O que eu aprendi trabalhando com um Padre.

O que eu aprendi trabalhando com um Padre.

Quando eu era criança sonhava em ser desenhista. Mais tarde, projetista de carros e depois jogador de basquete. Mas como você pode conferir no meu LinkedIn, deu tudo errado. Entretanto, escolhas profissionais como essas são relativamente comuns para um garoto de 12 anos. Muitos de nós sonhamos em ser astronautas (até conhecer o pujante projeto espacial brasileiro), pilotos de corrida (até saber que não temos dinheiro para tanto) ou até ter uma banda de sucesso (até perceber que "banda" e "sucesso" são palavras que normalmente não caminham juntas).

Mas o fato é que de todos os meus amiguinhos de infância, nenhum queria ser Padre.

E olha que estudei em um colégio de padres com corredores abarrotados deles para dar exemplo. Mesmo assim, essa sempre me pareceu uma carreira impopular. Tão pouco requisitada que a gente nem considera carreira. Como se ser Padre não fosse uma profissão.

Isso é tão verdade que várias palavras são utilizadas para justificar a escolha por esse caminho: vocação, propósito e até chamado divino são referências comuns para justificar o aceite. Palavras tão fortes que dificilmente se escuta um Padre citar outras opções profissionais do tipo “Medicina é legal, mas desmaio quando vejo sangue. Daí virei Padre” ou “Engenharia, eu daria certo em engenharia, mas não gosto de fazer contas. Prefiro Bíblia e virei Padre”. E foram justamente as palavras que justificam as escolhas por ser Padre que me chamaram a atenção. Mal sabia eu que a resposta estaria logo ali.

Há pouco tempo atrás comecei a prestar consultoria em comunicação para um Padre. A primeira vista, um Padre que em seu currículo carregava o dom de cantar e comunicava como poucos. Nada demais para os dias de hoje. Como em qualquer processo de consultoria começamos um cuidadoso diagnóstico nas operações do sacerdote, que administrava também uma associação beneficente e quanto mais eu conhecia aquele Padre, mais eu percebia algo extraordinário: o real sentido da palavra vocação e a força da palavra propósito. 

Explico: se você acha que você trabalha muito porque ontem chegou em casa tarde, você não conhece o Padre. Pra começo de conversa a preparação para essa profissão exige profundo estudo em Teologia e Filosofia e isso é só o começo. Na rotina sacerdotal, são missas múltiplas vezes ao dia, administração da paróquia e atendimentos individuais em época de coaching.

Sim, muito antes do coaching haviam os Padres.

Mas quanto mais eu conhecia o meu cliente em específico, o Padre, mais eu percebia a razão pela qual ele fazia tanto sucesso. Ele ia além. Ele conseguia somar às mandatórias atribuições eclesiásticas, uma rotina de executivo de alta performance com viagens, reuniões de board e decisões como assumir um centro de distribuição próprio ou terceirizar a logística. Um Padre!

A rotina desse profissional tinha agenda calculada nos minutos e se houvesse a oportunidade de encaixar uma reunião entre uma missa e uma gravação de TV, ele o fazia. E era nessa hora que conversávamos. Uma devoção ininterrupta não só Àquele a quem ele serve por natureza, mas um verdadeiro sacerdócio ao trabalho. 24 horas. 7 dias. Tudo com um nível de energia e envolvimento que é difícil de se ver em uma empresa. E quem pensa que um Padre gestor tem fala mansa e exercita o perdão no cotidiano do trabalho está enganado. Como diretor de pulso firme, o Padre cobrava com um nível de exigência proporcional a sua dedicação por aquilo que acreditava.

O resultado disso era uma empresa de mais 250 pessoas com gestão complexa, muita gente competente ao redor e resultados assustadoramente positivos. Apenas para ilustrar, para quem é da comunicação, basta dizer que tivemos no projeto mais de 1.000 novos inscritos por dia no novo canal do Youtube de forma 100% orgânica. Um milagre nos dias de hoje. Graças não a um Padre, mas a um profissional comprometido e obcecado por fazer acontecer e levar sua carreira com excelência. 

O que eu aprendi com um Padre é o verdadeiro sentido da palavra vocação e da palavra propósito, onde vocação é aquele sentimento de estar no lugar certo, fazendo a coisa certa. Que provavelmente não conseguiria fazer outra coisa da vida. Propósito, por sua vez, é o motor que justifica todo e qualquer sacrifício para que, de consciência limpa, possamos comemorar o que conquistamos. Que seja assim nas nossas vidas, como é na do Padre. Amém.

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* Lipsio Carvalho é empresário, publicitário, professor universitário e devoto do trabalho bem feito. www.lipsiocarvalho.com

Luis Henrique Zimmermann

Designer Gráfico | Designer Digital

6 a

Muito bom! 👏🏼👏🏼

Liziane Oliveira Ricken

Marketing & Branding | Agilidade | OKR | Gestão de Projetos

6 a

Adorei o texto!

Danilo Mesquita

Liderança, Produtos, Operações e Tecnologia: ajudo pessoas e empresas a serem mais produtivas e construtivas

6 a

Excelente texto, um diagnóstico muito bom de um mercado e de um profissional que, além de sacerdote, um executivo! Parabéns pelas palavras.

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