O que muda nas nossas vidas depois da COP26

O que muda nas nossas vidas depois da COP26

A 26ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, chegou ao fim no último fim de semana, em meio a críticas pelo tom ameno de seu relatório e pela falta de contundência em demandas urgentes. Mesmo assim, depois de duas semanas de negociações, em Glasgow, na Escócia, quase 200 países concordaram em dois pontos importantes: reduzir o uso de carvão e acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis “ineficientes”. Teve também o compromisso de reduzir em 30% a emissão de gás metano (CH4) até 2030.

Como antecipei no artigo sobre as greentechs escolhidas para fazer pitch na conferência, o mundo precisa decidir qual futuro queremos para o nosso planeta, para a nossa geração e às futuras, dos meus filhos, dos seus (se tiver), os de parentes e amigos, de todos nós. Pelo o que li, mesmo ainda não tendo o resultado esperado, as decisões tomadas em Glasgow deverão afetar nossas vidas nos próximos anos.

Segundo reportagem da BBC, a presença de mais carros elétricos nas ruas com preços compatíveis aos movidos à gasolina, diesel e etanol, será uma realidade cada vez mais presente nas ruas nos próximos cinco anos. Não sei se isso inclui o Brasil e países com problemas de infraestrutura. Ter carros elétricos, significa ter postos de abastecimento em toda a malha rodoviária. Sem considerar o impacto que isso trará para o agronegócio, muitas vezes pintado como o vilão da história. O país é o maior fabricante de etanol no mundo, um biocombustível que captura CO2 enquanto está plantado como cana-de-açúcar no campo e que gera energia elétrica a partir do bagaço e da palha. E como lembra bem um artigo do jornal The Guardian, os carros elétricos não são tão verdes quanto imaginamos, uma vez que suas baterias são feitas a partir da mineração de cobalto, lítio e cobre, que são atividades poluidoras e emissoras de CO2.

Continuando no campo energético, uma mudança que está acontecendo, e que deverá ser ampliada nos próximos anos, é a instalação de painéis solares nos telhados das casas e prédios das grandes cidades, com a redução de custos, consequência de um maior estímulo às energias verdes e incentivos fiscais. Conforme a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), até outubro deste ano, o país tinha 800 mil unidades consumidoras de energia com geração própria a partir da fonte solar, um incremento de 450 mil instalações em relação a todo 2020. Como destaca o Infomoney, os “telhados solares” do Brasil geram 7,3 GW (gigawatts) de energia elétrica. Isso equivale a pouco mais da metade (57%) da potência instalada de uma usina de Itaipu, cuja energia elétrica gerada também abastece o Paraguai. Sendo que a energia solar responde por apenas 2% da matriz energética do Brasil, mesmo sendo um país com tanta incidência de luz solar. 

Outra mudança que poderá vir começamos a ver durante a pandemia. Nos primeiros meses, vimos campanhas para incentivar o consumo no comércio local, uma forma de ajudar a manter as portas desses negócios abertas e conservar empregos na vizinhança. Mas práticas como essa também ajudam a mitigar a emissão de CO2. Consumir produtos de origem mais próxima significa menos emissão no trajeto antes de chegar ao vendedor e até ao consumidor final. Provavelmente, veremos um estímulo maior nesse sentido de consumo consciente, o que poderá ter algum impacto nas importações. 

Se o compromisso assinado por mais de 100 países contra o desmatamento das florestas, realmente for cumprido, teremos o bônus de salvar e ampliar as florestas, mas também teremos o ônus de a alimentação se tornar mais cara. O mundo caminha para fechar este século com mais de 10 bilhões de habitantes. Mais pessoas, mais produção de alimentos. Para não desmatar, é preciso investir em tecnologia para aumentar a produtividade agrícola sem desflorestar. As chances desse custo ser repassado para os consumidores são altas.  

Nesse cenário, as greentechs, startups com soluções tecnológicas de combate ao aquecimento global, têm muito a ganhar. Isso porque as mais de 400 instituições financeiras, que estiveram presentes na COP26, afirmaram que vão investir mais em tecnologia verde. Vamos aproveitar esse momento e mudar alguns dos nossos hábitos e cobrar do governo. Do contrário, a conta virá logo, e não será barata.

Marco Antonio FRABETTI

Advogado Empresarial e Professor Universitário na Strong Business School Conveniada FGV

3 a

Nao ficamos. Simples assim. As deliberações adotadas não possuem força de lei. Parafraseando a Greta Thunberg: Só bla, bla, bla.....

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