O que o robô que operou meu pai me ensinou sobre equidade

Olá! Sou a Luciana Cattony e tenho aprendido muito com as interações aqui no LinkedIn e com o trabalho que executamos na consultoria Maternidade nas Empresas. O propósito dessa newsletter é refletir - com a sua ajuda (ninguém é nada sozinho!) - como podemos nos fortalecer enquanto agentes de transformação.

As últimas semanas foram conturbadas por aqui. Meu pai foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino. Tudo muito rápido e espantoso. Para nossa surpresa, a cirurgia indicada foi uma cirurgia robótica. Quem diria que chegaria a época em que um robô realizaria até as mais complexas cirurgias? Para mim, em minha inocência infantil, o máximo que veria seria algo como a "Rosie", a empregada robô da família Jetsons - que cozinhava e ajudava as personagens a se vestirem. Mas realizar uma cirurgia - e no meu pai ainda por cima, nunca havia pensado nesta possibilidade: muito moderno e ao mesmo tempo assustador.

>> Imagem: O robô cirurgião Da Vinci

Neste meio tempo fui conhecendo melhor a “máquina” que operaria o meu pai e confesso que me deu uma “segurançazinha” e uma certa simpatia quando soube que o robô se chamava “Da Vinci”. Quem não é fã do gênio?

O sistema cirúrgico da Vinci, da Intuitive Surgical, é a plataforma robótica mais utilizada em todo o mundo que revolucionou os procedimentos minimamente invasivos. Além de possibilitar o acesso a órgãos internos, sem grandes incisões no corpo do paciente, o robô oferece muito mais estabilidade e precisão durante a cirurgia devido às ferramentas altamente tecnológicas que o compõem. 

Apesar de todos esses avanços, o sistema cirúrgico da Vinci funciona de forma totalmente dependente da ação e do controle do médico - ou médica cirurgiã, para realizar um procedimento.

TECNOLOGIA HUMANIZADA?

>> Imagem: Baymax - o agente pessoal de saúde - personagem Disney

É a tecnologia aliada ao humano. E falando em cirurgias, algo que mexe tanto com a vida das pessoas, ficou ainda mais evidente a importância da harmonia entre os valores femininos e masculinos, presentes em todas as pessoas, para a excelência do tratamento e promoção do bem-estar dos pacientes e seus familiares.

Do que adianta somente o foco, resultado, ordem, lógica, razão, estabilidade - valores relacionados ao masculino  - sem a colaboração, atenção aos detalhes, cuidado, delicadeza e sobretudo a empatia - valores relacionados ao feminino - e tão importantes em momentos de fragilidade, como nas enfermidades, por exemplo?

É preciso que a sociedade e as empresas entendam que não faz sentido enxergar o masculino e o feminino como forças independentes ou avulsas. A potência está na sua interação. No livro Difference Works: Improving Retention, Productivity and Profitability through Inclusion, Caroline Turner afirma que quando um ambiente é dominado por abordagens unicamente masculinas ou unicamente femininas, as desvantagens de cada tipo de abordagem acabam emergindo.

Neste contexto que experimentei nos últimos dias, a harmonia entre o masculino e feminino fez realçar o que de melhor existe em cada tipo de abordagem; proporcionando um espaço seguro para pacientes, suas famílias e também para a equipe médica, fazendo com que todas as pessoas se sintam respeitadas e à vontade para serem quem são, expondo suas ideias, emoções e vulnerabilidades.

O QUE FAZ EQUIPES INCRÍVEIS?

Em 2016, o Google montou um estudo para descobrir as características das equipes mais incríveis. Chamado de "Projeto Aristóteles", o levantamento se baseou em centenas de entrevistas com funcionários e na análise de dados de mais de 100 equipes de trabalho da empresa. Algumas conclusões:

1. As melhores equipes são aquelas onde há respeito às emoções das pessoas e os integrantes estão conscientes de que todos devem contribuir com a conversa. 
2. Mais importante do que quem está na equipe é a forma como as pessoas interagem. 
3. Outra descoberta importante deste estudo foi a importância do conceito de “segurança psicológica”, com a construção de um ambiente em que todos os membros se sintam à vontade de expressar suas ideias sem medo de que qualquer pessoa seja humilhada frente ao grupo. 

Percebam que essas descobertas valem para todos os setores da vida.

TRANSFORMAR, AGRADECER E RENASCER

Somos protagonistas. Podemos - a todo momento - agir para que transformações positivas aconteçam em nós mesmos e na sociedade. Experimentei isso na prática, também no contexto da cirurgia. 

Aproveito para agradecer Dr Rodrigo Gomes pela humanidade, empatia e toda “tecnologia” presente em suas mãos, o anestesista Rodolfo Araújo e a enfermeira Michelle Andreia de Carvalho Jesus, que demonstraram além de toda capacitação técnica, uma delicadeza ímpar e um olhar empático e cuidadoso. Agradeço também ao cativante enfermeiro Anderson Jose Guimarães (13o. andar), que demonstrou empatia, alegria e paixão pelo que faz. Obrigada à minha mãe Consolação e minha querida família, cada pessoa com suas fortalezas e um amor incondicional que fizeram total diferença para que passássemos este momento da forma mais equilibrada possível. Obrigada ao Dr. Henrique Salvador pela assistência e disponibilidade e a todas as pessoas do Hospital Materdei de Belo Horizonte, que com carinho realizaram suas tarefas, desde a limpeza até os trâmites burocráticos.

Agradeço também a todas as amigas e amigos que estiveram conosco nesse momento. Como vocês fizeram diferença! E voltando à importância de um espaço seguro para que possamos mostrar nossa vulnerabilidade, agradeço também ao Grupo SHE pela acolhida, pelo afeto recebido e por tanta empatia e sororidade. Esse momento difícil me fez enxergar a beleza que habita nas pessoas que nem mesmo conheço pessoalmente. Expor a minha vulnerabilidade me proporcionou novas e lindas conexões. 

É preciso estar aberto ao mundo para poder renascer. E podemos sim renascer todos os dias, nas mais variadas situações da vida. Pensando nisso, agradeço também a autora Carla Madeira que me inspirou para além da sua obra “Tudo é Rio”.

Obrigada aos cientistas, artistas, filósofos, pesquisadores, pensadores que contribuíram e contribuem com curiosidade, transformação e tamanha inspiração.

"Quando você tiver provado a sensação de voar, andará na terra com os olhos voltados para o céu, onde esteve e para onde desejará voltar." Leonardo Da Vinci

NA SAÚDE E NA DOENÇA

Equidade de gênero, diz respeito justamente a este equilíbrio entre os valores femininos e masculinos, que estão presentes em todas as pessoas. Um mundo mais justo, igualitário e feliz passa por esse equilíbrio, dentro dos hospitais, das empresas e dentro de nossas próprias casas.

E o meu pai? Ah o meu pai… um ser humano incrível, a melhor pessoa que já conheci… Ele passa muito bem. Muito obrigada! <3 Já está em casa se recuperando, ou melhor, renascendo e transformando a cada dia. Vivendo um dia de cada vez, como deve ser. Obrigada pai pelos infinitos ensinamentos que você me proporciona, na saúde e na doença.

>> Imagem: Na saída do Hospital: meu pai - Luiz Sávio, minha irmã - Denise e eu na frente de um dos banners que ilustram o robô no hospital. (Já olho pra eles com todo afeto do mundo!)

SOLTA O SOM!

E como nessa news, tudo acaba em música, deixo por aqui um “ingrediente” que não pode faltar na vida: a fé! Que possamos andar com fé, pois "a fé não costuma faiá!" 

Certo ou errado até | A fé vai onde quer que eu vá | Oh oh | A pé ou de avião | Mesmo a quem não tem fé | A fé costuma acompanhar | Oh oh | Pelo sim, pelo não | Andá com fé eu vou | Que a fé não costuma faiá

Desejo muita saúde e alegrias para você e todas as pessoas que você quer bem. E que sigamos com fé, um dia de cada vez, renascendo e transformando. Beijos com carinho, Luciana :)