo. Não pude, no entanto, deixar de pensar que poderíamos ou deveríamos, ser mais audazes e, verdadeiramente, rasgar com o paradigma da natureza que nos serve. Na minha visão, o Planeta não precisa da nossa ajuda, nós é que precisamos dele, da ajuda dele e de o ajudar para o termos! Sem nós, ele planeta (e natureza), continuam a senda da vida, nas mais diversas formas.
A natureza foi e é essencial na esperança média de vida das populações humanas, desde a nutrição à disponibilidade de substâncias que alimentaram a indústria farmacêutica, fenómenos naturais que ofereceram informação à ciência, recursos que possibilitaram a proliferação industrial e por aí adiante. Nada do que surge neste planeta está desligado de relações com a natureza.
Observar os ecossistemas doentes é preocupante. Observar seres humanos inconscientes destas relações é alarmante. Pessoas que continuam a atirar lixo ao chão. Escolas com os recreios cheios de lixo encarado como algo que acontece naturalmente numa escola e que oferece trabalho a funcionári@s, quando deveria dizer respeito a tod@s e ser encarado em interligação com os conteúdos teóricos dos livros. E tanto benefício seria oferecido às crianças, ao seu sistema musculoesquelético, neurológico e sensorial, estando elas mais tempo letivo em movimento e ao ar livre.
Imaginem as crianças crescerem com acesso a ar puro, a beber água não contaminada e a comer menos alimentos envenenados? Imaginem as crianças crescerem com o valor da interconexão vida humana-natureza bem enraizado nelas? Imaginem só os benefícios múltiplos de crianças conscientes da importância de viverem num espaço cuidado, limpo, com recursos finitos, aos quais devemos honrar pela utilidade que nos prestam? Imaginem que as crianças, porque aprendem a fazer (muito mais do que a ouvir de forma passiva) generalizam essas vivências para a sua casa, para o seu bairro, para a praia que frequentam, para o parque onde vão brincar e para a rua onde caminham? Arrisco a imaginar um cenário de espaços limpos, conscientemente cuidados, prósperos e férteis (não apenas os solos, mas as ideias, a estética, os sonhos,....).
Achas que sem biodiversidade há garantias de vida humana?
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Achas que sem biodiversidade é possível garantir sistemas saudáveis para a vida humana?
Observa o teu habitat e repara no estado dos espaços verdes. Como está a vegetação? O solo? Os cursos de águas? Há recipientes para o lixo? Há bancos para sentar e apreciar a paisagem? Há passeios e bermas para caminhar? Há jardins e espaços verdes que respeitam e integram as plantas autóctones, tantas vezes com elevado interesse para a sustentabilidade dos ecossistemas locais?
Cada um de nós, como cidadã/ão pode observar e partilhar as suas observações. Gerar ações no seu habitat, na sua comunidade.
Basta que cada ser humano que respira ar deste planeta, plante uma árvore, coloque o seu lixo nos devidos recipientes, contribua com resíduos orgânicos para a regeneração dos solos ou se alimente com alimentos orgânicos livres de agrotóxicos, entre mil e uma outras possibilidades....
O futuro é agora e as crianças fazem parte da solução.
Carla Ladeira
05 de janeiro de 2023