O que eu aprendi em um ano como empreendedor?
Mês passado fez um ano que tomei a decisão de perseguir um sonho de longa data com pessoas que tinham o mesmo objetivo que eu: criar um negócio relevante e disruptivo e com uma mentalidade moderna, pautada em tecnologia e desenvolvimento sustentável. Ah, e claro, capaz de gerar uma independência financeira aos sócios no longo prazo.
Te espanta ler sobre independência financeira já tão cedo nesse artigo? Não deveria. Como eu disse, o propósito aqui não é romantizar o empreendedorismo e sim falar sobre realidade. Não tinha a vida confortável ainda para largar um bom emprego, com bom salário e relativa estabilidade para fazer filantropia.
Mas não me entenda mal, é impossível empreender sem aquele sentimento de que você pode mudar o mundo e ele vem sim em primeiro lugar. Até porque, você precisa ter MUITA consciência de que qualquer retorno financeiro é algo para médio/longo prazo, já que para tracionar sua empresa você precisará reinvestir todo eventual caixa que for gerado no início. E essa é a lição número 1 que aprendi:
1 - Esteja preparado para se comprometer, no mínimo, em um médio prazo. E quantifique esse prazo com TODOS os sócios.
Claro que você pode ser um fenômeno, ter uma ideia FODA , um time incrível e conseguir aportes com um PPT para já iniciar a empresa capitalizado e, quem sabe, recebendo um salário do seu VC. Mas isso é improvável se você for um empreendedor de primeira viagem sem uma grande história de sucesso para contar por trás.
Na maioria dos casos você vai começar quebrado, investindo o próprio dinheiro até ter uma prova de conceito e/ou estrutura mínima para seu negócio girar. Ou seja, vai trocar aquele seu salário que caia direitinho no final de todos os meses por uma despesa que você aposta que pode se pagar no futuro. Por isso, é preciso estar com a vida minimamente estabilizada para tomar essa decisão.
Mas recursos não são infinitos, então tenha claro também quanto tempo você consegue se manter, assumindo que não retirará nenhum pro-labore ou dividendo da empresa. Uma espécie de stop loss. E faça questão de alinhar MUITO BEM isso com os demais sócios, porque esse número vai ser diferente para cada um deles.
2 – Empreender não significa necessariamente criar um unicórnio
Se você abrir um CNPJ e começar a prestar um serviço qualquer, automaticamente você é um empreendedor. Não importa o tipo de negócio, empreender é sobre um mindset de independência, realização profissional e mão na massa.
Então se você tem uma ideia maneira, acha que pode fazer algo melhor do que outra empresa já está fazendo hoje e tem um perfil de risco que te possibilite abrir mão de estabilidade e ir atrás do seu próprio cliente, VAI COM TUDO.
Se for um modelo de negócios escalável, com uma ideia disruptiva, provavelmente você vai conseguir apoio financeiro para colocar de pé e a vida talvez seja mais fácil (ou não). Caso contrário, esteja pronto para colocar seus próprios recursos. Não há demérito nenhum nisso.
3 – É preciso ser muito diligente com os propósitos, habilidades e ambições dos seus sócios.
Quando fundamos a Alado Energy, em fevereiro de 2020, nós éramos 4 sócios. Em junho do mesmo ano, após termos um produto bem definido e a ideia validada por clientes em potencial, eu pedi demissão do meu emprego. No mês seguinte já éramos 3 sócios, sendo que um deles era novo. Ou seja, havíamos perdido 2 e colocado outro. E desde então o quadro já mudou novamente.
Fato é que dois dos primeiros founders não estavam conseguindo dividir a Alado Energy com os empregos que tinham e não podiam abrir mão deles naquele momento. A gente sabia disso, a situação era totalmente compreensível, mas ainda assim não estávamos preparados, até porque um deles era o membro do time com maior conhecimento técnico da operação. Depois conseguimos repor esse gap e tocar o barco.
Ou seja, tenha certeza absoluta que os momentos, propósitos e ambições dos sócios estejam totalmente alinhados. E, principalmente, que as habilidades sejam complementares. Aquela situação poderia ter colocado em xeque a iniciativa.
4 – Melhor estar pronto para pivotar a qualquer momento
Abrimos a empresa um mês antes da pandemia estourar no Brasil e decidimos encarar aquilo como uma oportunidade. Afinal, aquele novo cenário poderia abrir a cabeça de nossos clientes potenciais para transformarem seu modus operandi e considerarem novas ideias, como migrar para o mercado livre de energia e economizar até 30% na conta.
Para nos ajudar, tramitava no congresso um projeto de lei programando a abertura completa do mercado livre de energia até 2024, momento em que eu e você poderemos escolher diretamente quem fornecerá energia para nossos apartamentos, por exemplo. Ou seja, um vasto oceano azul se abriria no prazo de 4 anos para trabalharmos caso o projeto passe, já que atualmente o mercado livre é viável apenas para empresas com consumo acima de mais ou menos R$ 50.000 mensais.
Em tempos de pandemia e ávidas por economia, de fato as empresas estavam dispostas a nos escutar. Foram muitas e muitas reuniões. No entanto, nenhuma estava disposta a comprar o risco de um contrato novo com 5 anos de duração comprometendo-se a adquirir um montante pré-definido de energia.
Diante desse cenário, decidimos então entrar no mercado de geração distribuída com energia solar através de uma parceria muito interessante com a Hum Energia e em paralelo apressar a transformação digital da Alado. Nosso foco sempre foi desenvolver um produto escalável o mais rápido possível. Colocamos então um dev no time e fomos aprovados no programa de aceleração da Light com a Fábrica de Startups.
No fim das contas nosso projeto não foi o escolhido, mas esse programa foi o ponto de inflexão que nos permitiu entrar na incubadora de empresas da Coppe/UFRJ com aquele que já seria o nosso quarto modelo de negócios diferente em poucos meses: a Alado Intel. Não vou me alongar aqui sobre isso, então se quiser saber melhor do que se trata esse projeto, só visitar @aladointel aqui no LinkedIn mesmo ou www.aladointel.com.
Moral da história: é preciso sim ter foco no seu produto, mas é mais necessário ainda ser capaz de entender o cenário completo com agilidade para mudar de direção diante das oportunidades que se apresentam. Resiliência e teimosia são separadas por uma linha tênue e difícil de enxergar, então é fundamental estar atento aos sinais.
5 – Você não é chefe de p*$$& nenhuma
Ser CEO é muito fácil e pode ser alcançado em apenas 2 passos:
I) abra um CNPJ.
II) Se intitule CEO.
Brincadeiras à parte, no fim das contas foi muito importante ter o título de CEO no LinkedIn para conseguir mentorias incríveis e a atenção de pessoas que talvez eu jamais tivesse conseguido. Além, claro, de dar um pouco mais de clareza com relação às atribuições de cada sócio e funcionário para aqueles que estão conhecendo a nossa empresa e olhando de fora.
Agora, no dia a dia, a realidade é muito diferente. Ser CEO na prática, tem significado, além do óbvio (estratégia, cultura, finanças, investidores, etc):
- Passar horas desenhando modelos e planos de negócios
- Mudar tudo no dia seguinte
- Elaborar produtos do zero
- Planejar experiências e jornadas do cliente em cada um deles (recomendo artigo que escrevi sobre CX x CS - link para artigos anteriores lá no rodapé desse post)
- Falhar na implementação por falta de mão e tempo
- Prospectar e atender clientes em todos os canais possíveis e imagináveis
- Desenvolver logos e sites
- Produzir material para redes sociais e campanhas de marketing
- Fechar parcerias
- Receber mentorias
- Preparar MUITOS PPTs
- Ser ignorado por muitas pessoas
- Ser respondido por muitas mais
- Engolir o choro e a ansiedade nos fracassos
- Comemorar loucamente nas vitórias
- Ficar várias noites sem dormir pensando em tudo o que pode dar errado
- Fazer o melhor para tudo dar certo
Enfim, ser CEO tem sido de tudo um pouco, MENOS ser chefe de qualquer coisa. Aliás, se você quer empreender para ser chefe ou trabalhar menos, melhor nem tentar. Importante dizer também que, obviamente, não fiz nada disso sozinho. Seria simplesmente impossível.
Conclusão
Empreender tem sido, então, a experiência de uma vida. Vou criar junto com meus sócios o próximo unicórnio brasileiro? Provavelmente não dessa vez. Vou criar uma empresa de sucesso capaz de gerar empregos e cumprir um propósito importante? Acredito que a Alado chegará nesse ponto sim, sendo eu seu CEO ou não. E se não chegar, me sentirei um fracassado? JAMAIS.
Ao olhar para trás eu só tenho a agradecer ao Gustavo de fevereiro de 2020. Cara, obrigado por ter tido essa coragem e partido com tudo pra cima do seu sonho. Porque certamente se eu tivesse refugado, estaria miserável agora. O pior arrependimento é aquele de não saber o que poderia ter sido se não tivesse tentado.
Obrigado também a todos que já estiveram ou ainda estão comigo nessa caminhada, especialmente a Juliana Arrighi: minha sócia, guerreira, bizarramente competente, pau pra toda obra e DISPARADO a melhor pessoa com a qual já trabalhei!
Voa, Alado!
Software Developer | Ruby on Rails | Javascript | CSS | HTML
3 aNão gosto de choradeira... mas chorei! 😪
Administradora
3 aVocê é f@$# e vai longe... Parabéns 👏
Entrepreneur | Google | Ex-AWS | Supply Chain & Program Management | UNC MBA
3 aExcelente conteudo! Ansioso para aprender mais sobre a Alado Intel!
Head & Founder da Vitaryon | Tornando o RH Estratégico acessível para todas as empresas! | Autor do livro "Talent Acquisition: a evolução do Recrutamento & Seleção Tradicional" | Mentor e Professor
3 aRealista e direto ao ponto, parabéns Gustavo! A realidade de empreender pode ser muito diferente daquele lindo quadro pintado e romantizado. Gostei da parte que vc fala sobre CEO, e a verdade é que não existe CEO em startup, mas o nome ajuda a abrir portas, concordo super.
Operations Manager at Terra Drone Brazil
3 aExcelente texto!