O que as Olimpíadas deixam de lição para o futuro do esporte feminino no Brasil?
A 33ª edição dos Jogos Olímpicos chegou ao fim no último domingo (11/08), mas o protagonismo feminino visto em Paris seguirá vivo em nossas memórias por um longo tempo. Se na edição precursora das Olimpíadas modernas, realizada em 1896, na Grécia, as mulheres eram proibidas de participar, elas chegaram à França com uma representatividade jamais vista.
Desde as dez estátuas de mulheres marcantes da história francesa erguidas no Rio Sena ao longo da cerimônia de abertura das Olimpíadas, até o ineditismo da premiação das medalhistas da maratona feminina durante o encerramento da competição no Stade de France, foram muitos os momentos de exaltação do empoderamento feminino.
E quando voltamos o olhar às atletas que defenderam as cores do nosso país durante os Jogos Olímpicos, esses episódios são ainda mais especiais.
Das 20 medalhas do Time Brasil na Cidade Luz, 12 foram conquistadas por mulheres. Entre elas, Beatriz Sousa do judô, Rebeca Andrade da ginástica artística e Ana Patrícia e Duda do vôlei de praia, que subiram ao lugar mais alto do pódio e emocionaram a todos com suas vitórias e discursos de grande representatividade.
Mas é importante observarmos esses resultados também como uma oportunidade de reflexão sobre os desafios para alcançarmos a igualdade de gênero no esporte brasileiro. E as mudanças precisam começar na base. Não me refiro às categorias de formação de novos atletas, mas na base da nossa própria sociedade: as crianças e adolescentes.
Historicamente, as mulheres encontram barreiras culturais e sociais para desenvolver suas habilidades esportivas, enquanto os homens são estimulados, desde sempre, a treinar ou competir. A prática do futebol feminino no Brasil, por exemplo, foi proibida por mais de quarenta anos no século XX, de 1941 a 1983!
Precisamos incentivar as jovens brasileiras a construírem uma nova relação com as atividades esportivas, marcada, cada vez mais, pelo protagonismo feminino. Esforços que, sem dúvidas, precisam ser conduzidos pelo poder público. Mas que não só podem, como devem, ser liderados também pelas organizações. Exemplo disso, tiramos das nossas próprias atletas de ouro em Paris, talentos revelados por projetos sociais.
Para atingir as metas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, plano de ação global para acelerar o alcance do desenvolvimento sustentável, é necessário o envolvimento de todos os setores em um objetivo comum: construir um futuro melhor para as próximas gerações.
O investimento global em ESG pode chegar ao patamar de US$ 53 trilhões até 2025 e, com tamanha vocação para o esporte, o Brasil deve destinar cada vez mais recursos ao desenvolvimento de projetos e programas sociais que integrem a igualdade de gênero a essa temática. Um caminho que deve ser trilhado por empresas, institutos e fundações.
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Diante da importância de grandes competições internacionais a serem disputadas no país, como a próxima Copa do Mundo de Futebol Feminino, em 2027, é preciso mergulhar mais profundamente nessas reflexões. No Instituto Neoenergia, instituição em que estou atuando como diretora-presidente, o incentivo à agenda de integração da mulher ao esporte já é uma prioridade.
Neste ano, lançamos o nosso primeiro edital de investimento, por meio de leis de incentivo, em projetos de esporte feminino de qualquer modalidade conduzidos por Organizações da Sociedade Civil (OSC) em municípios da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo e no Distrito Federal. O Jogando Juntas, que concederá até R$ 500 mil às iniciativas selecionadas para estimular o empoderamento de mulheres.
Ao desfrutarem de um cenário em que o esporte feminino receba oportunidades e investimentos à altura do masculino, sejam públicos ou privados, nossas meninas crescerão em um novo contexto. Uma realidade de igualdade de gênero sonhada pela nadadora Maria Lenk, a primeira brasileira a participar das Olimpíadas, em Los Angeles, em 1932.
Sem dúvida, o Investimento Social Privado (ISP) poderá contribuir muito para o alcance desse futuro ainda distante. No entanto, hoje, o esporte recebe apenas 20% dos recursos de ISP das organizações do Brasil, dado que chama a atenção para a necessidade de irmos ainda mais além.
Para lazer ou competir em alto rendimento, o esporte é um meio de transformação social. E não atingiremos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 sem associá-lo às pautas relacionadas aos direitos das mulheres. Celebremos Paris 2024, mas não esqueçamos os desafios e barreiras a serem vencidos.
Que números positivos, como o recorde de 55% de participação feminina na delegação do Comitê Olímpico do Brasil (COB) que levou as mulheres a serem maioria entre os representantes do nosso país nos Jogos Olímpicos pela primeira vez na história, sejam cada vez mais a regra ao invés de exceções.
Parabéns às brasileiras que tão bem representaram a nossa bandeira na França. Especialmente, às embaixadoras da Neoenergia Antonia Silva, do futebol, Ana Marcela, da maratona aquática e Tota Magalhães, do ciclismo estrada, parte de um time de atletas vitoriosas apoiadas pela companhia, que encoraja outras mulheres a ampliarem sua conexão com o esporte.
O futuro é feminino!
*Artigo assinado por Renata Chadas, Diretora-Presidente do Instituto Neoenergia.