O que vem ai que vai afetar os seus negócios

O que vem ai que vai afetar os seus negócios

Vários são os motivos que farão as cadeias globais de valor – agrícolas, minerais, industriais, financeiras, tecnológicas e de serviços – se modificarem nos próximos anos. O travamento de cadeias no início da pandemia (devido aos lockdowns e fechamento de portos e fronteiras) e a atual dificuldade de abastecimento de itens importantes para as atividades econômicas – vidro, papelão, alumínio, embalagens, entre outros – mostra o quão sensíveis e expostos estão os negócios ao ambiente externo de atuação da empresa.

São fontes principais dessa mudança:

1)    A crise climática e a pressão ESG (environmental, social and governance).

Torna-se cada vez mais evidente que o desenvolvimento de negócios nas cadeias produtivas irá levar em consideração aspectos socioambientais da própria cadeia. Citam-se, como exemplo, produtores do agronegócio que estão passando por escrutínios de suas práticas por parte dos clientes (sejam esses varejistas, cadeias de restaurantes ou mesmo indústrias de processamento), ou mesmo o setor mineral, que está sendo cobrado por financiadores a consolidar a mineração sustentável.

É um jogo de repasses de pressão: A sociedade, em especial na Europa e EUA, cobra por práticas mais responsáveis em relação ao meio ambiente e questões sociais. Essa cobrança se direciona a políticos (que implementam acordos e regulações, repassando assim a responsabilidade), empresas varejistas e industriais (que mudam práticas próprias e repassam controle e ação a seus fornecedores e parceiros), e a investidores, acionistas e financiadores (que repassam essas cobranças às empresas e negócios investidos ou financiados).

Ou seja, a empresa ou negócio que está no meio da cadeia recebe a pressão e repassa, com a possibilidade de alterar o quadro de fornecedores e parceiros; quem está na ponta recebe a pressão e altera a prática, sob o risco de perder clientes.

No Brasil, esse efeito vai além do agronegócio (como já bastante conhecido que varejistas internacionais estão selecionando, cobrando e bloqueando fornecedores de proteínas e grãos), mas engloba também o setor financeiro, infraestrutura, energia e indústria:

- No setor financeiro, cada vez mais bancos e fundos irão responder (e repassar) questões socioambientais de seus financiamentos e investimentos. Assim, como exemplo, operações de crédito para frigoríficos sem o devido rastreio da origem dos animais, ou investimentos em energia fóssil poderão ser rareados.

- Na área de infraestrutura, o pacote financeiro já virá com condicionantes e controles de questões socioambientais bem mais rígidos que os já previstos nos licenciamentos formais e regulatórios. O financiador / investidor (seja ela do mercado de capitais, fundos de pensão, fundos institucionais, empréstimos internacionais ou mesmo bancos locais) irá restringir financiamento para empreendimentos “marrons”.

- Na indústria, além do controle sobre seus fornecedores, e ações próprias nas plantas produtivas, a busca por mercados consumidores menos rígidos no olhar socioambiental irá também prevalecer.

2)    Aspectos Geopolíticos – EUA, China e o resto do mundo

As tensões comerciais e geopolíticas entre EUA e China irão continuar, mesmo após Joe Biden tomar posse. A base da disputa – tecnologia e empresas tecnológicas, dados, internet e 5G – poderá afetar a cadeia (de fornecedores e consumidores) de empresas e setores com negócios, equipamentos, softwares e tecnologias expostas.

Nesse sentido, países e empresas irão buscar mercados e ambientes que lhe gerem certa neutralidade ou menor impacto diante das disputas das duas grandes potências. Por isso, Acemoglu acredita que o mundo pode se tornar “quadripolar” - com a União Europeia e um conjunto de países emergentes equilibrando esse jogo geopolítico.

No entanto, o recém fechado acordo de cooperação econômica e comercial entre os países da Ásia e Pacífico (RCEP) pode alterar de maneira central a dinâmica econômica internacional e o desenvolvimento das cadeias globais de valor. Por isso mesmo, a UE deve reforçar seu relacionamento com os EUA (Biden seria aberto para isso) deixando o “resto do mundo” na órbita de um desses dois arranjos (RCEP e EUA-EU).

Ao Brasil / Mercosul, tanto a não operacionalização do acordo Mercosul-EU como uma certa sinofobia do governo federal tornam a região isolada em termos de abertura de novas frentes comerciais e de investimento, e tendo que resguardar e proteger seu papel de fornecedor de produtos primários para o mercado RCEP.

Por isso para o Brasil, o impacto nas cadeias de valor locais – e a baixa inserção nas cadeias globais – deve ser o reforço do mercado regional (tanto para vendas quanto para suprimentos), a necessidade de compliance ambiental (para operacionalizar o acordo Mercosul-EU), e a busca de triangulação comercial na Ásia e Pacifico para o manter os negócios atuais em produtos primários para a China.

Assim, são afetados os setores industriais (máquinas, eletrônicos, químico e petroquímico, automotivo), bem como o setor agropecuário e mineral.

3)    Outros temas para próximo artigo

Esses dois temas acima são os principais drivers dessa reformulação – no entanto, outros fatores de alteração das cadeias globais de valor no pós pandemia serão tratados em um próximo artigo, tais como aumento da automação e digitalização, diversificação de bases de suprimento, novo desenho logístico comercial global e a efetividade das ações de países e dos pacotes de salvamento no processo de recuperação econômica. 

Importante, assim, destacar que os negócios estão expostos a essas alterações e que, portanto, o devido monitoramento e avaliação de impacto sobre a empresa, bem como ações estratégicas para aproveitar oportunidades ou mitigar riscos é fundamental para transitar nesse redesenho. 

Barbara Panseri

Gerente de Educação na Fundação Lemann

4 a

Muito boa a leitura! 👏🏼

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