O que o Almanaque dos Anos 80 tem a ver com sua [falta de] Criatividade?
É comum pessoas utilizarem diversas fórmulas e táticas para se tornarem mais criativas, ou até mesmo cometerem o erro de achar que não são dotadas do dom da criatividade, como se fosse algo destinado a poucos privilegiados.
O que muita gente ainda não sabe é que criatividade é algo que se aprende, e deve ser exercitada com frequência e em alguns casos, estar alinhada com a pertinência e bom senso.
O segredo da criatividade é saber como esconder as fontes. (Albert Einstein)
Quer ser mais criativo? Exercite a fuga do lugar comum e evite os clichês da vida.
E por falar em lugar comum, que tal desobstruirmos um pouco o assunto e buscar novas fontes para aprimorarmos nosso repertório criativo, além de nos inspirarmos um pouco?
Afinal, o que um tema tão complexo como a criatividade tem a ver com o Almanaque dos Anos 80? Em resposta, cito a forma como os fatos do passado podem apresentar lacunas a serem preenchidas no presente. Ou vice-versa, tudo dependerá da sua necessidade e do contexto interpretado em cada situação.
Convido você a se desligar por alguns instantes do mundo digital e se aventurar um pouco mais pelo mundo analógico, sair da frente do computador e folhear o livro em questão, que provavelmente, terá um lugar de destaque na sua estante.
A obra em si é mais do que um documentário, capaz de alinhar alguns elos e fortalecer ideias que talvez você já as tenha engavetado.
O Almanaque dos Anos 80 é um convite ilustrativo para conhecermos mais sobre esta geração, que possui grande representatividade para o século XXI. Muito do que temos hoje teve inspiração em décadas passadas. Por exemplo, seu MP3 é uma evolução do Walkman, além de outras tecnologias e realizações em diferentes segmentos.
Se você gosta de televisão, posso citar por exemplo, que Armação Ilimitada era sucesso de audiência e o livro cita curiosidades sobre o programa que com certeza você desconhece e nem vou contar, para não perder a graça.
Mas, se analisarmos o formato e enredo deste programa, veremos que tornou-se pioneiro e virou fonte de inspiração para muitos outros programas juvenis da atualidade.
Outro fato curioso sobre o Sítio do Pica-pau amarelo que eu descobri lendo o livro está relacionado a dois sacis nos bastidores do programa, mas isso é uma longa história, que o livro descreve e ilustra com riqueza de detalhes. E por sinal, o seriado também tem sido fonte de inspiração no decorrer dos anos.
Mas, se assim como eu, você for um grande fã dos saudosos e criativos comerciais de TV, vai gostar de relembrar sobre velhos conhecidos que fizeram muito sucesso, como a menininha loira da margarina Claybon, o Bond Boca e até mesmo o fantástico Garoto Bombril, dentre tantos outros.
Infelizmente, do meu ponto de vista, a propaganda contemporânea não tem a mesma dose de criatividade da era oitentista.
Lembre-se que o Almanaque dos Anos 80 possui 300 páginas de inspirações, muita coisa bacana que valerá a pena ser lida, vista e principalmente, compartilhada.
E por falar em comerciais de TV, em corroboração com minha teoria sobre a criatividade dos anos 80, aposto como você viu há uns 5 anos atrás uma propaganda de cerveja em que milagrosamente não se exibia uma mulher bonita como protagonista.
Essa foi a grande sacada da FNAZCA que concebeu o comercial, estrelado por um ruivo caricato, de sunga crochê, com pochete na cintura e um blazer verde com ombreira (trajes e acessórios característicos dos anos 1980/90), cantando o hit “Adocica” de Beto Barbosa.
Preciso dizer que o ruivo foi sucesso absoluto e a marca Skol gerou alto índice de lembrança?
Sem falar do Beto Barbosa que voltou a fazer shows em todo o Brasil depois do comercial.
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Será que a concorrência não havia pensado nessa alternativa antes?
Provavelmente não, por diversos motivos, sendo o principal deles a falta de abordagem histórica, contextualizada com o presente.
Habitualmente chamamos isso de “pensar fora da caixa”, inovar ou simplesmente, ser criativo. O que você achar melhor.
Obviamente, estou tratando de possibilidades, mas não de forma totalitária, porque tudo nessa vida é relativo.
O tema criatividade exige muito mais complexidade e abrangência, além de outras variáveis, para que pudéssemos construir uma exposição mais ampla, com análises e pesquisas profundas e direcionadas ao objetivo.
Mas como estamos apenas batendo um papo despretensioso, voltemos para o Almanaque dos Anos 80. Afinal, o que ele tem de tão especial?
Muito mais do que um baú de recordações, o Almanaque dos Anos 80 propicia 300 páginas de muita cultura, fatos instigantes e interessantes, além de alta dose de entretenimento e tendências de uma década que ainda serve como base para muitos avanços em diversas áreas.
A obra é dividida em incríveis capítulos, que tratam sobre televisão, revistas e livros, música, cinema. Tem ainda notícias e curiosidades sobre esporte, diversão, modismos e até guloseimas dos anos 1980.
O mais divertido é que a linguagem adotada pelos autores Luiz André Alzer e Mariana Claudino não é monótona e nos faz viajar no tempo, por exemplo, relembrando os antigos seriados Profissão Perigo e O Incrível Hulk. E claro, salivando o sabor das deliciosas Balas Soft, dentre tantas outras coisas bacanas da época.
O lado ruim dos anos 80 era assistir filme nas TV’s de tubo que só funcionavam com Bombril na antena e a imagem analógica não era das melhores. Nesse caso, ponto para o digital.
Por outro lado, mesmo que o teor textual do almanaque não seja do seu interesse, permita-se ao menos conhecê-lo, porque vale muito a pena pelo preço, construção gráfica e conteúdo, favorecendo assim, a leitura e interpretação, mesmo para quem não é fã de retrospectivas.
Se sua criatividade não for aguçada, terá no mínimo boas risadas garantidas com a seção de humor e manias da época.
Pode ser que você goste tanto de matar a saudade, que se sinta tentado a comprar um Genius ou um LP (disco de vinil) dos Titãs no dia seguinte.
Resumindo, este é um livro perfeito para todo mundo, inclusive nós, publicitários, que vivemos da difícil tarefa de criar soluções inovadoras e vendáveis num mundo em que há pouca originalidade.
Afinal, não existe nada pior do que ser bombardeado por bloqueios criativos e quem é da área de criação publicitária sabe muito bem do que estou falando: horas passam e ideias vão embora.
A cobrança diária por soluções criativas pode aprisionar bons profissionais que não se habituaram a buscar novas fontes de pesquisa em escravos da falta de criatividade.
O Almanaque dos Anos 80 em si não resolverá por completo sua falta de criatividade, porém, se você continuar bebendo da mesma fonte, andando com as mesmas pessoas, visitando os mesmos lugares e não se permitindo quebrar alguns paradigmas, poderá se tornar apenas mais um na multidão, brincando de ser criativo.
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Boa leitura!