O Rio é agro e resiste

O Rio é agro e resiste

Nessa quarta-feira,16/09, a Câmara Setorial de Agronegócios do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado realizou um encontro para mapear as iniciativas desenvolvidas durante a pandemia em território fluminense em apoio aos produtores rurais familiares e orgânicos. Diferentes instituições apresentaram de que forma elas atuaram para, com o suporte da tecnologia, desenvolver plataformas de vendas online e cuidar da logística de entrega desses produtos aos consumidores. O que observei:

  • Novos consumidores e mercados se abriram diante dos olhos dos produtores uma vez que as pessoas em casa passaram a se preocupar mais com a alimentação e a demandar produtos mais saudáveis para as suas cestas;
  • Apesar dessa demanda ter diminuído um pouco, é possível, se conseguirmos sustentar essas iniciativas, que novos hábitos adquiridos durante o isolamento social se consolidem. Mas o processo ainda está no início, então é necessário persistir na construção dessas plataformas, no aperfeiçoamento delas e principalmente no intercâmbio de experiências. Também não podemos deixar que essas soluções desenhadas de forma emergencial sejam engolidas pelo cotidiano na retomada. Os ganhos, a experiência e os aprendizados precisam de tempo para serem incorporados e de suporte para se consolidarem;
  • Nunca o associativismo e a parceria foram tão importantes para dar suporte aos produtores rurais do estado. Cresce ai (esperança minha) a possibilidade de que soluções como o cooperativismo avancem no território, dados os resultados concretos alcançados coletivamente;
  • Eu sempre falo da importância do timing para que determinadas soluções avancem e hoje tive mais uma prova concreta disso. Ao apresentar o projeto Terra Nossa, a analista do Sebrae-RJ Raquel Stumm falou sobre o lançamento de uma plataforma que une quem quer comprar e quem pode vender produtos da agricultura familiar e orgânica. Há uns três anos, a Câmara de Agronegócios passou mais de um ano tentando concretizar uma plataforma que agregava dados sobre geolocalização e demanda para atender ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) estadual, com a oferta de nossos pequenos produtores. No estado, a compra é descentralizada, logo fazia sentido unir produtores locais e diretores de escolas para alavancar vendas e atender ao programa. A crise desencadeada pela pandemia fez emergir essa ideia unindo donos de supermercados locais e produtores da Região Serrana, e estou ansiosíssima para assistir aos próximos passos dessa empreitada. Essa experiência avançando, quem sabe não conseguimos fazer com que ela se expanda para atendimento às mais diferentes demandas?
  • O registro dessas experiências conectando várias instituições e representantes de diferentes regiões do estado mostrou uma cesta de ideias bem semelhante, com nuances em relação as características locais e nível de organização dos produtores. Mas evidenciou a necessidade de capacitação sobre canais de venda, marketing digital, experiência do consumidor, dentre outras demandas que vão precisar ser atendidas;
  • Temos em território fluminense capacidade, criatividade, conhecimento e principalmente instituições capazes de atender e solucionar problemas. Mas potencial que não se realiza não passa de utopia. A realidade carece de mão na massa e gente disposta a fazer e entregar. E poder reunir esses braços e mentes é um alento em momento tão crítico de nossa história econômica e política, mas ajuda a mudar as coisas. E é isso que precisamos agora. Esperança, intenção, capacidade e realização juntas.
  • Conexão é fundamental também: ela permite que diversas iniciativas se unam para fazer sentido coletivamente. Sem nos vermos, essas conexões não acontecem. Não precisa ser fisicamente. Virtualmente muita coisa pode ser impulsionada, mas temos que estar dispostos a unir pontas, a dizer o que fazemos, mas escutar o vizinho e entender que ele estar no jogo pode fazer com que a ação se multiplique e ganhe relevância.
  • No início de setembro fizemos um programa Rio em Foco e um painel sobre os aprendizados do setor de flores de corte. O estado do Rio de Janeiro é o segundo maior produtor do país de flores de corte do país, e de uma hora para a outra os produtores tiveram que jogar fora toda a sua produção devido ao fechamento de fronteiras e queda de demanda. O Dia das Mães estimulou a mobilização para experiências de diferenciação do produto e uso das plataformas digitais também. Mas o que ficou claro é que há um espaço enorme para expandir mercado e consumo a partir da criação de novos hábitos. Será que encher a casa de flores não pode virar moda com ações de merchandising em novelas? Olha ai o poder da comunicação a se impor...
  • Por fim pra não cansar tanto o leitor, fecho minha lista com uma frase que li outro dia e fez muito sentido: "Não brigue com a realidade. Trabalhe de forma a fazer com que ela se torne obsoleta". Fomos obrigados a entender que num cenário onde se sabe pouco, todos temos que aprender fazendo. E lançados diante desse admirável mundo novo da tecnologia, todos absorvemos novos ensinamentos, experimentamos novas plataformas, formas de interagir e de viver. Tendências se tornaram realidade num piscar de olhos. Não é possível sair dessa experiência sem ter sido afetado de alguma forma. Estamos exaustos e cansados de tudo isso, mas ainda há luz. E ela vem daqueles que conseguirem entender as novas dinâmicas que se estabeleceram, e se desapegar dos velhos costumes que não fazem mais sentido. As mudanças foram aceleradas. Usemos isso para estabelecer novas bases e projetos, e novas soluções para antigos problemas. Elas existem.

Geiza Rocha é jornalista e secretária-geral do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Geiza Rocha

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos