O Renascimento dos Eventos

Durante (quase) todo ano de 2020 não pudemos nos encontrar.

Aqui, no Ticket Agora, vendemos inscrições para mais de 2000 eventos em 2019. Foram 700 mil experiências viabilizadas através da plataforma.

A covid transformou nosso negócio em pó, assim como o de nossos clientes, produtores-empreendedores de diversos tamanhos que encaram a face da morte. 

Por isso, pensamos muito sobre o futuro dos eventos.

O futuro. Pois é. Temos muitas esperanças no novo-novo-normal (não contentes com o novo-normal, tem mais uma etapa aí) para o mundo.

Esta esperança é depositada, em especial, na volta dos eventos, na revolução cultural e na valorização das experiências humanas. E a perspectiva histórica permite um paralelo otimista pro fim do túnel. Quer ver?

Século XIV.

200 milhões de pessoas morrem por conta da doença mais devastadora de todos os tempos, a Peste Negra. O mal, que assolou a humanidade por 3.000 anos, chegou ao seu apogeu entre 1348 e 1358 na nada sanitária Europa, que ainda vivia na Idade Média - trevas, trevas. 

Um dos centros daquela Pandemia foi a região da Toscana, na Itália.

A bactéria presente em pulgas devastou a região, causando grande retrocesso em processos artísticos (já não muito fomentados pela dominante Igreja). Mas, o que veio a seguir renova as nossas esperanças.

Florença - na Toscana - é o berço de um dos movimentos humanistas mais importantes da narrativa histórica, o Renascimento. Você conhece mas, vamos lembrar, o Renascimento foi uma grande produção de gênios, de arte, de literatura e ciência, bancada pela sociedade cada vez mais antropocêntrica e mercantil da época. Da Vinci era um gênio capitalista.

Por que lá? Porque a peste teve enorme impacto sobre o mínimo da decência humana da época e fez as pessoas pensarem. Algo estava errado na construção da sociedade, a vida precisaria ser melhor de lá para frente. E então construíram uma das eras mais prolíficas pros Sapiens.

Século XIX.

Uma resposta mais regional aconteceu aqui no Brasil - e do jeitão que a gente gosta - após a Pandemia de Gripe Espanhola, que matou 35 mil pessoas por aqui e 50 milhões pelo mundo.

Foi um dos últimos fenômenos semelhantes ao coronavírus vividos no planeta e teve seu pico em 1918. A doença era altamente contagiosa - um vírus - e as pessoas tiveram que se separar, tomar cuidado.

E daí, então, em 1919, após controle nacional da doença, aconteceu.

O Melhor Carnaval de Todos os Tempos. As pessoas quiseram experimentar La Libertad (da gripe, que nada tem de espanhola, mas assim é conhecida) na pele, no samba e, em especial, com outras pessoas. A epidemia resultou na maior festa que este país já viveu.

Foram muitos os "filhos do carnaval" daquele ano, nascidos 9 meses depois. Há muitos relatos de grande loucura pelas ruas do Rio de Janeiro.

Século XXI.

A perspectiva histórica é sinal de que teremos mudanças. É sinal de que ficaremos mais ligados às pessoas - mesmo que mais híbridos com a tecnologia. 

Onde eu trabalho, uma empresa que vende ingressos para eventos, tem como segmento o esporte participativo - corridas de rua, triathlons, travessias, provas de ciclismo, trail run. Mas todos os eventos serão, na verdade, festas. 

O mercado vai se recuperar porque é disso que precisamos após trevas: de gente, de experiências, de vida ao ar livre. Este é o novo-novo-normal que, após devastar o setor de eventos, turismo e cultura, vai elevar o status da vida a outro patamar.

A narrativa do nosso passado é a prova, século após século.

Todo respeito à pandemia, à necessidade de distância social e a tanta gente boa que se foi. Mas, o fim do túnel vai chegar e o mundo vai mudar pra melhor, não vejo a hora de viver isso. Quem sabe é 2021.

Não haveria nada mais moderno do que simplesmente viver - Ruy Castro, escritor