O QUE A EXPERIÊNCIA DO LEAN MANUFACTURING PODE NOS ENSINAR EM UM PERÍODO DE TRANSFORMAÇÃO DIGITAL?

Em meus treinamentos sobre Lean Manufacturing sempre começo falando sobre o contexto histórico da criação da filosofia no Japão e motivos de seu sucesso no país oriental (principalmente na Toyota). Hoje com a transformação digital, o que o Brasil pode extrair do cenário de implementação do Lean em nosso país para se sair vitorioso nessa nova era digital?

Já começo expondo minha opinião sobre como, em geral, sinto que o Brasil adota a filosofia enxuta: Infelizmente, de maneira muito ineficiente.

Digo isso por que, mesmo possuindo muitos profissionais altamente qualificados e experientes no assunto, o percentual de empresas que tiram proveito da filosofia de modo a possuírem um diferencial competitivo é relativamente baixo, de acordo com minhas experiências em empresas que visito e conversando com colegas e alunos (claro que existem exceções).

Sempre digo que é importante conhecer ferramentas utilizadas no Lean, de fato isso é extremamente importante, porem mais importante que isso é entender a cultura que estamos inseridos, conhecer as pessoas e objetivos do negócio e agir estrategicamente quando implementamos iniciativas enxutas nas empresas.

Quando falamos em Lean não estamos falando de máquinas ou equipamentos, estamos falando de pessoas que entendem a filosofia e agem como agentes de transformação nos meios que estão inseridos (mudando outras pessoas e sua mentalidade). E como sempre, quando o assunto é pessoas, uma liderança qualificada se torna fundamental no processo de transformação.

É triste ver que ainda temos dificuldade em fazer uma gestão da mudança de maneira eficiente (alguns acreditam que uma mudança cultural é simples), que nossa liderança não se envolve e muitas vezes não entende a filosofia e seus benefícios, acham que 5S é simplesmente limpar a área de trabalho e que um plano de ação não necessita de planejamento e entendimento do cenário.

Hoje nossa industria sofre as consequências, não somos competitivos a nível mundial, desperdiçamos recursos e temos ainda o famoso custo Brasil para nos ajudar a ficar ainda mais atrás nessa corrida pela competitividade.

Vivemos atualmente um novo período de transformação, o digital, e juntamente com ele novos desafios que devemos entender e colocar em prática o mais assertivamente possível, mas será que estamos preparados? Será que os erros do passado foram aprendidos?

Dentro desse novo cenário de transformação digital, para atingirmos a "Maestria Digital", termo utilizado pelos autores do livro "LIDERANDO NA ERA DIGITAL" (Westerman, Bonnet e McAfee), duas capacidades serão extremamente importantes: CAPACIDADE DIGITAL E CAPACIDADE DE LIDERANÇA.

A capacidade digital se assemelha muito as capacidades de entender e utilizar as ferramentas LEAN, um viés mais operacional, voltado a parte técnica de formação de profissionais capacitados, mas quero chamar a atenção ao líder, que terá novamente papel fundamental neste processo.

Entender o mundo digital, ir além do modismo e criar de fato comprometimento nas pessoas é importantíssimo para que esse potencial se transforme de fato em TRANSFORMAÇÃO. Será necessário mudar o modo como nos relacionamos com os clientes, criando vínculos e entendendo melhor suas necessidades, mudar os processos internamente e externamente à empresa e principalmente mudar a maneira como fazemos negócio, alterando e criando novos modelos.

Não temos opção para errar. Estamos acompanhando nos noticiários as tentativas de reformas que pretendem trazer um cenário mais confiável para o investimento (reforma da previdência e tributária), mas de que irá adiantar um cenário mais confiável se não soubermos aproveitar a oportunidade? O acordo MERCOSUL e UNIÃO EUROPÉIA também irá nos forçar a sermos mais competitivos, e para isso, devemos nos concentrar em sermos líderes de nossos futuros.

Acredito que erramos no passado (e ainda erramos no presente) no modo como lidamos com o LEAN e sua implementação. Agora chegou a hora de aprendermos com nossos erros e sermos mais "cirúrgicos" em nossas ações, principalmente relacionadas a liderança.

Para isso alguns passos são importantes e que gostaria de dividir com os leitores e interessados no assunto:

• Devemos nos familiarizar com as tecnologias digitais e identificar oportunidades, inovarmos os processos, meios de comunicação e entendimento das necessidades dos clientes.
• Identifique como as novas tecnologias podem lhe ajudar com problemas crônicos e se de fato, podem agregar valor ao processo e aos interessados.
• Elabore uma estratégia TOP DOWN, que seja criativa e de fato transforme a a visão da empresa na prática, dando exemplo e que seja participativa.
• Deixe claro os resultados que busca atingir, fornecendo um caminho para os funcionário e deixem que eles tenham a possibilidade de inovar e participar ativamente dessa transformação.

É claro que muitos outros temas devem e deverão ser discutidas durante o processo de transformação, mas se entendermos o papel da liderança e a nossa responsabilidade, criando um ambiente de inovação e de quebra de paradigmas, talvez possamos dizer daqui a alguns anos que realmente aprendemos com os erros do passado.

Gustavo Carvalho Vilela