O que levamos de 2022, âncoras ou raízes?
Faço uso da metáfora de Mario Sérgio Cortela. Segundo o escritor, “devemos ter raízes e não âncoras. Raiz alimenta, âncora imobiliza. Quem tem âncora vive a nostalgia, que é uma lembrança que dói, enquanto saudade é uma lembrança que alegra”. O que levaremos de 2022, âncoras ou raízes? Seria uma questão de escolha?
Certamente tivemos dificuldades, talvez algumas perdas e, é provável, que não tenhamos realizado tudo que desejamos. Também tivemos motivos para comemorar e para agradecer, não é mesmo? Quando lembrarmos de 2022, o que virá mais fortemente em nossa mente? Se tivéssemos que dar um título, uma manchete para o ano que termina, qual seria?
Todos conhecemos pessoas que por melhor que tenha sido o ano, dariam destaque a algo negativo. Outras, por mais difícil que tenha sido, dariam ênfase a algo bom que viveram. Trata-se de um modelo mental, que desenvolvemos ao longo da vida, conscientemente ou não. Há, por exemplo, profissões em que o espírito crítico é estimulado e até bem-visto. Talvez seja o caso de jornalistas ou auditores, embora não deseje rotulá-los. Um executivo extremamente severo, que cobra perfeição de seus subordinados e sempre destaca o que está errado, pode ser valorizado na cultura de certas empresas e não em outras, mais adeptas a diferentes de liderança. Há diversos tipos de professores, de médicos, de artistas, cada um com o seu modelo mental que, logicamente, não se limitará à área profissional. Ele se manifestará também nos variados campos da vida e em seus relacionamentos. O nosso modelo mental contribuirá para sermos mais felizes, ou menos felizes. Foi o que Sidarta Gauta, figura central do budismo, já apontava nos seus estudos sobre o sofrimento, por volta de 500 a.c.: ele é causado pelos padrões de comportamento de nossa mente. É o que também é confirmado pelos estudos da psicologia positiva.
Um dos sentimentos que contribuem para a felicidade e para o bem-estar é a gratidão. Também contribui ter um olhar mais positivo sobre as pessoas e sobre as situações, mesmo aquelas que nos trazem mais aprendizado do que prazer ou satisfação. Modelos mentais como o da gratidão e da positividade favorecem a esperança e a resiliência, nos estimulando a buscar caminhos diante de uma dificuldade. Destaco que não estou me referindo à chamada positividade tóxica, que hoje se tornou uma bela desculpa para quem quer reclamar de tudo e da vida.
Mokiti Okada, também ele um estudioso da felicidade, em um de seus ensinamentos, destaca que “vivemos num ilimitado e misterioso, mas ordenado universo, que evolui e reevolui em ciclos. ... Há ciclos de órbitas no céu, ciclos das estações, ciclos do dia e da noite.” A percepção de que os ciclos estão sempre se renovando nos ajuda a lembrar que devemos ter prudência diante do sucesso e que, por outro lado, mesmo diante de uma fase muito difícil, ela não será eterna. Ter esta consciência nos ajuda a adotar comportamentos mentais que nos auxiliam a lidar melhor com o que vier. O que a vida esperará de nós neste próximo ano?
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Não sei você, caro leitor, mas para mim, vejo sempre com otimismo novos ciclos, como um novo trabalho, uma nova cidade, ou um novo ano, por exemplo. Talvez tenhamos que levar algumas âncoras inevitáveis de 2022, mas que levemos muito mais raízes que alimentem o nosso caminho e a esperança em 2023. É o que desejo a você e a todos que nos cercam.
Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching