O que a agressão reflete sobre a nossa capacidade de dialogar

O que a agressão reflete sobre a nossa capacidade de dialogar

Nesta semana, um episódio no debate entre os candidatos a Prefeitura de São Paulo chamou a atenção do Brasil. O que deveria ser um espaço de troca de ideias se transformou em um cenário de violência generalizada. No entanto, o ponto aqui não é analisar o ocorrido por uma ótica política, mas refletir sobre o que esse tipo de reação agressiva diz sobre nossa capacidade de comunicação.

A cena pode ser chocante, mas não é rara. Em momentos de estresse e confronto, é comum que a agressão – seja ela verbal ou física – surja como uma forma de lidar com a situação. Esse tipo de comportamento levanta uma questão crucial: o que a violência expressa? Para a Comunicação Não Violenta (CNV), criada pelo psicólogo Marshall Rosenberg, toda comunicação violenta ou agressiva revela algo mais profundo – uma necessidade não atendida.

A CNV propõe que, antes de reagirmos agressivamente, devemos compreender que todo comportamento é uma expressão de uma necessidade. Segundo Rosenberg, existem quatro componentes fundamentais para uma comunicação saudável: observação, sentimento, necessidade e pedido. Quando nos deparamos com um conflito, é essencial observar a situação de forma objetiva, identificar o que sentimos, entender qual necessidade está por trás desses sentimentos e, por fim, fazer um pedido claro de solução.

A proposta é simples, mas poderosa. Ela nos ajuda a reconhecer que, muitas vezes, o que está por trás de uma reação agressiva não é o desejo de machucar o outro, mas sim uma tentativa (geralmente mal direcionada) de resolver uma frustração ou necessidade. A CNV nos desafia a pausar e refletir antes de reagir, buscando entender o que realmente está em jogo. Isso também requer algo fundamental: autoconhecimento.

O que a agressão no debate reflete?

Marçal lançou agressões verbais e Datena reagiu com uma cadeirada - o que estava em jogo não era apenas um conflito político mas, principalmente, moral. Segundo os princípios da CNV, esse ato de violência reflete uma frustração ou uma sensação de desrespeito. A agressão verbal de Pablo Marçal pode ter desencadeado sentimentos de raiva ou insegurança em Datena, levando-o a acreditar que sua integridade estava sendo ameaçada.

Esse tipo de resposta impulsiva é comum em situações onde nos sentimos encurralados ou emocionalmente vulneráveis. Mas o que aconteceria se, em vez de agirmos com violência, tentássemos entender primeiro nossas emoções e necessidades?

Esse episódio reflete algo que muitos de nós enfrentamos no cotidiano – especialmente em ambientes de trabalho ou relacionamentos pessoais. Quando nos sentimos desrespeitados ou desvalorizados, nossa primeira reação muitas vezes é de defesa, e essa defesa pode vir em forma de agressão. No entanto, isso raramente resolve o problema e geralmente apenas aprofunda os conflitos.

Reflexões para o mundo corporativo e além

No ambiente corporativo, onde divergências e confrontos são inevitáveis, a adoção de princípios da CNV pode fazer toda a diferença. Conflitos sobre liderança, prioridades ou reconhecimento são comuns, e como lidamos com eles define o clima organizacional. Se nos basearmos na CNV, podemos transformar esses momentos em oportunidades para diálogos abertos, onde as necessidades de ambas as partes são ouvidas e respeitadas.

O episódio da “cadeirada” no debate pode ter sido momentâneo e gerado muitos memes, mas ele levanta questões importantes sobre nossa forma de lidar com conflitos.

O convite aqui é que possamos refletir sobre nossas reações em momentos de tensão e a substituir a violência por diálogos que realmente busquem resolver as necessidades não atendidas. Talvez o verdadeiro desafio seja aprender a pausar, observar e comunicar, transformando o conflito em uma oportunidade de crescimento.

Oi amiga, excelente argumentação. Caminhamos desde sempre com este instinto de proteção própria e da família e conforme fomos evoluindo a forma desta defesa foi transformando, porém a violência verbal e física ficam como penúltima e última forma, neste caso do debate uma seguida da outra. Eu acho que não aprendemos ou não queremos aprender como mudar realmente este contexto de frustração x violência. Não desista. Bjo.

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