O que você obtém com o “perfeccionismo”?

O que você obtém com o “perfeccionismo”?

Frequentemente, identifico em seis a cada dez Coachees (cliente de Coaching), que possuem como principal sabotador atuante em suas vidas, a crença do perfeccionismo. Tal característica atitudinal, prima pela auto cobrança, excelência, exatidão e correção na execução de suas tarefas e atitudes, sejam elas, pessoais ou profissionais.

Algum problema com isso? Sim! Quando seu nível de exigência pessoal torna-se muito elevado em função da crença - “necessidade” de auto superação constante. O comportamento persecutório, advindo da crença, gera desgaste emocional, insatisfação crônica, sentimento de menos valia, insegurança, gasto de tempo excessivo: relendo, recalculando, checando mínimos detalhes do trabalho inúmeras vezes à exaustão, causando sofrimento e culpa pela postergação de suas entregas.

O curioso é que pessoas que perseguem o “perfeccionismo”, afirmam categoricamente, não acreditarem em perfeição. No entanto, assumem viver em função do conceito em que não acreditam. Paradoxal! Ficam surpresos com tal constatação, pois afirmam não perceberem o fato em função de estarem focados em atingir os altos padrões auto impostos para se sentirem saciados e seguros. Resultados esses, dificilmente obtidos, pois alguns afirmam ouvir uma voz interna dizendo: poderia ter ficado melhor, se eu tivesse mais tempo! E assim se reinicia o ritual da eterna insatisfação com seus feitos.

Forte evidência: alguma vez na vida você chorou por tirar uma nota 9 ou ficar em segundo lugar em uma competição (e sentiu-se inconformado)? Caso afirmativo, é bem provável que você acredite em perfeição e atue regido pela crença, como um perfeccionista.

Existe certa tendência na cultura brasileira em recompensar perfeccionistas devido à sua insistência em estabelecer altos padrões e pela busca incansável para atingi-los. Vale lembrar que: O ótimo é inimigo do bom! – Melhor o feito do que o bem feito! Pense nisso de forma estratégica para sua vida pessoal e profissional.

Perfeccionistas possuem alta energia e desempenho, mas nem sempre entregam e atingem o resultado no tempo necessário, além do custo emocional dessa auto exigência por “performance”, geralmente resultar em infelicidade e insatisfação crônica - frustração.

"Ao tentar alcançar as estrelas, os perfeccionistas podem acabar apenas correndo atrás do vento”, segundo o psicólogo David Burns na revista Psychology Today-1980.

Principais diferenças atitudinais entre os perfís:

PERFECCIONISTA: Se frustra quando erra; Quer e busca 100% de excelência em tudo; Foca no resultado perfeito; Procrastina até ficar perfeito; Ama o perfeito.

DILIGENTE: Persiste quando erra; Busca pela melhoria contínua; Foca na melhor execução; Executa tarefas com prontidão; Ama o que faz.

Observe alguns sinais de que o perfeccionismo está te prejudicando.

Sempre tentando agradar os outros - O perfeccionismo pode iniciar na infância e muitas vezes é um comportamento observado e modelado dos pais. Os “perfeitos” aprendem a viver de acordo com a crença - “Eu realizo tudo com excelência, logo eu sou o melhor”, mas nada lhes traz maior satisfação do que impressionar os outros, ou a si mesmo, com o seu desempenho. O fato é que, viver perseguindo a excelência em tudo o que faz, pode resultar em uma vida de constante autoquestionamento e frustração.

Tem consciência que a busca pelo perfeccionismo o prejudica em seu cotidiano, mas acredita que isso é apenas o preço a ser pago para obter sucesso - O estereótipo do perfeccionista é de alguém disposto a fazer de tudo para não ser comum ou medíocre. É a pessoa que acredita e segue a mentalidade “No pain, No gain”, em sua busca pela excelência inatingível.

Nem sempre os perfeccionistas tem alto desempenho e são frequentemente associados à dedicação excessiva ao trabalho, prática conhecida como workaholic.

É um procrastinador – O perfeccionismo é irônico, pois apesar de servir como motivador pessoal para alcançar o sucesso, ele age justamente como o comportamento que impede a pessoa de obtê-lo, devido à inação (referente às decisões paralisantes) e a falta de praticidade.

O perfeccionismo está intimamente ligado ao medo de errar (o que não é um aspecto motivador), e a comportamentos de auto sabotagem, como a procrastinação excessiva, pela falta de controle das variáveis ou do medo de errar.

É altamente crítico com outras pessoas - Julgar os outros é um mecanismo de defesa psicológica bastante comum: nós rejeitamos nos outros o que não aceitamos em nós mesmos. Os perfeccionistas são pessoas altamente criteriosas e poucos escapam ao seu olhar crítico. Em contrapartida, são muito frágeis quando criticados, uma simples opinião de terceiro sobre algo que ele realizou e, que poderia ser feito de outra forma, pode ser suficiente para deprimi-lo.

Visão radical da vida – (É tudo ou nada) - Alguns perfeccionistas lutam com o pensamento radical e fatalista - preto-e-branco. Num momento obtém sucesso e no próximo já é um derrotado, pois vivem nos extremos da dualidade dessa crença.

O perfeccionista só se envolve inteiramente em um novo projeto/ tarefa, caso julgue existir grande oportunidade de ser bem-sucedido. Caso haja risco eminente de dar errado, provavelmente não se envolverá. Sente verdadeira aversão ao risco, fato que inibe a criatividade e a inovação.

Dificuldade em se abrir com outras pessoas – O perfeccionismo nos impede de estabelecer um verdadeiro relacionamento com outras pessoas, devido à autocritica constante e excessiva, questionamento quanto ao merecimento, julgamentos comparativos e o medo de ser rejeitado, caso não seja o melhor na relação e/ ou agrade ao outro.

O perfeccionista sente dificuldade em se expor ou mostrar-se vulnerável, em função de seu medo de falhar ou mesmo ser rejeitado por não ser o melhor ou o mais adequado para uma determinada situação.

"Com a falta de uma fonte profunda e sólida de autoestima, as falhas afetam os perfeccionistas de forma bastante séria e podem levar a crises prolongadas de depressão e afastamento para algumas pessoas”, segundo Springer.

Levar tudo para o lado pessoal - Consideram cada obstáculo e crítica como uma falha pessoal e, tendem a ser menos resilientes do que as demais pessoas. O perfeccionista não reage e supera os obstáculos e erros, sente-se derrotado, pois considera cada falha como evidência do medo que continuamente o assombra - Eu não sou bom o bastante!

Resistente - fica na defensiva quando é criticado - Facilmente identificamos os perfeccionistas numa conversa pela maneira como eles se defendem de qualquer crítica, por menor que seja. Visam preservar a autoimagem frágil, sua aparência perante os outros e tentam controlar a situação se defendendo de qualquer ameaça externa que os deixem vulneráveis.

Constata que nunca "atinge o seu objetivo" totalmente – Alguns acreditam que a perfeição é utópica, uma condição inatingível em sua essência. Os perfeccionistas invariavelmente sentem a sensação de que ainda não atingiram seu objetivo totalmente e que sempre falta alguma coisa.

Tem uma alma culpada - Perfeccionistas são constantemente assombrados por sentimentos de culpa e de vergonha. O impulso pela perfeição geralmente nasce na esfera social, através do sentimento da pressão externa para ser bem-sucedido, resultando em forte relação com a ocorrência de: depressão, ansiedade, vergonha e culpa.

"É uma forma de pensar e sentir que diz: ‘Se eu tiver uma aparência perfeita, se eu fizer do jeito perfeito, se trabalhar e viver da maneira perfeita, eu posso evitar ou minimizar a vergonha, a culpa e o julgamento’”, segundo Brené Brown.

Como combater o perfeccionismo? Reconheça e aceite sua condição de humano comum - “normal”, vulnerável, falível e que aprende com e através de seus erros diários. A partir dai, interaja com os outros exatamente como você é – imperfeito! Permita-se relacionar-se com as pessoas sem a fantasia (Super Homem ou Mulher Maravilha), e abra mão da armadura “protetora” do perfeccionismo para que você possa expressar sua vulnerabilidade singular e ser muito mais feliz.

Marcio Caldellas – Psicólogo clínico, Personal, Career & Executive Coach certificado pela Sociedade Brasileira de Coaching e BCI – Behavioral Coaching Institute – USA. Sólida carreira desenvolvida em Executive Search como Headhunter atuando com posições executivas. www.mccoaching.net

Acho que ninguem em sam consciência questionaria o fato de que ser perfeccionista é uma coisa ruim... Mesmo assim, eu me pergunto como não ser perfeccionista em tempos tão voláteis no mercado de trabalho? É uma linha tênue entre ser bom no que nos propomos a fazer, no cunho de nossa formaçao e ser taxado de perfeccionista...

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