O que você quer ser quando crescer?

O que você quer ser quando crescer?

O COMEÇO DE TUDO


Com 13 anos eu era um moleque que vivia uma vida simples no interior de SP, só brincava e tinha como um dos hobbies pescar com meu avô no rio da cidade. Tanto que aprendi a confeccionar redes de pesca onde ficava dias produzindo para uso na pescaria.

Até que um dia uma tia minha apareceu em casa dizendo para minha mãe que me levaria para fazer uma entrevista na empresa que ela trabalhava. Ela era a principal secretária executiva da diretoria. Era na International Paper (antiga Champion Papel e Celulose), uma multinacional no interior de SP. Fui contratado, entrei como office-boy aos 14 anos de idade. Através dela conquistei meus estudos até chegar à universidade.

Como analista de estoques, em uma época onde tudo era em papel, registrávamos e escrevíamos muito, não havia computadores. Por volta de 1986 fui em busca de uma novidade: estudar “tecnologia da informação” e só havia uma escola na região que investiu nessa matéria, a FEG – Fundação Educacional Guaçuana. Tive que prestar um vestibular para entrar nesse curso na escola, pois haviam poucas vagas e muita procura e passei como um dos 40 alunos. O curso era sobre tecnologias, computadores e principalmente programação em sistemas como Cobol, Basic, linguagem C. Isso me gabaritou na International Paper, já sendo um Analista Administrativo, a ser um dos colaboradores de uma equipe que iniciou a implantação de computadores na empresa. Tive a oportunidade de ajudar na instalação, estruturação e no treinamento da maioria dos colaboradores da empresa. Uma honra, para um garoto de apenas 17 anos!!

Uma curiosidade: em 2018 vendo um relato no Facebook do Carlos Wizard, executivo hoje de um conglomerado de empresas e que se destacou como fundador da rede Wizard Idiomas, ele mencionou uma viagem que fez ao interior para mostrar ao filho onde iniciou toda sua carreira – era na antiga “Vila Champion”, uma vila em frente à fábrica da International Paper, onde, além de haver algumas casas para empregados da área produtiva, também haviam alguns escritórios de treinamento. Um deles era onde o Carlos ministrava aulas de inglês para os funcionários da antiga “Champion”. Realmente não me recordava dele nessa época, tivemos pouco contato, mas interessante momento e histórico para ele. Sucesso!

UM NOVO COMEÇO

Como resolvi estudar Publicidade e Propaganda numa universidade, a Puccamp, em 1993 acabei saindo da International Paper para poder trabalhar com o que havia estudado. Antes, porém, solicitei ao meu gestor na época uma oportunidade para ajudar a própria empresa nessa área, que ficava em São Paulo. Ele se recusou a me ajudar a mudar de área e por isso resolvi partir para vivenciar o setor de publicidade, abrindo uma agência em Campinas, junto com outros quatro colegas da universidade. Foram quatro anos de muito mais aprendizados do que conquistas. Aprendemos a nos organizar em responsabilidades, ajudar uns aos outros, nos divertimos muito; mas precisávamos de novos ares.

UM NOVO FUTURO

Nessa época, após a agência, em 1997 tive a oportunidade de trabalhar na Schincariol, na área de Marketing, com organização de eventos. Era muito desafiador, pois o setor de eventos no Brasil como um todo não era profissionalizado, não haviam cursos ou materiais didáticos sobre esse tema. Fazíamos com a união de todos. Lembro que o primeiro evento que me direcionaram para liderar foi a inauguração da primeira fábrica da Schincariol fora do Estado – a unidade de Alagoinhas/BA. Seriam dois dias de evento, o primeiro dia para as autoridades e personalidades do País e o segundo dia para os funcionários. Tivemos que locar dois aviões para deslocamento das pessoas. Foi um evento grandioso, investimos alguns milhões em logística, campanhas, contratação de atrações, estrutura local. A equipe de eventos se desdobrou!!

A equipe era muito boa e estruturávamos muitos eventos, que tinham o objetivo de gerar degustação dos produtos, pois havia certa rejeição das bebidas por parte dos consumidores. Alto investimento em propaganda e uma forte batalha de mercado frente ao maior concorrente que na época tinha quase a totalidade da participação de mercado, com marcas consolidadas. Por isso a ferramenta “eventos” era importante, pois quebrava a rejeição do consumidor, mas com abrangência menor do que uma distribuição em massa. Porém isso ajudava aos 200 distribuidores, facilitando a introdução dos produtos no ponto de venda.

Encontramos então um raro curso voltado a Eventos na época, foi organizado pelo Senai de Sorocaba. Matriculamos toda a equipe! E o que aconteceu? Acabamos sendo referenciais no curso, tínhamos uma experiência muito grande frente a entrega da matéria e os alunos acabaram aprendendo muito conosco (modéstia a parte). Porém o curso ajudou a nos mostrar formalmente o processo de organização e estruturação de eventos, além de referenciais internacionais que o Senai buscou para nos mostrar.

Bem, era uma empresa familiar, havia muita emoção nas tomadas de decisões, discussões apaixonantes, muita garra, vontade de todos de fazer acontecer. O esforço de distribuição e venda era muito grande, tentativas de novos lançamentos, encontro de nichos de mercado, adaptação à mudança de hábitos dos consumidores, até que, através de um planejamento da Diretoria de Marketing junto a agência, a empresa decidiu “relançar” a marca principal, a cerveja Schincariol, que tinha rejeição, mas vendia bem com foco no Nordeste, era o carro chefe. Esse plano nos levou ao lançamento da “Nova Schin”, com um reposicionamento e grandiosa campanha, impactante. Quem não se lembra do Zeca Pagodinho recebendo uma cerveja e todos em sua volta com o mote “Experimenta!” ? Foi tudo muito grandioso, desde o planejamento até a distribuição. Lembro que os revendedores na época tiveram que montar turnos de atendimento, entregando produto a noite ou até de madrugada para atender a demanda. Com isso a Schincariol passou de 9% para 15% de participação de mercado! Um absurdo para o setor, onde cada ponto percentual corresponde a 1bi em faturamento!

Nesse período nos desdobramos para ajudar os mais de 200 distribuidores a atenderem os pontos de venda. Montamos uma equipe multifuncional (Marketing, Vendas e RH) que viajou o país para treinar os distribuidores apresentando pessoalmente o posicionamento das marcas e técnicas para desenvolvimento das equipes. Corpo a corpo e proximidade com o mercado, em diferentes Estados e públicos. Uma experiência única. Conhecer diferentes comidas como lambretinha na Bahia, buchada em Pernambuco, chimarrão no Sul e churrasco em Goiás.

NOVOS CAMINHOS

Com a ascensão da empresa e o falecimento do principal Executivo, sr.Nelson, houve um trabalho de sucessão familiar, onde os filhos e sobrinhos tomaram a frente do negócio, até certo ano em que decidiram colocar executivos em seus lugares e se afastaram da administração, controlando de longe e deixando a nova composição trazer novos resultados. Para atrair executivos e dar uma nova “cara” para a empresa, parte da área Corporativa, junto com o Marketing, se mudou para São Paulo, na Vila Olímpia. Me mudei para lá com muito orgulho, morei ao lado do escritório, pois esse bairro era pouco povoado. Hoje é um local muito disputado pelas grandes empresas, houve um replanejamento do bairro para receber essas corporações. Tive a oportunidade de reestruturar a área de Trade Marketing da empresa, contratar a equipe e posteriormente trabalhar com a gerência de produto, com o segmento de sucos.

Bom, com essa mudança da empresa, do perfil e foco de trabalho, houve um aumento substancial de investimento em diversas frentes e durante dois anos o caixa da empresa diminuiu consideravelmente junto com o ebitda. Acabei me desligando nessa época. Quantas histórias, conquistas, suor, entendimentos, desentendimentos, pessoas que conhecemos.....daria pra escrever um livro.

NOVAS EXPERIÊNCIAS

Como morava em São Paulo, e com uma grande experiência em campo, entrei para uma agência de Trade Marketing, onde fiquei por dois anos executando trabalhos como fornecedor. Muito interessante, pois sempre fui cliente e com isso passei a ser o fornecedor e trabalhar com outro ponto de vista. Foi importante pra carreira ter tido essa experiência. Mas meu perfil é muito voltado a estar dentro da indústria. Nessa época, minha esposa e eu aproveitamos muito a cidade de São Paulo, pois ela já trabalhava na cidade, em grandes empresas de refeição coletiva (GR, LC Restaurantes). Até ela ter a oportunidade de estudar gastronomia na Anhembi Morumbi e se formar como “Chefe de Cozinha” e ter a oportunidade de trabalhar com o Rodrigo Oliveira no Mocotó. Quem não gosta do baião de dois de lá?

O ANTIGO FICOU NOVO

Ao sair da agência, decidi com minha esposa voltar ao interior, para ficarmos próximos da família e diminuir o custo de vida. Arrumamos tudo, juntamos a mudança, os cachorros e chegamos no interior novamente. Por coincidência no dia que estávamos no carro voltando para o interior, me liga um antigo gerente da Schincariol querendo conversar sobre a possibilidade de voltar para a empresa, cujo departamento havia se mudado novamente para Itu/SP e os antigos Executivos (sucessores dos donos) haviam retomado o controle da empresa com o objetivo de melhorar o caixa (financeiro) e a direção do negócio. A estratégia era contar com parte da equipe de Marketing e Vendas que levou a empresa como a segunda maior cervejaria do país, com a recontratação do Diretor de Marketing e alguns executivos e, modéstia a parte, eu era um deles.

Me mudei para o interior e aceitei o trabalho na Schincariol novamente. Apesar da Executiva não ter comentado durante minha contratação, mas conhecendo profundamente a empresa, percebi que o objetivo, além de melhorar o caixa, era uma possível venda a grupos estrangeiros. E foi o que ocorreu, reformulamos vários setores, principalmente Marketing e Vendas, reposicionamos novamente as marcas com foco do consumidor e os resultados vieram em pouco tempo. Ah, esqueci de comentar, eu estava alocado na área de “Merchandising” que elaborava materiais promocionais e direcionamentos das marcas para Vendas e Trade Marketing, porém atuava em outras frentes para ajudar.

Até que em Agosto/2011 a Executiva anuncia a venda da empresa para a japonesa Kirin, a maior cervejaria asiática. Nosso diretor de Marketing e a Executiva saíram de cena mas muitos foram convidados pela nova formação Executiva a ficarem e aceitei o desafio.

Com isso colaborei na reestruturação da empresa, onde ajudei na execução de grandiosos projetos, como a transição das culturas, o desenvolvimento de “branding” da marca institucional e a remodelagem do programa de visitas às fábricas, onde conseguimos padronizar e gerar receita extra para a empresa. Muitos profissionais saíram e outros entraram, novas ideias, novos projetos, novos caminhos, novas marcas criadas, oportunidades. Foram cinco anos de muitas mudanças, aprendizados, convivências, novas amizades, compartilhamento de culturas diferentes e tudo valeu muito!

Em 2015 saí da Kirin e voltei ao interior, ficando alguns meses de folga. Até aceitar o desafio na Alpha Clicheria, do ramo de embalagens, que é a segunda maior empresa do segmento, na estruturação da área de Marketing. Sendo uma empresa B2B, desenvolvemos a arquitetura das marcas, o branding da marca institucional e conseguimos melhorar a reputação da empresa, criando vínculos com institutos e associações do setor e participação em eventos. Um case de sucesso.

Além de outras experiências como consultor para a cooperativa Veiling de Holambra, outro trabalho de marketing digital para a centenária Ruvolo Glass Company entre outros casos pela vida afora. E seguem as experiências.

 CONQUISTAS

Com muito sacrifício, planejamento, idas e vindas, conquistei meus espaços. Hoje continuo uma pessoa otimista e criativa. Gosto de disseminar conhecimento, devorar matérias sobre economia, política e futebol, fã dos Beatles, Samba, Pagode, Rock e de MPB. Muito eclético por sinal. Um dia, quem sabe, investidor profissional. Profissional de Marketing com MBA pela FGV, atuo nas áreas de Marketing e Trade Marketing, em particular lidando com desenvolvimento de equipes, além de projetos de trade, merchandising, branding, eventos, além do desenvolvimento de trabalhos de marketing diretamente para clientes, como consultor e em alguns casos, criativo de marcas. Uma história e tanto! E continuo gostando de pescar.

E você, o que quer ser quando crescer?
Anderson Ims

HRBP Manager na ★ HEINEKEN Brasil

10 m

Falae Tirapelle... que sensacional sua trajetória, feliz em ter acompanhado um pouco toda essa jornada. Parabéns e sucesso. Abração!

Gustavo Mançanares Leme

Founder & Managing Partner | Headhunter | HR Strategist | Board Member

3 a

Maravilhosa história de sucesso!! Acompanhei e vivi parte dela junto. Parabéns e estamos juntos!! Grande abraço

Márcio Nascimento Moreira Barbosa

Gerente de Projetos | HCM | SAP ECC | SAP Business One | CSM Certified ScrumMaster® | MBA Executivo de Gestão de Pessoas®

3 a

Parabéns pela trajetória meu caro colega André Tirapelle me sinto honrado e feliz, por acompanhado parte desta, e ratificar o quanto é batalhador e dedicado com tudo em que se faz!

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