O que exigir do seu advogado durante e após a pandemia
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O que exigir do seu advogado durante e após a pandemia

O mundo mudou, já sabemos disso. Os impactos atuais e futuros decorrentes da pandemia afetam, em menor ou maior grau, todos os setores da economia, e o ecossistema jurídico não é imune ao Covid-19.

Lanço, aqui, 5 ideias que, sob a perspectiva do cliente, devem nortear a atuação do advogado durante e após a pandemia.

1. Proximidade

O ambiente jurídico foi criado e é retroalimentado para tornar suas relações profissionais frias, formais e distantes. Os protocolos rigidamente seguidos nas reuniões, a linguagem rebuscada – com destaque para os pomposos pronomes de tratamento –, o terno e a gravata, a obrigatoriedade do uso de blazer pelas mulheres para entrarem nos tribunais, todos são fortes elementos simbólicos da cultura do relacionamento no meio jurídico.

As experiências desenvolvidas durante a pandemia, entretanto, demonstraram que a acessibilidade, a informalidade e a diminuição da burocracia aumentaram o foco nos problemas do cliente e foram diferenciais para superá-los com agilidade. Ele não quer saber se o advogado está impecavelmente bem-vestido ou se o chama de “Vossa Senhoria”. Ele quer saber se o advogado realmente o está ouvindo, genuinamente interessado pelo seu problema e se efetivamente pode contribuir para solucioná-lo.

Esqueça a forma, mergulhe na substância. Exija que o advogado “pegue na sua mão” e resolva seu problema.

“Acredita-se comumente que a missão específica do advogado seja fazer-se ouvir pelos juízes; na realidade, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes.” Piero Calamandrei
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2. Cobrança com métricas claras

Você entende perfeitamente os valores que seu advogado cobra? Ele calcula uma margem de lucro desejável? Ele dá abertura para conversar sobre suas métricas de cobrança?

Muitas vezes a precificação do serviço do advogado está envolto em uma caixa-preta indecifrável. Não é questão de “barato” ou “caro”: é fazer ou não sentido. Ora, se até o bônus do Elon Musk, que pode chegar a 50 bilhões de dólares, tem métricas objetivas e transparentes, qual a razão para um advogado não utilizar parâmetros claros para a cobrança de seus honorários?

O cliente, que viu sua lucratividade devastada pela pandemia, sabe a dificuldade de garantir a qualidade de seus produtos ou serviços e alcançar margem de lucro que viabilize boas remunerações aos seus colaboradores, reinvestimentos no próprio negócio e dividendos àqueles que acreditaram no negócio.

Por isso, é natural que ele exija do seu advogado transparência para conhecer o porquê dos valores cobrados. Como dever de casa, o advogado deve usar métricas claras na estipulação de honorários, até mesmo para justificar descontos ou reajustes.

3. Novas soluções para problemas inéditos

Felizmente, pesquisas recentes comprovam que John Fizherbert estava errado quando disse que “cachorro velho não aprende truque novo”. Nossos pets em idade avançada continuam aprendendo e, para o advogado, essa competência é essencial no nosso “novo normal epidêmico”.

Será necessário que o advogado inove nas argumentações, utilizando sistemática e conjuntamente diversos conhecimentos jurídicos, avaliando e trazendo experiências bem-sucedidas de outros países e de outros setores produtivos, usando conhecimentos da economia, da estatística, da tecnologia da informação e da administração, sobretudo para estar familiarizado com o negócio do cliente.

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4. Conhecimento real do negócio do cliente

Seu advogado é um parceiro do seu negócio? Uma boa formação e conhecimentos verticais de direito empresarial não serão suficientes. O advogado deve conhecer profundamente o negócio de quem representa e a cultura corporativa para sentir o efetivo impacto da pandemia naquela atividade empresarial, saber o que realmente está em jogo quando for demandado a ajudar.

Não faltarão ocasiões em que um contrato “impecável” não servirá justamente porque não mitigará os principais riscos das partes, declarados ou implícitos. Conhecer o chão da fábrica, as pessoas que fazem o negócio girar, a margem financeira do produto ou serviço e as reais expectativas de todos os envolvidos são competências essenciais para que o advogado efetivamente gere o resultado desejado.

5. Riscos compartilhados

O advogado, caso não queira entrar na lista da redução de custos do Covid-19, deve se diferenciar de outros fornecedores de serviços comprovando ser um parceiro estratégico. E a relação que se cria entre parceiros estratégicos é, necessariamente, de comprometimento mútuo e de compartilhamento de riscos.

Embora seja comum na advocacia judicial o compartilhamento dos riscos, com cobranças de honorários vinculadas ao êxito do processo, o advogado deverá ampliar essa prática, acompanhando o sucesso ou insucesso do cliente em diversos atos que ele pratica para mitigar riscos ou viabilizar melhores resultados.

Como exemplo, o advogado poderá, durante momentos de crise, repactuar condições, reavaliar escopo, alterar prazo de vigência e diferir cobranças, tudo em sintonia e em conformidade com o tamanho do impacto nas atividades empresariais do cliente.

O que procurar no advogado, então?

As 5 ideias acima podem, numa primeira leitura, sugerir uma posição acessória do advogado, mas elas indicam exatamente o contrário: o advogado que possuir essas qualidades comprova sua relevância para o cliente.

Ao demonstrar que se importa com o contratante, que está ao seu lado nos piores momentos, que se abre ao explicar suas cobranças, que inova nas soluções, que conhece como poucos a empresa e que está disposto a compartilhar dos riscos que o cliente enfrenta, mostra-se imprescindível e, assim como terá compartilhado os efeitos negativos da pandemia, desfrutará, com protagonismo, dos sucessos vindouros.

Renato Rosenberg

Diretor de Concessões do Serviço Florestal Brasileiro - Director of Concessions of the Brazilian Forest Service

4 a

Sensacional! Visão muito clara sobre o que o cliente (seja público ou privado) espera do seu advogado: compartilhamento de riscos e foco na entrega. Abs

André Castro

Empresário - Advogado - Especialista em Negócios

4 a

Que esse novo cenário sirva para essa necessária evolução da relação adv/cliente. Ouvidos ativos e empatia só tem a agregar na prestação de serviço, na advocacia ainda mais, já que é bastante comum atuarmos simultaneamente como patronos e "psicólogos". Parabéns pelo lexto! Abs

Frederico Rizzo

CEO @Basement. Descomplicando a gestão societária, por um mundo com mais donos e donas.

4 a

Esperançoso para ver advogados utilizando melhor a tecnologia no pós-covid, para se focarem realmente na construção de relacionamentos próximos, profundos e orientados ao longo prazo.

𝗔𝗡𝗗𝗥𝗘 𝗟𝗜𝗠𝗔

O básico bem feito, foco no bem estar do cliente. Mais de 20 anos de área comercial.

4 a

Hahahah...gostei da referência. Better call Saul

Eduardo Rozemberg

Project Management Professional | MBA, Especialista em Segurança Viária, Green Belt

4 a

Meus amigos advogados que se preparem! Rsrsrs... Brincadeira a parte, é fato que existem setores mais resistentes à mudança, porém esse momento de disrupção não permite inércia da parte de ninguém que deseja continuar "vivo" após essa pandemia. Belíssima reflexão!

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