O que aprendi sobre liderança com o Bernardinho
Recentemente, tive o enorme prazer de bater um papo com o Bernardinho. Ele mesmo, o maior técnico de vôlei da história, acumulando mais de 30 títulos importantes em 20 anos de carreira ao dirigir as seleções brasileiras masculina e feminina. A conversa acabou rumando para um assunto no qual ele é um dos maiores especialistas: liderança, e eu gostaria de compartilhar os insights com você.
Para quem não sabe, além de atuar como técnico, ele é investidor e está presente em conselhos administrativos de grandes empresas como a Stone e a Arezzo, tendo o seu papel de coach extrapolando as quadras.
A conversa começou com a gente falando sobre liderança de forma geral e ao final, o Bernardinho enumerou as cinco principais características de um líder na opinião dele.
Uma das primeiras coisas que foram faladas é que a pessoa que é líder se mantém aprendendo e traz a reflexão para a ação. Portanto, os aprendizados que temos aqui são para assimilar e colocar em prática.
Lições sobre liderança:
“Não é sobre ser líder, é sobre estar momentaneamente líder e buscar sempre renovar este estado” – Bernardinho
Você pode contratar alguém e dar a ela o crachá de diretor de uma área, mas ela terá o crachá de diretor, não o crachá de líder. A liderança é um processo. Se a cada momento as pessoas renovam a energia e a confiança em você. Elas querem estar com você, seguir você e, ao serem desafiadas, elas acreditam que você está propondo o melhor para elas, aí sim você está exercendo um papel de líder. Mas é necessário renovar permanentemente o interesse das pessoas em seguir você.
Sendo assim, estar líder trata-se de alguns pontos, entre eles:
“Estar líder é ter essa mentalidade de crescimento e desenvolvimento contínuo” - Bernardinho
Como eu já disse anteriormente, no artigo os onze pilares do líder do futuro, as lideranças do passado estão se transformando, se não se transformarem não são mais líderes porque a nova geração e o novo momento requerem um papel muito diferente.
Mais do que nunca, a liderança necessita ter a mentalidade de querer crescer e ter pensamento de evolução contínua. Então, em primeiro lugar ser líder é ter essa mentalidade de crescimento e desenvolvimento contínuo.
No contexto da atualidade, o que assusta não são as transformações, mas a velocidade com que elas acontecem. Transformações rápidas exigem que o líder tenha alta capacidade de se adaptar e conduzir a equipe a se adaptar e, até mesmo antecipar essas mudanças muitas das vezes. Para isso, é necessário ter uma fome incessante de estudar e estar em constante aprendizado, ao mesmo tempo que mantendo um nível de execução elevado, além de ajustar a execução conforme o que aprende e compartilha com o grupo os principais pontos estudados.
Assim, nos tornamos mais flexíveis, não no que diz respeito aos valores, mas, em relação à forma e velocidade com que as transformações acontecem. Mais flexibilidade na adequação ao mercado, ao novo tipo de consumidor, que deve ser sempre o principal foco, e flexibilidade na comunicação com a equipe.
E você deve ter como principal termômetro se você está sendo bem-sucedido como líder quando as pessoas que você lidera têm sucesso.
“O papel do líder é alimentar o inconformismo. É fomentar a ideia de que dá para melhorar ainda mais.” – Bernardinho.
O líder não é melhor do que seus liderados, mas quem lidera tem a capacidade de fazer os outros serem ainda melhores e terem vontade de continuar a se desenvolver mais.
O papel da liderança é conseguir fazer uma pessoa que já é boa querer continuar aprendendo e querer melhorar aquilo que ela faz. O que o mestre quer é que o aprendiz se torne melhor que ele e se torne protagonista.
“Não estou aqui para ser bonzinho, estou aqui para tornar as pessoas melhores.” – Bernardinho
Se a cada momento as pessoas renovam a energia e querem estar com você, seguir você ao serem desafiadas e, acreditam que você está propondo o melhor para elas, aí sim você é líder.
Por fim, ao debatermos alguns aspectos gerais sobre o que é estar líder, seguimos para um ponto importante, sobretudo após o último ano, onde nos defrontamos com um cenário totalmente imprevisível de pandemia e falamos sobre o papel da liderança na crise.
A liderança na crise
Nos momentos de crise, principalmente no último ano, em que a situação trouxe instabilidade para muitas empresas, ao passar pela crise o primeiro momento é o de sobreviver. A liderança precisa concentrar os esforços em se manter proativo, segurar a equipe e buscar a sobrevivência da organização.
Em seguida, o próximo passo é o de relançamento e retomada, portanto nesta fase, você precisa dar espaço para a criatividade e estimular as pessoas à sua volta a se renovarem. É ter capacidade de adaptação e empatia com as pessoas.
“Ser gestor é sobre indicadores e números. Ser líder é sobre gente. Há uma grande diferença.” - Bernardinho
Portanto, a principal função de um líder nesse momento de crise é se comunicar claramente. É o momento de demonstrar autoconfiança e passar positividade, mantendo a comunicação clara e empática com as pessoas.
Entenda que o nível de estresse e ansiedade da equipe e dos indivíduos já está alta devido ao nível de incerteza que vivem na economia e no mercado, trazendo um nível elevado de percepção de risco sob resultados e sob seu trabalho/emprego. Além disso, há um catalizador desse estresse, que é o aspecto sanitário, que traz insegurança de saúde e risco de morte à família e amigos.
Logo, é papel do líder ter os pés no chão e trazer de alguma forma tranquilidade para as pessoas de sua equipe. Em uma crise, é compreensível ter uma postura de trator e só olhar para a execução das transformações que devem ocorrer na operação, mas intercalar esse foco, com o olhar para a equipe e principalmente, parar sistematicamente para escutar e adequar-se aos inputs dados pelos membros, fará uma diferença enorme no resultado final e você terá a confiança deles ao seu lado.
Depois de ter dado essa aula sobre ‘gente’, perguntei a ele o que o líder faz no dia seguinte a uma derrota, sabendo de toda a expertise que ele possui nas trincheiras, estando como líder de campeonatos há décadas e trazendo essa vivência para o mundo organizacional.
O que o líder faz no dia seguinte após a derrota?
O mais importante a se fazer após uma derrota não é saber exatamente o que falar, mas estar lá, se mostrar presente e ao lado das pessoas numa relação horizontal justa e acolhedora ao mesmo tempo.
“Não reclame, não se explique, apareça e faça o seu melhor”. - Bernardinho
Essa fala do Bernardinho trouxe muita conexão com o que eu aprendi com o meu pai. Quando eu não fazia alguma coisa e ia me explicar e ele dizia: “as tuas atitudes fazem com que as pessoas percebam que você evoluiu, amadureceu, você não precisa ficar prometendo nem se explicando”.
Deixe que as suas ações falem por você, porque nada do que nós dissemos às pessoas vai influenciá-las, inspirá-las mais do que o que nós fizermos. As atitudes falam muito mais alto do que qualquer palavra. Esse é um valor que acredito que todos deveriam levar para as suas vidas, pois elas exigirão de você no íntimo mais execução e coerência. Pilares fundamentais de uma pessoa que age com autorresponsabilidade.
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Portanto, se você é líder, depois de um momento de derrota, esteja lá com seus liderados. Porque muito mais importante do que aquilo que vamos falar para eles, é eles saberem que nós estamos lá do lado por eles e para eles, e no dia seguinte seguimos de novo.
A resiliência após a derrota precisa ser rápida, tem a ver com você se adaptar ao novo modelo aprendendo com aquilo que você passou. Também vem de saber dizer ‘não’ a distrações, pois é fundamental ter disciplina, saber focar no que é essencial e ter a resiliência de saber lidar com as negativas e seguir em frente.
Quando você sente vontade de tomar uma decisão, você precisa tomá-la e não ficar adiando. Em outras palavras, é ouvir a intuição de fazer algo e agir com foco.
Ao precisar eventualmente tomar uma decisão difícil na sua equipe, como por exemplo retirar alguém, a questão é saber como medir o nível de justiça e coerência dessa ação.
E o que o Bernardinho falou faz muito sentido, que é que medimos isso pela reação do restante da equipe. Se você foi duro, mas eles veem coerência na sua decisão, você continua sendo líder. Por isso é importante saber ouvir e também saber observar a comunicação não verbal de todos.
Em meio a toda essa vivência de competição e, sendo a pessoa que liderou com mais êxito times de seleção brasileira no vôlei, incluindo vários grandes jogadores, fiz uma pergunta a ele.
Como administrar um time com vários líderes?
Ele seguiu com a explicação. Numa equipe em que várias pessoas também são líderes, todos são complementares. No esporte, por exemplo, temos o capitão que tem o cuidado e a atenção permanente com o time e é o representante. E tem aquele que é o craque, a referência, o líder técnico, e por aí vai.
Cada pessoa da equipe tem características diferentes e isso não é estático, vai depender da situação. Ser líder é assumir responsabilidades, ouvir e compreender como essas características se equilibram.
Líderes assumem responsabilidade e ao mesmo tempo instigam o inconformismo. Criam hábitos de disciplina e espírito de equipe em primeiro lugar. Desenvolvem habilidades interpessoais (soft skills), empatia, capacidade técnica, capacidade de se adaptar e todos os integrantes da equipe vão se encaixando conforme as suas lideranças.
Outro aspecto importante a ser cultivado numa equipe com vários líderes, é desenvolver o sentimento de merecimento, pois é o que vai dar segurança para no momento das decisões. É a convicção de que tudo aquilo que era possível e necessário foi feito da melhor maneira possível, tendo empatia consigo mesmo e os outros para que não haja arrependimentos.
Esse senso de merecimento que faz com que o indivíduo tenha a convicção de que “eu fiz tudo que estava ao meu alcance” é o maior poder que um atleta ou um profissional pode carregar. E o líder fomentar uma régua alta de execução e treinamento entre os liderados a ponto de fazer com que construam essa narrativa pessoal e para o grupo é o maior trunfo para se chegar a uma vitória.
Seguindo o bate-papo, o Bernardinho elencou as principais características de um líder de sucesso, segundo o seu ponto de vista.
As 5 principais características da liderança:
Da conversa pudemos extrair 5 características que o Bernardinho considera as mais importantes a se desenvolver para ser um líder, que são humildade, coragem, curiosidade permanente, consistência e integridade:
01) Humildade
Humildade para aprender que você não sabe tudo e que precisa dos outros. Um aspecto de liderança é que a pessoa líder entende seus liderados, tem humildade, sabe que não é “sabe tudo” e tem a humildade de escutar e de que precisa das pessoas.
Precisamos nos aproximar da nova geração como líderes, tentar compreendê-los, ouvi-los. Também ouvir quem lida com os clientes no dia a dia e ouvir os clientes.
Cada vez que crescemos e nos desenvolvemos, a percepção é de que cada vez sabemos menos. As perguntas melhoram, mas compreendemos que temos uma infinidade de coisas a melhorar e a aprender.
02) Coragem
Coragem de tomar ação. Está com medo vai com medo mesmo. Medo não significa ausência de coragem. A coragem é lidar com os sentimentos negativos e com as incertezas. A coragem de fazer é fundamental num líder, porque é muito mais agradável e menos trabalhoso ficar na zona de conforto. É preciso ter coragem de sair da baía e ir para o mar revolto.
Por isso que eu sempre digo, que você não é líder, você está líder. Precisa estar o tempo todo assumindo a responsabilidade de um líder. É uma prática incessante de coragem.
03) Curiosidade permanente
Curiosidade de aprender, querer evoluir permanentemente, a curiosidade leva a isso. Líder é um lifelong learner e aprender sempre é fundamental. Buscar conhecimento de diferentes fontes e saber compartilhar esse conhecimento com a equipe, instigando a curiosidade constante neles também.
Livros ou vídeos não são os únicos canais de aprendizado. Líderes também aprendem diariamente com a nova geração, buscam se aproximar e criar empatia. Aquele distanciamento que se tinha antigamente já não cabe na nova geração e precisamos aprender com isso.
04) Consistência
Manter a consistência das ações e treinar um pouco mais a cada dia, é o que faz fortalecer a liderança e a equipe, porque o jogo não é a perfeição, mas sim, a busca permanente por ela. Consistência é o que faz você vencer o jogo e firmar a liderança.
Não cobre apenas pela consistência, mas seja o exemplo para que todos o(a) acompanhem.
05) Integridade
O comportamento da pessoa precisa ser ético e moral com integridade, ter uma conduta reta, correta e justa. Integridade é o que gera confiança nas pessoas e é fundamental para que um líder possa realmente inspirar.
Nós todos somos líderes do nosso principal empreendimento, que é a nossa vida. Liderar são as escolhas, a coragem de fazer e assumir riscos, cuidar das pessoas à nossa volta.
Se as suas ações fazem as pessoas à sua volta sonharem, crescerem, quererem aprender mais, então você é líder. Apenas faça isso, inspire pessoas pelas suas ações.
Liderar é para todos, e se você é líder e isso fez sentido para você, comente qual característica é a mais importante para você e curta, caso queira mais bate-papo com grandes líderes por aqui.
Que artigo sensacional!
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3 aFoi sensacional esse bate papo, verdadeira aula!👏🏼👏🏼