O próximo passo da narrativa do bolsonarismo
Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O próximo passo da narrativa do bolsonarismo


A crise aberta com liberais, notada pelo aumento de 10% do risco Brasil, assustou o mercado com a intervenção da Petrobras, causando uma perda estratosférica no valor de mercado da empresa e contém um aviso: vem algo mais por aí.

O caminho que seguirá a partir daqui parece já ser efeito de uma releitura das possibilidades de público a partir de agora. Bolsonaro, fato já apontado por muitos, apega-se aos princípios do populismo, esse conjunto de demandas heterogêneas que vêm diretamente do desejo da população. 

Ernesto Laclau definiu esse movimento como “ uma estratégia discursiva de construção de uma fronteira política, dividindo a sociedade em dois campos e apelando para a mobilização dos “excluídos” contra aqueles “que estão no poder”.

Essa é a divisão pregada por Bolsonaro ao atuar diretamente sobre o preço: fortalecer a relação entre o nós e eles, combater o sistema, defender o cidadão, uma vez que o ataque às instituições ficou fora de moda com a prisão recente de Daniel Silveira, uma vez que toda a situação no entorno da votação sobre sua prisão foi um forte recado conjunto de legislativo e judiciário ao executivo de que excessos ideológicos não seriam mais tolerados.

Bolsonaro tem apoio do centrão para as reformas administrativa e tributária, aumento do teto de gastos e revisão do pacto federativo, desejos do baixo clero da câmara que independe da relação com o executivo, que nesse momento mais parece refém do bloco do que parceiro ressalvadas as pautas de interesse de ambos. 

Para superar a crise, Bolsonaro terá que atuar frente a demandas reais da população, desejos que possibilitem a ele mostrar serviço e manter uma narrativa forte a seu favor. A dor mais sentida pela população hoje é a inflação. Ainda que os preços não possam ser totalmente controlados, Bolsonaro parece estar disposto a tomar atitudes que custem caro ao erário, mas que irão sustentar sua posição junto à população, como zerar o imposto federal sobre o diesel.

O valor da inflação, já sentido por todos nos supermercados, o diesel em alta, atrasos na vacinação, questionamentos ao ministério da saúde, junto à pressão de caminhoneiros leva o governo a tomar decisões em direção ao controle dos preços. O custo da isenção do imposto federal de R$ 3 bilhões por mês parece não ter assustado o capitão reformado.

Além da troca de direção forçada da estatal, que já está gerando um forte desgaste junto a analistas de mercado, Bolsonaro prometeu intervir sobre a conta de luz e tem apoiado um novo auxílio emergencial, não parecendo ter muito acordo com os liberais alocados em seu governo.

No momento, Bolsonaro parece estar abrindo mão de um público em favor de outro, já havia feito isso com apoiadores da Lava-Jato a partir da demissão de Moro, parece ter abandonado ao menos temporariamente o núcleo mais ideológico e está abraçando preceitos de um populismo mais clássico. Essa conta precisa fechar, o apoio da maior parte da população com preços mais baixos terá que ser maior do que a pressão vinda do mercado pela não intervenção.

Os ataques certamente serão somados a confusas declarações acerca de benefícios de empregados da Petrobras e os ataques ao aumento de impostos gerado por João Dória em São Paulo, podemos ter certeza, um novo movimento de narrativa está sendo construído.

Esse movimento, somado aos já conhecidos “fatos alternativos”, ou mentiras deslavadas se preferirem, gera imprevisibilidade no cenário político e deverá ser acompanhado com cuidado nas próximas semanas, pois parece ser nele que Bolsonaro se apoia para recuperar sua avaliação junto à população.

Paulo Loiola, parabéns pelo artigo. Olhando para o passado e para os vizinhos, tenho a impressão de que sim trata-se de um filme de terror prestes a começar. Populismo é a maior "doença" de qualquer país, pois, ao contrário do que parece, afeta muito mais os mais desprotegidos no médio prazo. Populismo nada mais é do que um ônus extra à base da pirâmide, sendo que tal ônus é cobrado no futuro na forma de inflação, desemprego e queda na renda, acentuando ainda mais a desigualdade. Olhando para o futuro, penso que uma reforma política que acabasse com a reeleição talvez pudesse ser um caminho para proteger a democracia do populismo eleitoral. Talvez um mandato único de 6 anos pudesser ser uma alternativa. Enfim, para pensarmos. Grande abraço.

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