O som do silêncio
“Mãe, duvido você fazer uma pergunta que eu não saiba responder”, me desafia o Daniel, com olhos sabidos.
“Qual o som do silêncio? ”, eu pergunto.
Ele fica quietinho por um breve momento com um sorriso do rosto.
Ah, o silêncio! Mora o mundo dentro dele. Moro eu, confortavelmente.
Lembro de sentir este conforto ao ir morar com o Juan. Os dois sentados no sofá, absorvidos pelas nossas leituras e o silêncio gostoso dessa intimidade. Não havia a necessidade de dizer absolutamente nada para nos sentirmos em paz.
Ou quando estou tomando um banho de sol em pleno inverno, olhos fechados, corpo aquecido, sons da cidade bem ao longe e o silêncio como companhia. Ou ainda quando me permito ficar alguns segundos com o chuveiro ligado, água correndo pelo corpo e eu me concentrando apenas na sensação da água, do respirar, do descanso. O silêncio acolhendo meu cansaço do dia vivido.
Adoro estar com a casa cheia. Meus meninos correndo e brincando pela sala. Visitas muito bem-vindas compartilhando o chimarrão. Adoro ligar uma música animada, ouvir uma palestra inspiradora enquanto cozinho. Estou sempre pronta para uma mesa rodeada de amigos, comida e bebida gostosas servidas para animar as conversas.
Isso não significa que não preciso do silêncio, de estar só comigo. Sinto falta se fico muito tempo sem fazer algumas atividades solitárias como uma boa leitura, tomar vagarosamente uma xícara de chá ou escrever. Quando estou em silêncio, consigo escutar mais o que vem de dentro. Escutar os pensamentos, refletir sobre minhas necessidades.
Neste exato momento, escrevo em silêncio e escuto o barulho do vento lá fora. Consigo me colocar mais atenta ao espaço em que em encontro, às sensações e ao fluir das ideias. Me concentro mais no que estou fazendo, percebo o tempo de um jeito diferente e me sinto mais criativa. Quando possível, gosto de acordar e perceber o silêncio da minha casa em contraste com os ruídos da rua. Parece um refúgio de tudo que se passa do lado de fora.
O silêncio me traz foco. Sou mais produtiva. Trabalho num espaço compartilhado de mesas e muitas pessoas. Não me incomodo com os barulhos do ambiente, mas preciso silenciar internamente para render. Se estou agitada, dispersa em conversas, inicio muitas coisas e concluo poucas. Nestas horas a música me ajuda. Principalmente a clássica e outras instrumentais. Elas isolam os ruídos externos e consigo encontrar meu silêncio.
Parece engraçado dizer isso, mas o silêncio não chega a ser a ausência completa de som. Há um mundo repleto de barulhos dentro e fora de nós. O exercício de reduzir tantos ruídos ou se concentrar num estado mais silencioso tem me ajudado a ser mais produtiva e mais dona das minhas emoções. Então este é meu desejo para você. Que possa aconchegar-se em seus silêncios e descobrir o que está escondido por traz dos barulhos do mundo.
Astrid Kühn, 02 de julho de 2017.