O que realmente constrói a alta performance?

O que realmente constrói a alta performance?

Insights valiosos a partir do cérebro de atletas olímpicos

Confesso que a busca pelo profissional de alta performance às vezes me cansa. Não porque não acredito na capacidade de termos times que atendam a esses parâmetros, mas porque, muitas vezes, isso se confunde com práticas prejudiciais a esse objetivo. Confunde-se com profissionais que trabalham muitas horas ou que estão sobrecarregados de tarefas; nem sempre há tempo para feedback, quem dirá para o desenvolvimento, além de pouco tempo para descanso e relaxamento… Nada disso é compatível com formar times de alta performance. 

Mas vamos ao que de fato me trouxe a inspiração para este texto.

Em breve, as Olimpíadas começarão e já estou animadíssima, pois amo acompanhar essas competições! Para falar mais sobre os atletas que chegaram à maior premiação esportiva e sonho de tantos esportistas, o Fantástico iniciou uma série de reportagens com o objetivo de desvendar o cérebro dos atletas. O primeiro episódio, que foi ao ar no dia 30 de junho, já me chamou a atenção. Claro que sempre que falam de cérebro, já fico interessada. Mas, além disso a Rosamaria, jogadora de vôlei da seleção, é uma das atletas desse primeiro episódio. O vôlei é uma paixão desta que vos fala!

Nessa reportagem, eles analisam a capacidade dos atletas de acompanharem jogadas rápidas, anteciparem o que o adversário está fazendo e agirem de acordo. Ao mostrar os experimentos realizados, discutem também o desenvolvimento cerebral desses atletas que alcançaram a alta performance. Mas essa capacidade de alto rendimento não é exclusividade dos atletas. Todos nós podemos alcançar alta performance naquilo que fazemos, mas é preciso entender o que é necessário para isso e o que é a alta performance.

Um profissional de alta performance é reconhecido por ter um comportamento acima da média, sendo produtivo e superando as expectativas da liderança, conforme descreve este artigo da Alura. Em outro artigo, a Zendesk menciona profissionais que assumem mais responsabilidade, concluem suas tarefas com êxito e continuam se desenvolvendo profissionalmente. Esses artigos também destacam as habilidades desses profissionais: comprometimento com o resultado, produtividade, comunicação, capacidade analítica, e tomada de decisão, entre outras. Ou seja, ser um profissional de alta performance quer dizer realizar as tarefas de forma cada vez melhor e mais eficiente (bem diferente de trabalhar horas e horas a fio). 

A busca por esse profissional e a formação de times pautados nesses princípios têm se tornado cada vez mais relevantes diante dos desafios do mundo atual. Em um mundo rápido, onde as coisas mudam o tempo todo e situações inesperadas acontecem, esses profissionais se destacam pela capacidade de lidar com esse ambiente volátil que pede rápidas reações. Mas como desenvolvemos essas habilidades com a excelência que a alta performance e o mundo ao nosso redor exige?

Voltemos aos atletas e à reportagem do Fantástico. Quando analisam os comportamentos dos atletas e trazem conhecimentos da neurociência que embasam a alta capacidade de antecipar e responder aos desafios, a reportagem destaca processos cerebrais essenciais para a formação desses atletas. Esses mesmos processos são fundamentais para potencializar a alta performance dos profissionais nas organizações. A partir desse primeiro episódio, destaquei três processos que podemos identificar ao desvendar o cérebro dos atletas estudados:

  1. Treinamento e experiência: A repetição é grande parte do cotidiano dos atletas e o extenso treinamento é um dos segredos. Nós, espectadores dos espetáculos esportivos, ouvimos o quanto esses atletas se dedicaram a realizar as mesmas tarefas e movimentos repetidamente. Além disso, quanto mais tempo o atleta passa em competições de alto nível, mais essas habilidades são treinadas no contexto aplicado. A repetição e exposição a essas vivências são essenciais para a consolidação da memória implícita relacionada às situações e movimentos, favorecendo a resposta rápida e automática necessária naquele segundo que pode fazer toda a diferença no resultado. Os olhos do atleta Ygor Coelho, do badminton, por exemplo, já estão treinados para acompanhar a bola, independente da rapidez. Assim, ele reage a esse estímulo que, para nós, passa voando!
  2. Reconhecimento de padrões: Estudar o esporte, as técnicas mais utilizadas, os times ou adversários permite a criação de um repertório sobre os possíveis desafios e desfechos que podem surgir em situações específicas. A partir desse conhecimento, nosso cérebro, que é uma máquina de realizar previsões, tem material para reconhecer os padrões que antecedem o comportamento adversário e os possíveis desfechos. Esse repertório permite que nosso comportamento se ajuste diante das possibilidades. Em conjunto com o treinamento, temos como resultado a automatização de comportamentos. Por isso, mesmo no escuro, a jogadora de vôlei Rosamaria Montibeller consegue estar na posição esperada na quadra e realizar o movimento adequado para a defesa do saque. Com pouca informação, ela já consegue antecipar o que provavelmente vem a seguir.
  3. Empatia: A empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, seja compartilhando suas emoções ou sua perspectiva e ponto de vista. Durante as competições, os atletas praticam a empatia o tempo todo. O que será que essa pessoa fará agora? Como ela está se sentindo? O que deve estar pensando? O que o movimento que está fazendo agora me diz? Todas essas informações ajudam a reconhecer padrões e preparar a resposta adequada para o que virá a seguir. É através da empatia que conseguimos imaginar o que aquela pessoa está sentindo, pensando qual deve ser seu provável próximo passo para nos adaptar ou nos preparar para a melhor reação. Quando a tenista Luisa Stefani realiza sua tarefa, ela pergunta: “Pode olhar o contexto, né?”. Esse contexto importa, pois é uma informação crucial para imaginar e se preparar para a jogada da pessoa adversária e, sem ele, podemos ter uma resposta pouco eficiente.

A verdade é que daria para ficar horas falando desses atletas e dos exemplos que podemos aplicar aos desafios do cotidiano (guardadas as devidas proporções, claro!). Ao elucidar esses “segredos”, podemos reavaliar como formamos nossos profissionais e identificar se estamos apoiando o desenvolvimento que permitirá chegar a essa tal alta performance. Afinal, teremos profissionais de alta performance sem tempo para treinar? A exposição a um evento uma única vez é suficiente ou deveríamos criar repetições? Estamos tendo tempo para estudar os padrões ou treinando a habilidade empática que nos permite ler o contexto? 

Ou será que estamos apenas confusos com o que é ser alta performance, como mencionei no início do texto? Fica aqui o meu questionamento.

(E quem sabe não vem outra inspiração olímpica por aí para seguirmos olhando para esses processos, hein!)

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