O Que é Humanismo Digital?
Quando você pensa em futuro, tecnologias e inteligência artificial, que imagens passam pela sua cabeça?
Possivelmente, as imagens que apareceram na sua mente envolveram cenas daqueles filmes distópicos como Eu Robô e Matrix. Robôs que decidem controlar o mundo, aniquilando toda a humanidade e expulsando os humanos restantes para naves espaciais ou abrigos subterrâneos. Se refletirmos um pouco, algo parecido (mas menos drástico) já está acontecendo.
A Distopia é Agora
Pesquisas ao redor do mundo vêm mostrando uma grande preocupação sobre os modos como as Inteligências Artificiais (IA) estão evoluindo. 73% dos estadunidenses temem que os robôs vão eliminar seus empregos, 58% de pessoas ao redor do mundo acreditam que o governo deve regulamentar a IA para garantir os empregos e 35% dos britânicos acreditam que a os robôs irão subjugar os humanos e controlar a sociedade (Pesquisas realizadas por Gallup, BCG e University of Sheffield).
A grande amostra de filmes, séries, livros e jogos que apresentam um futuro distópico controlado por inteligências artificiais que buscam destruir todos os humanos refletem esse medo antigo da sociedade que perdura até a atualidade. E bem... Se nada mudar no modo como a sociedade, as empresas privadas e os governos lidam com as novas tecnologias, provavelmente é isso que vai acontecer mesmo.
Não é novidade que as grandes corporações que trabalham com redes sociais consideram o ser humano como uma fonte de renda (Se você ainda não assistiu o documentário Dilema das Redes, assista!). As redes sociais parecem ser gratuitas, mas a cada segundo que passamos navegando pela timeline do Instagram, assistindo vídeos no TikTok ou lendo artigos no LinkedIn (opa, perai...), estamos vendendo nosso tempo para essas corporações. Nosso tempo gera lucro para essas empresas, e aí que entram os algoritmos! Eles aprendem nossos padrões de comportamento, gostos, manias, desejos, medos e utilizam tudo isso para recomendar conteúdos que prendam nossa atenção cada vez mais, nos imergindo em um mundo virtual e nos desconectando da realidade (Matrix, é você?).
Como já se repetiu várias vezes na história, sempre que um status quo se mantém por muito tempo ou começa a atingir pontos extremos, movimentos de oposição tendem a surgir. Um grupo de pesquisadores de várias nacionalidades, preocupados com o rumo que a humanidade estava tomando em relação com as tecnologias, se reuniu e discutiu sobre o papel dos meios digitais em prol da humanidade. Os resultados dessas discussões foram escritos em um manifesto que fala sobre possíveis soluções para o resgate do ser humano como foco central do desenvolvimento tecnológico.
"O Sistema Está Falhando"
Essa frase proclamada por Tim Berners-Lee, o fundador da World Wide Web, introduz as reflexões trazidas no Manifesto de Viena pelo Humanismo Digital. Esse manifesto foi publicado em maio de 2019 e conta com uma série de recomendações e reivindicações feitas para grandes empresas de TI, governos e para a sociedade em geral. Os pesquisadores afirmam que o desenvolvimento tecnológico desenfreado está nos distanciando do que significa ser humano e, como solução, sugerem que a inovação tecnológica passe a ter o ser humano como centro de tudo. O manifesto discute sobre a importância de a tecnologia ser desenvolvida em prol da humanidade e não para explorá-la, principalmente quando o assunto são as Inteligências Artificiais.
O texto é uma convocação para que possamos refletir sobre o futuro que nos espera caso o desenvolvimento tecnológico desenfreado continue. Os autores convidam pesquisadores, políticos, formadores de opinião, líderes empresariais a iniciar essa discussão e participar ativamente na formação de políticas para a proteção do ser humano no futuro. Os autores também chamam a atenção para a coevolução da tecnologia e da humanidade, afirmando que a inovação tecnológica causa mudanças cada vez mais rápidas no tecido social. Alguns tipos de empregos desaparecem, outros se criam; mudanças de paradigma acontecem do dia para a noite; e o mundo se torna cada vez mais inconstante e imprevisível.
O manifesto fala sobre a nossa tendência de culpar a tecnologia pelos danos que esse desenvolvimento desenfreado tem causado aos humanos, e lembra: as tecnologias não surgem do nada. É muito fácil culpar os algoritmos e as inteligências artificiais mas é importante lembrar que elas são criadas por humanos com orientações e objetivos específicos. Os algoritmos desenvolvidos para atrair nossa atenção para o feed do Instagram e passarmos horas na rede social, foram criado com essa finalidade. Eles foram idealizados e desenvolvidos por humanos, com o objetivo de gerar mais lucro para a organização.
Os autores falam também sobre a nossa responsabilidade social na criação dessas tecnologias. Eles afirmam que nós temos o dever de moldar as tecnologias de acordo com as necessidades e valores humanos, e não permitir que a tecnologia molde o ser humano. O manifesto aponta direções para a expansão do Humanismo Digital, que encoraja a inovação centrada no ser humano, almejando a nossa evolução para uma sociedade mais saudável que valoriza a vida, respeitando direitos humanos universais. Para alcançar esse objetivo, os pesquisadores divulgaram onze princípios do Humanismo Digital
Princípios para um Futuro Mais Humano
Os princípios do Humanismo Digital são orientações para que possamos mudar a direção do presente e alcançar um futuro mais humano e sustentável. Tendo o bem-estar das pessoas como base de sua construção, eles são focados em restaurar processos democráticos, liberdade de expressão, individualidade e empoderamento humano, dentro dos ambientes digitais e em relação com outras tecnologias e inteligências artificiais. Os princípios estão descritos a seguir:
- Tecnologias digitais devem ser desenvolvidas para promover a inclusão e a democracia.
- Privacidade e liberdade de expressão são valores essenciais para a democracia e devem ser aspectos centrais em nossas atividades.
- Devem ser estabelecidas regulações, regras e leis efetivas, amplamente baseadas pelos interesses da sociedade.
- É necessário que os grandes monopólios de tecnologia sofram intervenções de agências reguladores.
- A tomada de decisões que acarretem em consequências para os direitos humanos individuais e/ou coletivos, deve ser realizada apenas por humanos.
- A comunidade científica deve priorizar a interdisciplinariedade.
- Universidades devem ser um local para a produção de novos conhecimentos e cultivo do pensamento crítico.
- Pesquisadores acadêmicos e industriais devem adotar uma postura de transparência sobre suas descobertas, lidando abertamente com a sociedade.
- Profissionais devem reconhecer a sua responsabilidade individual e coletiva frente aos impactos das tecnologias desenvolvidas.
- Os currículos em escolas e universidades devem estimular a combinação de conhecimentos das áreas de humanidades, estudos sociais e ciências exatas.
- Educação sobre ciências da computação, informática e seus impactos para a sociedade devem ser temas abordados nas escolas o mais cedo possível.
É possível perceber que esses princípios apontam para um caminho de resgate da ética e do pensamento crítico humano. Valorizar o ser humano como ele é, em todas as suas potências e diferenças, deve tornar-se a base para o desenvolvimento científico. Criar novas tecnologias, leis e práticas que promovam a democracia e a equidade na sociedade são meios de construirmos um futuro cada vez mais humano.
O Humanismo Digital é um movimento que busca mudar o rumo da sociedade para que possamos alcançar um futuro mais sustentável. Nosso papel é transformar esse movimento em ações no nosso dia-a-dia, seja diminuindo o nosso consumo de redes sociais, debatendo esse assunto com a nossa comunidade, incentivando o pensamento crítico em crianças e adolescentes, adotando uma postura mais humana frente às injustiças sociais ou da maneira como pudermos agir em nosso círculo social próximo.
Somos todos humanos imersos no meio digital, está nas nossas mãos a chave para mudar o rumo do futuro. Imaginar um futuro onde a tecnologia, a humanidade e o meio ambiente estão completamente integrados em harmonia pode parecer algo utópico, mas é o caminho que devemos seguir. Afinal, já estamos caminhando rumo a uma distopia, então por que não mudar a direção e caminhar rumo a uma utopia?
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2 aCara que incrível o seu artigo, estava lendo um livro chamado "Gadget, você não é uma aplicativo!" de Jaron Lanier, para entender um pouco mais sobre o mundo digital em que vivemos hoje e o impacto da tecnologia na sociedade humana e reparei justamente sobre o termo "Humanismo Digital" que reiteradamente é citado no texto, fiquei curioso sobre o termo e pensei em investigar seu significado, me deparei com seu artigo que me ajudou a compreeder mais sobre a ideia, parabéns pelo texto, consegui aprender um pouco mais sobre o tema. :)
Co-fundador Marcas Conscientes | Marca e Cultura #Facilitação #Palestra #SaúdeMental
3 aAdorei quando você trouxe dessa relação da imagem mental que existe sobre a nossa relação com a tecnologia. Se pesquisarmos materiais de ficção dos anos 50/60 vamos ver diversas das tecnologias que temos hoje, com uma carinha um pouco diferentes. E sempre que penso sobre isso fico atento, com que tipo de imaginário circula nessa consciência coletiva que somos e que tipo de relação estamos construindo. Eu fico só torcendo pra não estarmos indo para um reprise da sessão da tarde de o exterminador do Futuro 7 kkkkkkk
Co-fundador Marcas Conscientes | Marca e Cultura #Facilitação #Palestra #SaúdeMental
3 aAmigo incrível a tua forma de ver o futuro que você está construindo e quando você comunica está mostrando pro mundo onde está aplicando a tua força de agir. É uma honra estar ao lado de alguém com um olhar tão sensível e especial e mais honra ainda poder compartilhar dessa construção através do nosso trabalho juntos. Eu amo você, gratidão por compartilhar essa tua sabedoria comigo e com o mundo S2
Palestrante | Diretor Estratégico e Consultor de Branding na Insight Marcas Conscientes | Pesquiso sobre Criatividade para Autoconhecimento | SoftSkills
3 aChocado que a Mariana Santa Ritta anda por aqui também. É um anjo essa mulher mesmo viu.
Palestrante | Diretor Estratégico e Consultor de Branding na Insight Marcas Conscientes | Pesquiso sobre Criatividade para Autoconhecimento | SoftSkills
3 aMuito orgulho de poder compartilhar esse conhecimento com você. Estamos num caminho lindo e construção de um futuro cada vez mais digital e cada vez mais humano.