O QUÊ A PANDEMIA NOS ENSINA SOBRE A CONFIANÇA NAS RELAÇÕES?
Quero te apresentar uma reflexão. Pra isso, vou te contar duas situações:
A primeira é a de uma mulher que eu vou chamar de Suzana. Ela tem 34 anos, se separou há 2 anos e não tem filhos. A Suzana conheceu o Hélio há um mês. Estão ficando, passam os finais de semana juntos. A Suzana sente que nunca conheceu um cara como o Hélio. Ele é bem o número dela: bonito, inteligente, independente, super carinhoso. Adora atividade física e cuida muito da alimentação, assim como a Suzana. Também é um pai bem presente pra filha que ele teve no seu primeiro casamento.
Ela está super feliz com ele, sente que é o homem da vida dela. Ela já apresentou ele pra família dela e já conheceu a dele também.
O fim do primeiro casamento dela foi muito difícil. A Suzana conheceu o primeiro marido na adolescência, estavam juntos há muitos anos, mas se separaram porque ela queria muito ter filhos, mas ele não. Isso foi afastando os dois, já não tinham uma vida sexual e acabaram se divorciando.
Agora com o Hélio, a Suzana tem uma vida sexual muito boa, mas o Hélio não gosta muito de usar camisinha e a pílula não faz muito bem pra Suzana. Os dois fazem coito interrompido para se prevenir e como a Suzana gosta muito do Hélio, ela não pediu para ele fazer nenhum exame. Também porque ela faz exames para ISTs regularmente, então achou que não era necessário.
Agora, depois de um mês que se conheceram, a Suzana levou um susto. Começou a sentir muito enjoo, se percebeu um pouco mais inchada e acabou descobrindo que está grávida. O Hélio também levou um susto, porque não estava planejando ter filhos, mas não tinha falado ainda sobre esse assunto com a Suzana. Não deu tempo. E mais, durante o pré-natal a Suzana descobriu que está com Sífilis. O Hélio não sabia que tinha, e como não fez nenhum exame nesse meio tempo, acabou transmitindo para a Suzana. Os dois estão bem angustiados com tudo isso.
Agora vou te contar uma segunda história, dessa vez é a da Lívia, de 25 anos. Ela acabou de se formar na faculdade, trabalha em uma agência de publicidade. Só que, justo nesse primeiro ano de formada, começou a pandemia da Covid-19.
A Lívia mora com a mãe e tem uma avó que mora perto delas. Elas vão nos finais de semana para almoçar com ela.
Agora, com a quarentena, a Lívia está em home office e a mãe, que é professora, tem dado aulas online para seus alunos. A avó elas tem visitado, de máscara e somente no jardim do prédio dela, sem nenhum contato físico. A Lívia e a mãe encomendam tudo online, tanto para elas quanto para a avó.
Em Julho de 2020, a Lívia estava conversando com um ex-colega da faculdade, o Júlio, pelo direct do Instagram. Ele curtiu algumas fotos dela e acabou rolando uma aproximação entre eles. O Júlio insiste muito pra Lívia ir na casa dele, mas ela fica com medo de se contaminar. Depois de muita insistência a Lívia topou, até porque o Júlio jurou que não estava tendo contato com ninguém desde Março, tava fazendo home office, até criticou quem fura a quarentena.
Chegando lá, a Lívia ficou muito feliz de ver o Júlio, mas não gostou que ele não contou que morava com dois colegas de apartamento e eles estavam recebendo a visita das namoradas e mais alguns casais de amigos. Tinha em torno de 15 pessoas no apartamento de 60 m2. A Lívia não foi embora na hora, porque ficou com medo do Júlio se ofender e não querer mais sair com ela. Então ela ficou até o final da noite.
Uns 3 dias depois a mãe da Lívia, que tem 57 anos, começou a sentir muito mal, com febre alta e muita falta de ar.
No hospital foi feita a internação da mãe da Lívia, porque o exame deu positivo pra Covid-19. Ela ficou super preocupada e não consegue entender como a mãe pegou o vírus. Falando com o Júlio uns 2 dias depois ele contou que um dos amigos dele já estava com sintomas, mas achou que era só um resfriado, não contou pra ninguém e foi no encontro com os amigos mesmo assim. Agora estão todos brabos com ele e se sentindo culpados pela mãe da Lívia, que no final acabou ficando internada um mês, mas se recuperou.
O quê você vê em comum nessas duas histórias?
O excesso de confiança!
Tanto a Suzana quanto a Lívia estavam ainda conhecendo as pessoas que elas se relacionavam. No início das relações é comum que haja uma idealização e uma projeção. Tu acaba enxergando na outra pessoa o que tu quer muito enxergar e acaba desvalorizando sinais importantes, especialmente, quando são diferentes da tua idealização.
Além disso, a percepção de risco tem a ver também com a quebra da nossa onipotência, do nosso narcisismo, de que não temos o controle sobre tudo o tempo todo. Mas, algumas pessoas não conseguem fazer essa quebra e entram em negação. Acham que tem o corpo fechado, que são fortes, atléticas e que a contaminação tá distante delas, só acontece com os outros, são só números na televisão.
Essas mesmas pessoas, às vezes, observam alguns sinais superficiais pra chegar a certas conclusões.
Se a pessoa é saudável, faz exercícios, é bonita, é querida, por acaso ela não pega nenhum vírus, por exemplo?
Pensando no relacionamento, ela é uma pessoa confiável por ter essas características?
Se ela só fica comigo e não teve muitos parceiros na vida, não precisa usar camisinha, fazer exames?
Os vírus são invisíveis, inclusive para o próprio portador, que pode não apresentar sintomas. E assim como o vírus, nós não sabemos, não enxergamos várias coisas da outra pessoa para podermos confiar tão rapidamente nela.
O auto cuidado precisa estar em primeiro lugar, seguido pelo cuidado com os outros, porque todos fazemos parte de uma sociedade e temos responsabilidades uns com os outros. Quando você se cuida, está cuidando do outro também.
Então, leva o tempo que precisar pra ganhar confiança na pessoa, olha pros dados de realidade e cuida pros teus desejos e idealizações não ficarem acima disso.
Procura ajuda de um psicólogo se tu não estiver conseguindo.
O quê você achou dessa reflexão?
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