O sentido do fazer
Image by Jean Marin Tinoco Soares

O sentido do fazer

Semana passada, duas situações ou melhor duas histórias de carreira, me fizeram refletir um pouco sobre a força, o impulso que nos move na vida.

Alguns dias após completar 89 anos o bisavô dos meus filhos, que já está a mais de 100 dias confinado em casa e em home-office, fez a sua primeira Live. Sim, uma LIVE.

Ele, além de um advogado absolutamente apaixonado pelo que faz, é referência em sua área de atuação. Possui diversos livros publicados entre tratados, livros técnicos e artigos para praticamente todos os veículos relacionados à Propriedade Industrial.

Quando recebeu o convite para sua apresentação no mundo virtual, não hesitou, imediatamente aceitou mesmo sem saber muito bem como se daria isso do ponto de vista tecnológico. Foi confiante, pois sabia que a sua parte faria com maestria, já que está muito acostumado aos congressos pela América Latina onde discursa para centenas de pessoas. 

Imediatamente, entrou em contato com meu marido, seu neto, para solicitar a ajuda que precisaria para entender como fazer isso do ponto de vista tecnológico. Para muitos de nós, pode parecer simples, mas para alguém aos 89 anos fazer isso pela primeira vez, é sem dúvida um desafio.  

Testemunhar os aproximadamente 30 dias que antecederam a Live foi uma experiência daquelas para contar para os filhos e netos. Foi um lindo e carinhoso processo de troca de conhecimentos entre duas gerações, com quase 40 anos de diferença entre elas.

Toda semana os dois conversavam. Nesses momentos o avô, com todo seu entusiasmo e euforia de quem está se preparando para a estreia, dividia com o neto o que estava escrevendo, como imaginava falar, quanto tempo levaria para isso, o que vestiria para a ocasião, todos os detalhes. E é claro, tirava suas dúvidas sobre como o aparato tecnológico iria funcionar. Pouco a pouco entendendo o que precisava para se manter no controle da situação. E o neto, com orgulho e admiração, respondia a todas as dúvidas carinhosamente.

Enfim, o grande dia chegou. Tudo correu bem, ele deu sua aula, respondeu a todas as perguntas e compartilhou seu precioso conhecimento. Tudo muito bem organizado, bem feito, como tudo o que ele faz.

Minha convivência com a família tem aproximadamente 30 anos, geralmente aos finais de semana e em período de férias. Não me recordo de nenhum dia em que o Dr. José Carlos Tinoco Soares tenha deixado de trabalhar e de fazer suas atividades físicas.

O que me fascina, é que nada disso é feito como um peso, como uma obrigação, mas com disciplina. Levanta-se cedo todos os dias, por volta das 6h30, mesmo aos finais de semana. Quando acordamos para o café da manhã, lá pelas 8h ou 9h, ele já concluiu o trabalho e sai para seu exercício matinal.

Ali pelo horário do almoço, quando quase toda a família já está reunida em volta da mesa, é comum ele discursar sobre sua tarefa do dia, os desafios vencidos e os aprendizados adquiridos, o que faz com orgulho, alegria e sorriso no rosto. Mesmo com os seus 77 anos de experiência na área, se alguém que não o conhece escutar pela primeira vez, pode concluir tratar-se de uma descoberta inédita, algo realizado pela primeira vez, tamanha é sua euforia.

 A outra história que me inspirou a escrever esse texto, foi esse lindo post da @cintiachaguribordados.

“Rabiscando uns desenhos de mandala para fazer uns riscos de bordado me lembrei da primeira vez em que eu usei um compasso.

Foi com meu pai, há muito tempo, devia ter uns 7 ou 8 anos. Me lembro dele me ensinando a fazer uma rosácea, usando o compasso para criar as pétalas de uma flor milimetricamente simétrica e perfeita.

Na cabeça de engenheiro dele, era pura matemática e geometria, mas na minha, era pura mágica⭐💫, um mistério que me encantou!

Nunca tinha pensado nisso antes, mas acho que foi nesse dia que eu decidi minha carreira. De alguma maneira essa lembrança ficou ali, guardadinha e me guiou pelo curso técnico de Edificações e a faculdade de Desenho Industrial.

Hoje, apesar de não trabalhar mais na minha área de formação, vejo o quanto esse conhecimento continua presente nos meus bordados, desde os riscos até os pontos.

Gratidão a todos os meus antepassados que me dão força e sabedoria para eu ser quem eu sou, em especial ao meu pai.

 Conheço a Cintia, da escola em que meus filhos estudaram a primeira infância.

Me lembro dos nossos, na maioria das vezes rápidos, bate-papos no portão da escola enquanto esperávamos pelas crianças ou das festas da escola, quando as mães se reuniam para preparar tudo.

Cintia é uma daquelas mulheres, que mesmo sem muita intimidade eu chamo de “companheiras de maternidade”, assim como eu, ela também decidiu mudar o rumo da carreira para exercer a maternidade que sempre desejou. E aqueles nossos papos rápidos sempre giravam em torno disso, as dores e as delícias de abrir mão, mesmo que temporariamente, da carreira para inverter a equação 80% carreira x 20% mãe para 80% mãe x 20% carreira.

Quando li o texto da Cintia senti gratidão e alegria. Gratidão por ela ter compartilhado publicamente esse mergulho que fez nela mesma e espero, possa inspirar outras pessoas como me inspirou a escrever esse texto, e a alegria de ver um profissional acolhendo com carinho suas escolhas.  

 Mas o leitor deve estar se perguntando: O que essas duas histórias têm em comum?

Enxerguei nessas histórias a força poderosa do Amor como o motor que move a vida. Não me refiro aqui ao amor romântico, mas aquele que nos impulsiona a realizar no mundo o melhor de nós.

É o amor pela vida que faz com o Dr. José Carlos Tinoco Soares faça tudo o que se propõem com excelência, alegria, entusiasmo. Que aos 89 anos de idade e 77 de carreira o faz buscar novos conhecimentos e encarar os desafios com perseverança e jovialidade. Que o impulsiona a cuidar de sua saúde com disciplina, pois sabe que esse é o bem mais precioso que possui e que permite continuar sua jornada.

O post da Cintia, por si só, é uma poesia sobre esse amor.

Amor que o pai expressa pela filha ao compartilhar com ela o seu conhecimento. Amor que move a filha em direção a descobrir a sua profissão, sua vocação, mais do que isso a sua essência. Essência que a transformou em mãe e bordadeira por amor, como ela mesma se define.

Ambos colocam o seu “Sacro Ofício” à serviço da vida, entregando o melhor de si.

E você, sabe o que te move, impulsiona?

 

Renata Pereira

Psicóloga | 𝐄𝐧𝐭𝐮𝐬𝐢𝐚𝐬𝐭𝐚 𝐝𝐨 🅻🅸🅽🅺🅴🅳🅸🅽 | Mentoria e Consultoria de Perfil do LinkedIn | Facilitadora de Treinamentos Educacionais | RH | Coaching de Vida e Carreira | LGBTQIAP+ 🏳️🌈 | IG @renatabomvoar

3 a

O amor, certamente nos move muito. No meu caso, o tempo todo. As histórias se misturam quando sentimos o amor e o entusiasmo pelo nossa vida, pelas vidas daqueles que amamos. E ainda, por tudo aquilo que fazemos. Gratidão por compartilhar esse escrito. Bjoks no <3

Regina Paraguassu

Headhunter sócia da Oficina de RH

4 a

Com certeza Andréa!! Tudo que fazemos com amor e dedicação nos da energia para continuar e alegria pelos resultados!!

Jose Carlos Tinoco Soares

Doutor em Direito / Palestrante / Especialista em Marcas e Patentes / Escritor

4 a

Andréa - Muito obrigado. Não precisava tanto, porém, dá-me o ensejo de apregoar em altos brados o porque nos sentimos bastante felizes em trabalhar e em escrever. Simplesmente porque temos uma FAMÍLIA maravilhosa da qual Você, Jean, Davi e Letícia fazer parte. Que Deus os abençoe. josecarlostinocosoares

Lindo texto! Parabéns

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