O que esperar do ecossistema de startups em 2025 – e os destaques da semana
Dilok Klaisataporn/Getty Images

O que esperar do ecossistema de startups em 2025 – e os destaques da semana

Estamos de volta! Depois de alguns dias de descanso no fim do ano, retornamos com uma newsletter fresquinha para dar início a 2025. Para dar a largada neste novo ciclo, PEGN conversou com agentes do ecossistema de inovação para saber o que podemos esperar neste ano.

Ainda no clima de retrospectiva, trazemos duas matérias para recordar 2024: as maiores rodadas levantadas por startups e as histórias mais lidas no ano passado.

Esta edição também traz uma entrevista com Daniela Binatti, uma das fundadoras da Pismo , fintech vendida para a Visa em 2023 por US$ 1 bilhão.

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Boa leitura!

Por Rebecca Silva


O que esperar de 2025

2024 começou com otimismo, com a sensação de que o pior já havia passado e podíamos esperar um ano mais estável, com o mercado se reaquecendo. Mas, se os números até novembro mostram a recuperação — as startups brasileiras registraram o maior volume de investimento em três anos, US$ 2,34 bilhões —, o cenário macroeconômico ainda causou impactos, principalmente pela retomada no crescimento da taxa de juros e pela alta do dólar, que bateu recorde na cotação.

“Havia expectativa de retomada maior no segundo semestre, com IPO, juros em queda mais acelerada, mas o que temos visto é diferente. Temos uma perspectiva mais desafiadora para impulsionar a movimentação do ecossistema de startups. Essa tendência deve continuar em 2025. Há sinalização para aumento da Selic, o câmbio não tem expectativa de melhora — e muitos fundos aportam em dólar”, destaca Priscila Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital ( ABVCAP ).

A postura de maior diligência para investimentos deve continuar em 2025, apesar de os fundos ainda estarem com capital disponível para alocação (dry powder). Rodrigues ressalta que não há tanta competição pelos deals e que os patamares de valuation estão mais normalizados. “Agora é um bom vintage para quem tem dinheiro. Os empreendedores têm bons modelos de negócios. O ecossistema esteve mais parado em 2023, agora já vemos transações, fundos fazendo suas diligências, mas ainda estão seletivos na alocação”, pontua.

Edson Rigonatti, sócio-fundador da Astella , diz que 2024 foi um ano atípico para a gestora, que optou por fazer apenas reinvestimentos em startups do seu portfólio, sem aportes em novos negócios. “Estamos esperando mais. Antes investimos em pré-seed e seed, e agora preferimos entrar em rodadas seed e Série A para esperar mais maturidade das empresas. Também achamos que alguns valuations ainda estão caros”, comenta. A expectativa é fazer entre cinco e seis investimentos em 2025, com o dry powder do fundo 5 durando até o primeiro semestre de 2026.

“A qualidade das startups tem aumentado vertiginosamente. São empreendedores de segunda ou terceira viagem, com um sonho maior, um time melhor. Tenho uma perspectiva de otimismo a longo prazo. 2024 e 2025 no Brasil devem ser equivalentes a Israel em 2008 e 2009, anos em que começaram a investir mais em empreendedores de segunda viagem e veio o ponto de inflexão do mercado. É super empolgante”, opina Rigonatti.

Para Rodrigues, a configuração do cenário macroeconômico aponta que os unicórnios seguirão raros neste ano. Com juros altos, os investidores são mais receosos. E, como a métrica é conectada ao valuation, se não houver novas grandes rodadas, as startups próximas do título ficam sem a nova avaliação de mercado. Em 2024, apenas uma startup brasileira conquistou o título após ultrapassar o valuation de US$ 1 bilhão, a fintech QI Tech.

“O Brasil não deixou de ser atrativo na criação de modelos de negócio com potencial de ser unicórnio, somos vistos como player global. Mas, no mundo inteiro, os unicórnios serão as startups que realmente mostram que o valor é o que elas têm dentro da companhia e não apenas uma expectativa de futuro, então pode ser mais lento para acontecer”, aponta.

Para os especialistas, a janela de IPOs deve seguir fechada em 2025. A abertura de capital na bolsa é uma opção de saída para os investidores, que recuperam o capital aportado com a valorização da startup ao longo dos anos. Sem essa possibilidade, as saídas acontecem por M&A ou venda da participação para outros fundos e investidores.

“A bolsa brasileira não está cara em dólares, mas o aumento da taxa de juros faz com que o resultado das companhias listadas seja afetado nos próximos anos. O mercado vê um bom preço, mas acredita que pode cair mais. O capital está com tempo para ser paciente. O desafio principal é atração de capital estrangeiro e, para isso, precisamos fazer rodadas maiores, com liquidez diária de milhões de dólares. R$ 500 milhões não são nem US$ 100 milhões. Fundos globais, como Blackrock e Fidelity, não querem fazer cheques pequenos”, opina Rodrigues.

Rigonatti e Rodrigues acreditam que as fintechs devem continuar se destacando. Para o sócio da Astella, fintechs de serviço e de soluções para pequenas e médias empresas devem despontar. “Esse parece ser o grande talento brasileiro, nas mais diversas funcionalidades e setores. É um celeiro gigantesco”, afirma.

A inteligência artificial também se apresenta como oportunidade para novas startups em 2025. “Incumbentes não foram criados com uma mentalidade orientada para a IA, estamos vendo uma série deles tentando acoplar a tecnologia em suas soluções. Isso abre uma oportunidade sem precedentes para novos entrantes trazerem soluções disruptivas ao mercado. Estou animado com soluções tanto verticais quanto horizontais, principalmente na camada da aplicação”, diz Philip Trauer, diretor-gerente de Wayra Brasil e Vivo Ventures .

A dica de Rodrigues para os empreendedores é focar no modelo de negócios. “O Brasil sempre é volátil e cíclico. Nunca existe momento perfeito para começar a empreender. Conheça os desafios que existem hoje e saiba como se adequar. Se o modelo de negócios estiver redondo, atender realmente o cliente, vai ser atrativo para o investidor”, pontua.

Rigonatti concorda: o foco não deve estar no que o investidor vai querer – a indústria de venture capital deve ser vista como um facilitador e não o motivo para empreender. “Dá para criar coisas incríveis com nenhum ou pouco dinheiro. O foco é criar grandes negócios e usar o capital de risco para acelerar, sem depender dessa indústria para dizer como fazer e quando fazer”, finaliza.


Top 10

Os números da Sling Hub mostram que os investimentos em startups brasileiras cresceram em 2024, pela primeira vez em três anos. Os dados até novembro mostram uma recuperação do apetite de investimento nas empresas de base tecnológica: as startups brasileiras captaram US$ 2,34 bilhões em rodadas em troca de equity, um crescimento de 8% em relação a 2023, apesar da queda de 19% na quantidade de deals (436).

"Celebramos 2024 porque o crescimento reflete não apenas um aumento no volume, mas também a maturidade do mercado, com startups atraindo capital estratégico mesmo em um ambiente econômico desafiador", afirmou João Ventura, fundador e CEO da Sling Hub, em nota à imprensa.

PEGN elaborou uma lista com as 10 maiores captações por equity a partir dos dados da Sling Hub. A conversão de dólar para real foi feita com a cotação no momento do fechamento da matéria (US$ 1 = R$ 6,07).

Conheça as 10 maiores rodadas de investimento na matéria publicada em PEGN.


As mais lidas

Ao longo de 2024, PEGN contou histórias inspiradoras, divulgou momentos de captação de recursos e compartilhou anúncios de fusões e aquisições, entre outras notícias. Algumas conquistaram mais os leitores do que outras e, no clima de retrospectiva, reunimos as cinco reportagens mais lidas do ano em uma lista.

Quer conferir quais foram as histórias de maior sucesso em 2024? Aproveite para conhecê-las ou, então, recordá-las pelo link.


Por trás do unicórnio

Daniela Binatti fundou a Pismo em 2016, ao lado da irmã, Juliana Motta, do marido, Marcelo Parise, e do amigo Ricardo Josua. A plataforma de arranjos de pagamento em nuvem permite que bancos modernizem seus produtos e concorram com os nativos digitais. Menos de dez anos depois, a fintech conquistou clientes como BTG, Citibank e Itaú, e alcançou 117 milhões de contas no mundo em agosto de 2024.

No ano passado, a Pismo foi comprada por US$ 1 bilhão pela Visa, tornando-se unicórnio. Binatti conversou com PEGN sobre sua trajetória e compartilhou sua visão para novas empresas de finanças e para mulheres na área de tecnologia. Leia no site.


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