O que nos motiva?
Depende.
Numa busca rápida pela internet, você pode encontrar 'N' motivações, com os mais diferentes fundamentos e sustentações para cada uma delas. Errados não estão, com certeza.
Há algum tempo, li uma obra intitulada de Motivação 3.0 escrita por Daniel Pink. O cara é bom, mas precisei ler esse livro três vezes e meia (desisti na metade da primeira vez) devido a quantidade de pesquisas e informações sobre o tema que ele trata.
Não contente em levar uma surra pra entender o que ele (o Daniel) quis dizer no decorrer de todo esse livro, resolvi ainda falar sobre as ideias dele numa apresentação na empresa em que eu trabalho. Foi ótimo, pois consegui de fato entender pra valer como funciona (na teoria) a motivação do ser humano quando envolto num ambiente pelo qual ele precisa obter determinado resultado. Além da obra, precisei ir um pouco mais além. Tive que dar uma passada pela neurociência, psicanálise, psicologia, administração, matemática e, como tive a genuína ideia de falar sobre o livro, pesquisei também um pouco sobre técnicas de respiração para falar em público.
Nesse livro, a base é simples: a motivação evolui com o tempo, de acordo com o meio onde o ser humano está inserido e suas necessidades. Então, começamos lá na pré história com a motivação 1.0.
Nesse período, o principal motivador daquele pessoal era basicamente não ser devorado por um dos predadores da época e não morrer de sede ou fome. Em resumo: ficar vivo.
A motivação 2.0 já vem num sentido um pouco mais complexo. O Daniel cita que nessa evolução, passamos a nos preocupar além da nossa sobrevivência, mas também em obter um pouco de prazer e fugir, com toda força, de punições. Nos conceitos de administração possivelmente você ouviu falar na teoria da cenoura e do chicote - e essa é a motivação 2.0. Motivadores extrínsecos para obter um resultado melhor, sendo esse motivador positivo (recompensa) ou negativo (punição).
Vários experimentos e várias pesquisas no decorrer do tempo ocorreram até que chegaram numa conclusão: recompensas extrínsecas direcionadas para atividades que requeiram a mais rudimentar atividade cognitiva prejudicavam o desempenho, indo contra os princípios da 2.0. Eu sei, eu também achei isso bizarro.
Em umas das pesquisas expostas no decorrer do livro, há uma visualização muito clara dessa ideia. Ele chama de teste da vela mas você pode encontrar também algo sobre Fixação Funcional. Se o seu foco está na recompensa e não na atividade, seu desempenho pode ser pior quando, por exemplo, não há recompensa ou você não tenha ciência que ela venha a ocorrer.
Depois de toda essa imersão sobre recompensas e atividades heurísticas em comparação com as algorítmicas (quase a metade do livro), chegamos na motivação 3.0.
Nesse ponto, temos três pilares: autonomia, excelência e propósito.
Qual o motivo de haver autonomia em atividades heurísticas? É simples: o ser humano precisa criar, e para criar, é preciso ter autonomia, ter direção, ser protagonista no ambiente o qual ele ou a atividade que ele desempenha se encontram.
Ter autonomia é ser protagonista e para ser protagonista, é preciso autonomia.
Qual o motivo da excelência ser um pilar da motivação 3.0?
Fazer algo de grandes proporções e fazê-lo bem feito é uma busca eterna e incansável da humanidade, que está sempre em processo de superação. Em qualquer que seja a atividade, do estagiário ao diretor, a busca por bons resultados estão intrinsecamente ligadas a execuções de tarefas com maestria.
Ok, e o propósito?
O ser humano paga de individualista, mas na realidade é um coração mole. A busca pelo propósito é algo que vem de muito tempo, e nada mais é que fazer o que se faz por algo maior que si mesmo. Pode ser por Deus, pela natureza, pela família, pelo senso de pertencimento à empresa, por reconhecimento... não há limites para a criação de um propósito. As empresas podem lançar no ar uma ideia do que seria um propósito em comum para seus colaboradores, mas nunca instituí-lo como regra, pois arriscaria criar um efeito reverso.
É preciso nascer do coletivo, indo de encontro ao individual. É aquela velha máxima do "vestir a camisa".
Alguns autores já falam na motivação 4.0, mas particularmente acho que ela vai nascer só depois dessa pandemia. Daqui um tempo conversamos sobre ela.
Resumo do livro apresentado, e agora?
Aqui pensando depois de algumas boas semanas da minha apresentação e da minha terceira leitura do livro, percebo que não evoluímos em nossas motivações, mas permeamos um caminhar incansável através de todas elas. Não é possível atrelar um motivador de sobrevivência como há milhões de anos (1.0), sendo que em pleno ano de 2020 temos um incontável e entristecedor número de pessoas na mesma situação.
Motivar-se num trabalho sem reconhecimento é totalmente limitador e não há dúvidas que em breve, haverá um cansaço e uma nova busca por ares mais genuínos. Não ser reconhecido também é uma forma de punição.
Por fim, uma reflexão simples: como você vai buscar um propósito estando com fome? A sua autonomia vai ser direcionada para montar um pratão de comida e a excelência vai ser comer tudo que você colocou lá pra evitar desperdício.
As motivações coexistem. É preciso saber em qual nível você, sua equipe, sua família, seu par ou seja lá quem for, esteja, para que aí sim seja possível motivar da forma mais adequada.
É sempre bom lembrar que motivação, motiva. Para motivar, deve-se estar motivado e para isso, o autoconhecimento será a ferramenta principal.