O que você vai ser quando crescer?
São quatro horas da manhã. Acordo para dar mamadeira para o meu filho que chora com fome. Durante quase 20 minutos observo ele mamar e imagino o que será da vida dele. Ele termina, coloco ele em pé para arrotar e enquanto isso pego meu celular para ajudar (ou não!!) a passar o tempo. Abro o Instagram, vejo algumas publicações dos amigos e algumas propagandas. Ainda não deu o tempo de colocar ele para dormir então vou para o feed público. Primeira foto um jovem entre 18 e 23 anos parado em frente a uma Lamborghini, com as portas abertas, pose de rapper americano e na legenda: “Qual seu maior sonho?”. Passo para o próximo, é um vídeo. Algumas meninas, também perto dos 20 anos, dançam uma coreografia por uns quinze segundos de algum funk. Essa sequência se repete por mais umas 20 postagens, até que aparece uma de um youtuber ou influenciador digital. O título: “Te ensino a ficar milionário”. Um pouco para o lado: “Como conseguir 1 milhão de seguidores”, “Clique aqui e saiba como”.
Sou da época que a mãe falava – “quer ter uma vida boa? Tem que estudar, se formar na faculdade, conseguir um “bom” emprego” – e com certeza ela também ouviu isso da mãe dela. Da época que tínhamos que juntar dinheiro pra comprar nossa casa e do professor da faculdade que orientava a estar sempre adquirindo conhecimento, uma pós-graduação ou um curso da área de interesse após se formar. Acredito que ainda, e espero que para sempre, a busca pelo conhecimento, seja um dos objetivos principais das pessoas, mas talvez hoje os objetivos e os meios para conquistá-los tenham mudado.
Aquele jovem de 20 e poucos anos da Lamborghini, já é milionário, já tem seu carro importado e sua mansão que conquistou fazendo vídeos no Instagram ou no Youtube. Está famoso, tem milhões de seguidores. Talvez ele esteja na faculdade, talvez ele tenha planos de seguir uma carreira. Talvez ele já tenha uma vida boa, ou não, depende do ponto de vista de cada um. Mas como orientar, cobrar e até mesmo educar um filho que tão cedo já conseguiu esta “estabilidade financeira”? E mais complicado ainda, como mostrar ou convencer meu filho que para ter “uma vida boa” e conseguir um “bom emprego” ele precisa estudar e estudar.
Diversos padrões ultrapassados estão mudando, evoluindo, se adaptando ou acabando com o passar do tempo. O modelo da família ideal já deixou de ser somente um pai e uma mãe e filhos. Uma mulher não tem como objetivo ou função principal cuidar da casa e ser mãe.
Talvez esses padrões também vão mudar. Será que pra ter uma “vida boa” precisaremos estudar e trabalhar a vida inteira? Será que o sonho dos pais continuará sendo um filho médico, advogado ou engenheiro? Será que o sonho daquele menino pobre vai ser se tornar youtuber e não jogador de futebol?
A internet, ainda bem, está dando oportunidade pra todos. Aquele menino pobre do interior do Nordeste hoje tem até avião. Aquela menina que trabalhava pra ajudar a mãe nas despesas de casa hoje comprou uma casa pra mãe morar. Mas será que essa geração será cada vez mais materialista, influenciada por essa cultura do exibicionismo das redes sociais? Será que ficaram tão focados em ter e mostrar e não terão tempo nem capacidade de viver e aproveitar? Será que estão preparados pra viver a vida inteira se expondo e sendo julgados? Será que so vão ensinar e aprender a ficar rico e vão esquecer de como ser feliz? Porque um padrão nunca vai mudar. A vida, independente de ter muito ou pouco, de ser famoso ou desconhecido, é feita de momentos que lembraremos pra sempre e esses momentos não são feitos com um tripé, um celular e um editor de vídeos.
Meu filho dormiu. Coloco ele no berço e fico olhando pensando o que vai ser da vida dele. Mas no fundo, como qualquer pai e mãe, só quero que ele seja feliz, seja como um empresário bem-sucedido ou dançarino no Tiktok.
Autor: Pai coruja
Empreendedor, Rabino, Participante da 6a temporada do Shark Tank Brasil, Pai de 5 Inovação/Marketing/Comunicação/Espiritualidade/Equilíbrio/Novos negócios/Pessoas
3 aSensacional reflexão!
Managing Director at Casa das Cuecas @marcos.casadascuecas
3 aBaita reflexão! Com o pai que tem, a probabilidade dele ser feliz aumenta muito