O racismo incorporado na ciência.
Analisando a imagem acima: O maratonista africano (Kenya), não tem, o tal relógio de precisão; o meião de compressão; o boné aero; a camiseta de fibra de carbono e; sem nem entrarmos no mérito da vida no Kenya e em especial a infância ajudando (trabalhando) a família e se alimentando de mandioca com água e às vezes um “chá-fé”.
Mas ainda irão dizer que: “ah mas é porquê ele tem o biotipo do Kenya - é a pré disposição genética! -”.
Pois bem, isso é o racismo incorporado na sociedade e até mesmo nos estudos científicos (que são realizados por brancos). Lembram-se quando (ainda na década de 30) os europeus diziam que os negros das extintas colônias da América do Sul (Brasil) nunca conseguiriam ganhar uma Copa do Mundo porque negros não fruem de raciocínio, estão mais para o instinto e jamais conseguiriam se organizarem taticamente o time como um todo no campo de futebol?
A Filosofia colocou no mesmo patamar de certeza as verdades científicas sobre os objetos naturais e o conhecimento dos diferentes povos. Com isso, ela se autorizou a traçar um horizonte impessoal e objetivo para o qual todos os povos deveriam caminhar no intuito de garantirem a maioridade da razão. Quando determinou o modelo europeu como esse horizonte, a Filosofia moderna lançou bases para o etnocentrismo e para uma de suas consequências possíveis, o ”discurso racista”, citamos:
“(...)a principal característica dos negros é que sua consciência ainda não atingiu a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis, pelas quais o homem se encontraria com a própria vontade, e onde ele teria uma ideia geral de sua essência. (...)O negro representa, como já foi dito o homem natural, selvagem e indomável. Devemos nos livrar de toda reverência, de toda moralidade e de tudo o que chamamos sentimento, para realmente compreendê-lo. Neles, nada evoca a ideia do caráter humano. (...)A carência de valor dos homens chega a ser inacreditável.” (Hegel).
“O seu rosto (negro) parece-nos horrível, a sua inteligência parece-nos limitada, os seus gostos são vis, pouco nos falta para que o tomemos por um ser intermediário entre o animal e o homem.” (Tocqueville).
“Os negros da África não possuem, por natureza, nenhum sentimento que se eleve acima do ridículo. O senhor Hume desafia qualquer um a citar um único exemplo em que um Negro tenha mostrado talentos, e afirma: dentre os milhões de pretos que foram deportados de seus países, não obstante muitos deles terem sido postos em liberdade, não se encontrou um único sequer que apresentasse algo grandioso na arte ou na ciência, ou em qualquer outra aptidão; já entre os brancos, constantemente arrojam-se aqueles que, saídos da plebe mais baixa, adquirem no mundo certo prestígio, por força de dons excelentes. Tão essencial é a diferença entre essas duas raças humanas, que parece ser tão grande em relação às capacidades mentais quanto à diferença de cores. (...)Os negros são muito vaidosos, mas à sua própria maneira, e tão matraqueadores, que se deve dispersá-los a pauladas.” (Kant).
“Eu estou em condições de suspeitar serem os negros naturalmente inferiores aos brancos. Praticamente não houve nações civilizadas de tal compleição, nem mesmo qualquer indivíduo de destaque, seja em ações seja em investigação teórica. (...)Tal diferença uniforme e constante não poderia ocorrer, em tantos países e épocas, se a natureza não tivesse feito uma distinção original entre essas raças de homens. Sem citar as nossas colônias, há escravos negros dispersos por toda a Europa, dos quais ninguém alguma vez descobriu quaisquer sinais de criatividade, embora pessoas de baixa condição, sem educação, venham a progredir entre nós, e destaquem-se em cada profissão. Na Jamaica, realmente, falam de um negro de posição e estudo, mas provavelmente ele é admirado por realização muito limitada como um papagaio, que fala umas poucas palavras claramente.” (Hume).
“Os percebemos com os mesmos olhos que vemos os negros, como uma espécie de homem inferior.” (Voltaire).
Pelo exposto, o professor Dr. Érico Andrade nos expõe:
“(...)diz-se que o racismo era o espírito do tempo e que os filósofos não poderiam fugir dele. (...)O contexto histórico ser hegemonicamente racista, o discurso iluminista, quando se furta a remeter a cada povo o poder de fazer sua autoimagem, autoriza o racismo, entendido como a predicação perjuriosa de uma cultura ou de um povo, (...)sem o assentimento desse povo. (...)discurso iluminista, quando se furta a remeter a cada povo o poder de fazer sua autoimagem, autoriza o racismo, entendido como a predicação perjuriosa de uma cultura ou de um povo(...).
(...)discurso racista é financiado pela tese de que, por não terem produzido sistemas de lei e reflexão semelhantes aos padrões europeus, visto que ‘a principal característica dos negros é que sua consciência ainda não atingiu a intuição de qualquer objetividade fixa, como Deus, como leis’ (Hegel), os negros estariam numa espécie de condição inferior."
A determinação de um único caminho seguro para a maioridade da razão, prescrita pelo discurso iluminista, serve como subterfúgio para alocar outros povos num patamar inferior. Neste contexto, um grave problema do discurso iluminista é que ele reifica a razão e confere-lhe um estatuto próprio capaz de converter padrões culturais contingentes - os padrões europeus - em padrões universais para os quais não há escolha por parte das outras culturas senão a sua aceitação, sob pena de não estarem na direção do horizonte da racionalidade.
Nesses termos, o etnocentrismo dá lugar ao racismo.
A atitude unilateral e, por isso, etnocêntrica, de outorgar para si o direito de classificar os povos expande-se - na sua forma mais radical -, para prejulgar que os negros estariam mais próximos dos animais do que propriamente dos demais seres humanos. Quando Voltaire afirma que os negros são inferiores, posição seguida por outros filósofos iluministas (Kant, Hume, Tocqueville e Hegel), em relação à raça branca, ele aproxima-os, sub-repticiamente, dos animais, que não são capazes de autodeterminar-se.
Com isso, os negros perdem o direito de autodeterminar a imagem de si mesmos e também de autodeterminarem-se como um todo, porque não são humanos plenamente e precisam, portanto, da tutela de outro povo, para agirem racionalmente, assim como um animal precisa de um adestrador para agir corretamente. Em outras palavras, o discurso iluminista traça uma relação entre os negros invariavelmente chamados de selvagens, próximos, segundo Voltaire, dos rinocerontes e elefantes (Voltaire) e os animais, no intuito de mostrar que os negros não podem, assim como os animais, galgar autonomia por si mesmos.
Quando Hegel tece comentários sobre os sul-americanos, fruto da mistura com negros, alerta para a necessidade dos europeus de "incutir-lhes uma dignidade própria".
Por derradeiro, de forma suscita, poderíamos compreender o Direito dar-se por uma convenção social, pelos que tem condições de estudar e/ou tem/estão no poder.
OBS: Caso se interessem sobre o tratamento da Filosofia no período Aufklärung (Iluminismo) em face do “discurso racista”, posso sugerir alguns artigos acadêmicos.