O que torna uma pessoa um grande líder?

O que torna uma pessoa um grande líder?

A pergunta título desse artigo, é na verdade uma das perguntas que respondo com mais frequência. Para responder a essa pergunta, recorro à várias pesquisas recentes e sobretudo à um excepcional livro lançado nos idos de 1995 e um dos meus favoritos: Inteligência Emocional, do autor Daniel Goleman. 

Neste livro o autor descreve cinco domínios da Inteligência Emocional: Autoconsciência, Autorregulação (gerenciamento das suas emoções), Motivação, Empatia e Habilidades sociais. Afirmo sem a menor dúvida de que os melhores gestores são aqueles que estão continuamente desenvolvendo estas cinco competências que, na minha visão, em seu conjunto são mais determinantes do que qualquer competência técnica para posições de gestão e liderança.

Neste artigo, vou trazer a minha visão e também a minha experiência sobre como cada uma dessas 05 competências se manifesta na prática.

  1. Autoconsciência - Conhecer suas emoções

Essa é a competência ligada ao reconhecimento e entendimento das nossas emoções. 

Em uma das minhas palestras, conto sobre os diversos erros que cometi na minha carreira de executivo (e principalmente o que aprendi com eles). Um dos meus grandes aprendizados foi entender melhor as minhas emoções a aprender a diferenciar autoconfiança de arrogância. 

Costumo dizer que elas são como irmãos gêmeos univitelinos: de longe, são muito parecidos, mas quando olhamos (ou sentimos) bem de perto, percebemos as suas diferenças e principalmente os impactos completamente diferentes nas decisões que tomamos e consequentemente nos resultados que obtemos a partir destas decisões. 

Algumas vezes errei quando as coisas estavam indo bem, metas sendo batidas e ultrapassadas e uma certa “euforia” tomava conta silenciosamente de mim e das minhas equipes. Não é incomum equipes vencedoras perderem um pouco o foco, a disciplina, a atenção aos detalhes e, sobretudo, a humildade para continuar aprendendo e melhorando todos os dias, justamente todos fatores que a levaram aos resultados positivos. 

O técnico de vôlei Bernardinho – extremamente vitorioso – nos seus tempos de treinador das seleções feminina e masculina, era obcecado com o que chamava de “armadilha das vitórias". Ele dizia que o vice-campeão, saia da competição com a visão clara de que havia a necessidade de corrigir e melhorar alguns ou vários aspectos. Mas o grande trabalho era do líder/gestor da equipe campeã, que precisava garantir que essa não iria se acomodar com a vitória e também buscaria por aprendizados e pontos de melhoria. Em negócios, não enxergar que em time que está ganhado também se mexe, pode ser fatal.

2. Autorregulação - Gerenciar as emoções

É através do desenvolvimento dessa competência que aprendemos a controlar nossos impulsos e emoções.

Em negócios, onde querer não é poder, a liderança precisa desenvolver muito essa competência, para ser capaz de controlar emoções e impulsos que podem ser nocivos para a saúde de empresa no médio e longo prazos. Um exemplo clássico é o tema do crescimento, todos querem crescer as suas vendas, mas a questão é: todos podem crescer? 

Será que os empresários e executivos estão realmente preparados para encarar as dores do crescimento? Criar uma oportunidade de negócio, atender à uma necessidade (conhecida ou não) de um mercado potencial, ou entrar em um setor já estabelecido com uma oferta de valor super competitiva, são todos ingredientes necessários para gerar vendas e receitas. Porém, algumas perguntas importantes devem ser feitas para avaliar o real potencial de crescimento de uma empresa, como por exemplo: 

  • Estamos preparados para atender aquele cliente que nos demanda um prazo de pagamento muito superior aos prazos que conseguimos dos nossos fornecedores?
  • Teremos recursos financeiros para financiar o crescimento dos estoques, que naturalmente acompanha o crescimento das vendas? 
  • Internamente temos processos e uma governança que nos permita gerenciar bem um número maior de clientes sem perder a qualidade e nível de serviço? 

Como consultor, um dos meus maiores desafios é “frear” a ambição de curto prazo de alguns clientes. É muito comum os empresários super estimarem o que podem fazer no curto prazo e subestimarem o que pode ser alcançado no médio e longo prazos, com uma estratégia realmente robusta e um planejamento consistente. 

Precisamos nos policiar para diferenciarmos com serenidade uma visão positiva do futuro x um otimismo exagerado. As vezes, ao querermos (ou precisarmos) demais de um resultado, um crescimento dos negócios, perdemos a clareza de analisar os fatos como eles são. São nestes momentos que nos comprometemos com investimentos e despesas altas demais, que podem comprometer seriamente o futuro da empresa.

3. Motivação: desejo de buscar metas com entusiasmo

O sentimento de realização, que conquistamos ao atingir uma meta ambiciosa, é uma das emoções mais fortes que um profissional pode ter durante a sua jornada. O gestor que consegue criar um ambiente em que as pessoas vibrem ao conquistarem juntas (e essa é uma palavra-chave) as metas da empresa ou do departamento, está vários passos à frente do seu concorrente. 

No ambiente corporativo, a conquista de hoje reforça a autoestima coletiva, a confiança de que resultados excepcionais são possíveis (o que não quer dizer fáceis) quando uma boa estratégia é acompanhada de uma ótima execução e trabalho em equipe. 

Quando os resultados começam a ser conquistados e valorizados, as metas deixam de ser um problema, mas algo desejado por todos. O bom gestor não cobra apenas os resultados das suas equipes, pois sabe que cobrar por cobrar, raramente é uma maneira eficaz para obter resultados, sobretudo no longo prazo. O bom gestor cobra o resultado, mas também a execução do plano de ação acordado em conjunto. 

Finalmente, o mais importante: se coloca à serviço da sua equipe, como um apoiador. Uma meta ambiciosa traz, além de resultados econômicos, conhecimento para a organização e motivação para equipe.

4. Empatia: a competência de entender as emoções dos outros

As pessoas se motivam e se desmotivam por causas diferentes. Uma mesma pessoa, na medida que vai amadurecendo, muda as suas prioridades profissionais e pessoais. 

Um bom gestor precisa estar continuamente “antenado” para as emoções dos outros e para as suas motivações. As ferramentas formais, como avaliações de desempenho, sessões de estabelecimento de metas, feedback, etc., são todas excelentes oportunidades para compreender as emoções dos outros. 

Porém, um bom líder vai além, desenvolvendo práticas como a escuta ativa, que significa estar atento não somente ao que é falado, mas também ao que não é falado. Trata-se de promover um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para externar tranquilamente as suas opiniões e emoções. 

A ponte para chegar a este ambiente é a relação de confiança. Aqui não há meio termo. E a competência da empatia é fundamental para a construção da confiança, pois leva o gestor a realmente se colocar no lugar do outro, sem qualquer tipo de julgamento e pré-conceitos, para criar meios para que o colaborador possa colocar à disposição da empresa o que tem de melhor.

5. Habilidades sociais: competência de encontrar uma base comum e desenvolver relacionamentos profissionais

Nas empresas, principalmente as de médio e grande porte, é comum termos uma apresentação “Institucional” das mesmas. Normalmente um pouco do histórico, a visão, a missão, os valores, principais clientes, etc. Estas mensagens constam muitas vezes no site das empresas, bem como nas apresentações que são feitas para diversos públicos, como novos funcionários, parceiros comerciais, instituições financeiras, imprensa, etc. 

Em uma ocasião, quando eu ainda ocupava a posição de Presidente da Chrysler do Brasil, fui visitar um grande cliente, na realidade, fui visitar e aprender, pois tratava-se (imagino que ainda hoje seja o caso) de uma das melhores operações que tínhamos no país, tanto em termos de participação de mercado, satisfação dos clientes e rentabilidade. 

Tal não foi a minha surpresa, que logo no primeiro slide da apresentação, a empresa apresentava a lista dos seus parceiros comerciais, por tempo de relacionamento! Empresa XYZ, 35 anos. Empresa WWW, 33 anos...e por aí vai. Em um primeiro momento, fiquei positivamente surpreso. Em seguida, me dei conta de que ali estava um dos mais fortes diferenciais competitivos deste grupo extremamente bem sucedido: o quanto eles valorizavam os relacionamentos ganha ganha e de longo prazo com todos os seus funcionários e parceiros comerciais. A capacidade de desenvolver relacionamentos tanto entre pessoas, quanto entre parceiros comerciais, é um dos maiores ativos e legados que um gestor pode deixar para a sua equipe.

Finalizo essa reflexão sobre a importância da Inteligência Emocional, com uma afirmação que pude comprovar na prática: desenvolver a inteligência emocional dos gestores e dos colaboradores aumenta a lucratividade das empresas.

Não fui apenas eu que pude comprovar isso, um estudo de 1999 mostrou que sócios numa empresa de consultoria que tinham um QE (Quociente de Inteligência Emocional) mais elevado, davam US$ 1,2 milhão a mais de lucro que os outros sócios. Outros estudos mostraram correlações similares entre QE e eficácia. O equilíbrio emocional, ao que tudo indica, é um fator-chave no sucesso comercial.

A inteligência emocional pode (e precisa) ser desenvolvida. O primeiro passo é compreender profundamente a sua importância. A partir daí, como indivíduo, tornar a gestão da sua inteligência emocional uma prioridade e como gestor, priorizar isso nas oportunidades de desenvolvimento da sua equipe e no seu processo de seleção de novos talentos. Quanto mais desenvolvermos estas competências através de bons hábitos diários, melhores resultados conseguiremos enquanto gestores. 

E você, como se auto avalia em termos de Inteligência Emocional? Já tem planos de desenvolvimento bem traçados para aumentar estas competências fundamentais para o seu sucesso e entrega de resultados?

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