O que não se fala sobre a Guerra na Síria

O início da guerra aconteceu após as ações de sucesso da Irmandade Islâmica na Líbia e no Egito. Com essas bem sucedidas ações, o próximo alvo seria “outro governo que não estivesse alinhado com os pensamentos e ideais por eles defendidos de um Estado Islâmico totalmente vinculado às suas vertentes religiosas e patrocinadas pelo Golfo Árabe”.

Sim, corrupção e estagnação econômica e política existiam – e ainda existem – devido às sanções, bloqueios econômicos e boicotes que a Síria sofreu das principais potências mundiais - principalmente no que se refere aos EUA, alguns países da Europa e Israel (ou Palestina ocupada) - justamente devido à sua posição anticriação do Estado de Israel, e ainda pela luta pela retomada das Colinas de Golan, território sírio ainda ocupado por Israel.


A guerra civil iniciou-se não apenas como uma guerra civil síria, de sua população contra o seu Estado, mas de uma insurgência encabeçada e proporcionada por estrangeiros contra a população e contra o Estado.

Lembro-me de algumas vezes terem sido divulgadas na mídia imagens de bombas e tiroteios na Líbia, como se fossem na síria, o que não era de fato a realidade. A guerra fomentada pela Irmandade Islâmica foi, e ainda é causada por uma inferência externa contra o Estado Sírio e contra sua população.


A realidade é que esta guerra é muito mais midiática do que podemos sequer pensar. A informação que temos e a maneira como essa informação é veiculada no nosso país, é de total responsabilidade de formadores de opinião que estão interessados que tenhamos o mesmo pensamento que eles. Não que a guerra não seja real, pois é!. Mas a questão que cabe é: até onde a informação é uma reprodução fiel da realidade?

Alguém se recorda que em 2016 houve um processo eleitoral na Síria? Alguém pode acreditar que Bashar el Assad foi reeleito!? Quem consegue se lembrar de matérias na mídia falando sobre este assunto?

Não houve uma ampla divulgação sobre esse fato tão importante e pertinente ao assunto. Mas porque seria, se há uma guerra civil contra o governo e após as eleições, o governo é reeleito? Não seria condizente com tudo o que se vem escutando falar há tantos anos. Então a pergunta que se faz é: o que aconteceu, houve uma farsa? O povo foi forçado a reeleger Bashar el Assad? Foi algum tipo de esquema para apoiar o Governo?


Desculpem-me mas como cidadã síria, sim, reconheço o Governo de Bashar el Assad como sendo legítimo. Tive a oportunidade de visitar aquele lindo país um ano antes do início da guerra, ainda tenho a oportunidade conversar e até conviver com sírios e raras são as exceções que se colocam contra o atual governo. Tenho familiares e conhecidos que vivem na Síria, conhecidos que saíram de lá em busca de melhores oportunidades, e sei de pessoas que foram embora de lá exatamente por causa da guerra, mas se pararmos para pensar, desde quando não recebemos sírios em no Brasil? Qual o tamanho da comunidade árabe-síria aqui? Desde quando as pessoas buscam oportunidades em outros países? É um movimento contínuo, é resultado da globalização.

O apoio da Rússia, do Líbano, da Turquia e do Irã ao governo sírio não se deve somente à estratégia geopolítica, mas por todos estes estarem alinhados aos interesses antisionistas, por todos quererem lutar contra o domínio político-econômico estadunidense, sendo estes, reflexos das sanções e ataques sofridos ao longo das últimas décadas.

A guerra continua e, infelizmente, continuará ainda por muito tempo. Pelo meu ponto de vista – e, por favor, entenda que este texto trata-se apenas da minha opinião, levando em consideração um pequeno conhecimento de causa - se não houver um momento em que o Estado Islâmico deixe o país, ou que a Síria deixe de sofrer interferências de outros Estados e finalmente passe a se autogovernar novamente, essa guerra não cessará. Essa interferência internacional armada, somada à atuação do brutal Estado Islâmico, unidas à atuação midiática dos veículos informativos, são a combinação perfeita para a manutenção de um Estado frágil e deteriorado como a atual Síria. É um longo caminho a se percorrer e o futuro ainda é muito incerto, entretanto não podemos esquecer que muitas vidas são perdidas diariamente, e a luta não pode parar até que se possa voltar à liberdade.


Bom dia Rukaia. Primeiramente, quero te parabenizar pelo artigo. Nós, aqui deste lado do ocidente, muitas vezes (e me incluo nesse grupo) não compreendemos o porquê dessas "guerras santas" e essa pequena explanação sobre o assunto começa a nos dar outra visão daquela realidade. Se me permite, vou fazer como o Eduardo Elias - vou "roubar" seu artigo e publicá-lo em minha página no Facebook. Um grande abraço!

Renata Nached Serhal

Varejo - Gerente Regional de Operações - Drogarias e Postos de Combustível no Carrefour.

8 a

Artigo perfeito, inteligente, histórico, político, sensível e extremamente educador !!! Parabéns Rukaia!!! 😘

Eduardo Elias

PRESIDENTE na FEARAB-SP [FEDERAÇÃO DE ENTIDADES ÁRABES BRASILEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO.

8 a

Estou roubando, merece ser publicada no facebook, nem vou esperar autorização. kkkkkkk

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