O QUE UM TUMOR E UMA CIRURGIA ME ENSINARAM SOBRE CONTROLE
Acervo pessoal

O QUE UM TUMOR E UMA CIRURGIA ME ENSINARAM SOBRE CONTROLE

Já senti medo muitas vezes na vida, mas essa foi bem diferente. Um medo realmente ameaçador, um cenário totalmente desconhecido e fora do meu controle. Os últimos 6 meses da minha vida foram intensos, com sentimentos montanha russa, bolas no estômago e também muitos, mas muitos aprendizados.

Em Setembro de 2023, durante o check up que faço anualmente, foi identificado que um nódulo no mediastino. Questionei ao Dr. Flávio o que era. O mediastino é um espaço entre os pulmões onde se encontram órgãos como coração, timo (onde estava meu tumor), traquéia, esôfago, diversas artérias, veias e terminações nervosas. Como havia dobrado de tamanho, fui orientado a consultar um cirurgião torácico, o Dr. Ribas. Ele me informou que a maioria dos tumores nessa região são benignos mas que, como o meu estava crescendo, ele poderia atrapalhar os órgãos e estruturas próximas. Combinamos de acompanhar por mais 3 meses e, se continuasse crescendo, teria que ser retirado via uma cirurgia robótica (obrigado pesquisadores e tecnologia!).

Consegui me manter tranquilo entre setembro e janeiro, quando fiz nova tomografia e foi detectado que o tumor continuou crescendo. O Dr. Ribas então deu o veredicto: "melhor operarmos agora pois, se continuar crescendo, pode lhe causar problemas mais sérios no futuro. Vamos fazer agora que você é jovem e saudável". Confesso que a parte do jovem e saudável me fez sair bem da consulta, risos.

Foram quase dois meses entre a decisão e a cirurgia. Dois meses que, se tivesse que resumir em apenas uma frase, ela seria: Marcelo, aprenda, de uma vez por todas, que você não tem controle! Isso foi ficando mais claro a cada dia que passava. Minha primeira reação, como marinheiro de primeira viagem sendo submetido a uma cirurgia, foi o medo. Mas medo de que? Diria que alguns.

  • Medo de ficar inconsciente após tomar a anestesia (o maior deles)
  • Medo de morrer
  • Medo de deixar as pessoas que "dependem" de mim
  • Medo do pós cirúrgico
  • Medo da dor 

Fiquei pensando e, mais do que isso, me deixando sentir tudo isso ao longo de alguns dias quando me caiu a grande ficha (essa é para quem usava orelhão). Não era sobre medo, e sim sobre CONTROLE. Eu estava diante de uma situação desconhecida e sob a qual não poderia fazer nada, a não ser comparecer ao hospital no dia 11/03. Essa constatação retirou os medos que citei anteriormente? Com certeza não! Eles continuaram por ali, mas passei a tratá-los de forma mais consciente, uma vez que sabia a real origem deles - o controle e não a cirurgia. 

O que me ajudou, em muito, em todo esse processo foi ter compartilhado esses sentimentos com as pessoas que eu gosto e que me apoiavam, cada um da sua maneira, para que os dias fossem ficando mais leves. Cada nova conversa me gerava um conforto, um acolhimento, mostrando, uma vez mais, o poder das relações como instrumento de cura. Certamente esse foi meu principal remédio, pré e pós cirúrgico. Familiares e amigos estavam ali, enviando boas energias a todo momento. 

Vista de Peruibe - 04/04/2024

Assim foi até alguns dias antes. Quando me dei conta que faltava menos de uma semana, uma sensação de falta de energia e esgotamento tomou conta de mim. Aquela ansiedade deu lugar a uma apatia. Conversei com a Luiza e decidi que passaria alguns dias antes da cirurgia em Peruibe, meu refúgio desde criança, para me centrar, colocar os pés na areia, tomar banho de sol e mar. Fui sozinho, aflito, com medo, mas fui. E foi uma decisão muito acertada. Cheguei no domingo à noite e, na segunda pela manhã, a primeira coisa que fiz foi pegar a bicicleta e ir até o Costão, uma praia entre o morro e o rio, tranquila e excelente para aquietar a mente. Quando criança ia lá sempre correndo, tomava um banho de bica e retornava com a bike a toda velocidade. Desta vez, esse mesmo local me propiciou uma sensação de conexão, de desaceleração de pensamentos, de quietude. Retornei a São Paulo um pouco mais tranquilo. 

O procedimento foi realizado na segunda-feira seguinte e, confesso, o final de semana foi tenso e intenso. Muitas conversas, visitas de amigos, meditação, prática de Magnified Healing. Tinha medo de como eu acordaria, minha reação ao chegar no hospital, como seria aquele momento em que você sai de maca do quarto para o centro cirúrgico.  

Enfim chegou o dia e, para minha surpresa e alegria, acordei muito bem, tranquilo e com muita confiança. As horas antes do procedimento foram calmas e consegui me manter em um estado de apenas aceitar o que estava acontecendo como o fluxo que a vida havia me trazido naquele momento. Sem julgamentos, sem medo, sem culpas e, acima de tudo, deixando o controle de lado. A sensação que tive é que os dois meses anteriores tinham ocorrido de forma a me deixar em um estado emocional equilibrado no dia da cirurgia, abrindo caminho para que os médicos e todos os demais profissionais de saúde envolvidos realizassem seu trabalho. 

Enfim chegou o momento, O "Uber", como a enfermeira brincou, chegou para me buscar e fui ao centro cirúrgico. Um trajeto de alguns andares de elevador, mas que parecia bem longo. Puxei assunto com a moça que estava pilotando a maca, com a ascensorista e fui recebido por um enfermeiro muito atencioso e bem humorado que me conduziu até a mesa de operação. Lembro-me de alguns detalhes e do momento que o Dr. Bernard, o anestesista, me disse "você vai sentir uma tontura". Fechei os olhos e me permiti deixar o controle de lado, bem naquele momento que eu tanto temia. Mesmo antes de ficar inconsciente com a anestesia, havia tomado essa decisão. Estava em um lugar tranquilo da mente e do coração, unido com muitas pessoas queridas. 

Acordei, cerca de 3:30 depois, com o Dr. Bernard ao meu lado, e uma sensação de muita tranquilidade, acolhimento e sem medo. Ele foi atualizando a Luiza de todos os passos da cirurgia, o que também tranquilizou e reconfortou quem estava aguardando. Refletindo alguns dias depois, percebi que o evento que mais havia me deixado ansioso e aflito, o da anestesia, foi o que me passou a maior sensação de conforto. São os paradoxos da vida. Ou suas lições…

Algum tempo depois (ainda grogue risos), retornei ao quarto, onde a Luiza, meu pai e minha madrasta me esperavam. Logo pedi o celular para mandar mensagem às pessoas queridas, àquelas que me mandaram tanta energia. Algumas mensagens sem muito sentido racional, mas com todo sentido emocional daquele momento.

Tive alta um dia antes do previsto e o processo de recuperação vem sendo bom. Outra percepção que tive é que, mesmo inconscientemente, estava me preparando para esse processo. A prática de Kung Fu, onde trabalhamos muito o core e a base vem me auxiliando nos movimentos e, certamente, na recuperação rápida. Percebi, na prática, o quanto ter uma boa saúde faz diferença. Iniciei também as práticas de Magnified Healing (posso falar mais para quem tiver interesse) que auxiliam muito o equilíbrio emocional e energético. Os processos de cuidado espiritual que, por tanto tempo deixei abandonados em minha vida, hoje são fundamentais para meu equilíbrio. 

Hoje percebo que a confiança na vida, no amor e nas pessoas nos leva a um lugar bem mais seguro que o medo e o controle e, por mais contraditório que possa parecer, abrir mão do controle é a melhor forma de aumentar nossa sensação de segurança.

Jean Makdissi

MSc FGV | Professor de Marketing, Varejo & E-commerce na FGV, USP & ESECOM | Empresário | Conselheiro

9 m

Uma ótima recuperação amigo! Abraços

Rondon, não sabia que tinha passado por esse susto, bom saber que já passou e esta se recuperando bem! Gde abco

Cláudia Porto

Empresária Industrial |Executiva de Finanças e Controladoria | Consultoria e Assessoria em Gestão | Trainer | Coach | Mentora | Palestrante

9 m

Que bom amigo que deu tudo certo! Gratidão por compartilhar!! Vc sabe que virei terapeuta, não vivo mais sem meditação, mudei muito tb ... Saúde e mais expansão de consciência do ser completo, sagrado e poderoso que somos!! Paz e luz amigo! 🙏🌷

Luiz Augusto Andrade

Sr. Regional Head - Corporate - Banco de Atacado - BMG

9 m

Texto e experiências únicas. Muito obrigado por compartilhar. Desejo que siga se recuperando muito bem e plenamente. Um grande abraço

Pensando en ti. Cuidate.

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