O que inovação e ESG têm em comum?
Vou trazer minha perspectiva como uma profissional que atua há 12 anos com inovação e que começou a trabalhar no início de 2023 com sustentabilidade e ESG, liderando um projeto de inovação no tema.
Quando me deparo com o tema ESG hoje, sinto como se estivesse em 2012, começando a trabalhar com inovação. Fala-se muito sobre o tema, a palavra tornou-se até uma buzzword. No entanto, muitas pessoas e empresas ainda não compreendem seu significado corretamente e há discussões sobre ser apenas modismo ou algo que veio para ficar.
Em relação à inovação, acredito que vocês vão concordar comigo que foi comprovada a sua necessidade. Vejo que a grande maioria das empresas percebeu que, para se manterem competitivas, é necessário, continuamente, melhorar processos, aperfeiçoar produtos existentes e lançar novos, assim como, em muitos casos, inverter a maneira de desenvolver produtos, colocando o usuário no centro para orientar todo o desenvolvimento.
Quantos anos foram necessários para atingirmos essa maturidade em inovação? Esses avanços só se concretizaram devido aos avanços na legislação e a incentivos financeiros, como recursos de fomento e incentivos fiscais, que impulsionaram nosso progresso — embora ainda limitado em comparação com o nosso potencial. Enquanto o Brasil se posiciona entre as dez maiores economias do mundo, ocupa a 50ª posição no Índice Global de Inovação (GII) de 2024.
No passado, questionava-se muito os investimentos em inovação. Diversas lideranças viam essas iniciativas apenas como despesas, já que, na maioria dos casos, os retornos ocorrem no médio/longo prazo. Discutia-se também a importância da cultura organizacional, pois, mesmo havendo em muitos casos um departamento de inovação, trata-se de um tema transversal, sendo essencial que os colaboradores aceitem as mudanças e, idealmente, comecem a pensar de forma diferente.
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Vejo hoje exatamente esses mesmos questionamentos em relação ao ESG. Muitos líderes ainda enxergam as iniciativas ESG como despesas e não como investimentos. Existe ainda a dificuldade na mudança de cultura para que cada colaborador se engaje no tema e perceba a importância de seu papel nos resultados da empresa.
Vivenciamos hoje um cenário complexo com mudanças climáticas, em que a temperatura média global aumentou cerca de 1,45°C acima dos níveis pré-industriais — valor que coloca o mundo perigosamente próximo do limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris para evitar os piores impactos climáticos —, assim como a desigualdade social, na qual, no Brasil, os 10% mais ricos concentram cerca de 58% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas em torno de 10% dessa renda, colocando o país como o terceiro mais desigual entre 56 nações e onde a concentração de riqueza aumentou 17% nos últimos 15 anos. Essa desigualdade reflete-se no acesso desigual a serviços como saúde, educação e saneamento básico, perpetuando a pobreza e a exclusão social, caso não haja mudança.
Acredito que fica claro que precisamos pensar em quais mudanças cada um de nós pode fazer para que todos possam viver com dignidade.
Mesmo para empresas que ainda não abraçam a causa da sustentabilidade, as exigências legais já demandam e continuarão a demandar um compromisso crescente, incluindo o monitoramento dos impactos ambientais e sociais de suas atividades — não apenas dentro de seus próprios limites, mas ao longo de toda a cadeia de valor.
Sinceramente acredito que, assim como ocorreu com a inovação, as empresas amadurecerão em relação ao ESG e, ao invés de pensarem em “quanto eu gasto com ESG”, passarão a considerar “quanto estou deixando de perder ao investir em ESG”. Afinal, adaptando uma frase do economista Herman Daly, “as empresas são subsidiárias do planeta do qual somos todos proprietários”.
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1 mMaravilhosa reflexão! Parabéns!
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
1 mExcelente!!!