O Sufocamento Feminino nas Estruturas de Liderança: Como a Fragilidade Masculina e a Cultura Machista Bloqueiam o Progresso das Mulheres
Em tempos onde CEOs homens, coachs e tantos outros questionam a capacidade das mulheres em ocupar posições de destaque, pouco se fala da fragilidade masculina frente ao avanço dessas mulhers no mercado de trabalho e em tantas outras frentes antes vistas como exclusivas dos homens.
A liderança feminina, embora cada vez mais presente em diferentes setores, continua sendo sufocada por uma barreira invisível, mas poderosa: a fragilidade masculina e a cultura machista profundamente enraizada nas estruturas de poder. Essa combinação cria um ambiente de opressão que não apenas impede o avanço das mulheres, mas as sobrecarrega com estereótipos e julgamentos que os homens, em posições similares, raramente enfrentam. É hora de confrontarmos essa realidade.
Historicamente, mulheres sempre demonstraram sua capacidade de liderança em momentos críticos. No Brasil contemporâneo, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, transformou uma empresa familiar em um dos maiores varejistas do país, sendo reconhecida mundialmente por sua visão inclusiva e de impacto social. Rachel Maia, ex-CEO da Pandora Brasil e uma das poucas mulheres negras em posições de liderança no Brasil, é outro exemplo de resiliência e competência no mundo dos negócios. Sônia Hess, que foi CEO da Dudalina, também deixou sua marca ao liderar uma das maiores empresas têxteis do Brasil. Esses exemplos, assim como o de tantas outras mulheres, provam que gênero não define competência. No entanto, o que muitas vezes define o sucesso ou o fracasso das mulheres na liderança é o ambiente em que estão inseridas. E esse ambiente ainda é dominado por uma visão estreita e fragilizada da masculinidade.
A ideia de que as mulheres não podem ou não devem ocupar posições de poder tem raízes culturais e sociais que se perpetuam de geração em geração. Desde cedo, homens são ensinados a ver a liderança como um atributo natural do seu gênero, enquanto as mulheres são educadas a "não ocupar muito espaço". O resultado? Um sistema que relega as mulheres a posições de apoio, subestimando seu potencial e constantemente julgando-as com critérios muito mais severos do que os aplicados aos homens.
Um exemplo claro é o estigma social que recai sobre as mulheres que alcançam o topo. Enquanto homens líderes podem ser narcisistas, egocêntricos e centralizadores sem que isso afete sua imagem pública ou suas relações pessoais, as mulheres em posições de liderança são frequentemente responsabilizadas pelo fracasso de suas relações ou pela falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Isso acontece porque ainda há uma expectativa de que as mulheres cumpram um papel "tradicional", onde são elas que devem sacrificar suas ambições para manter a harmonia doméstica.
A fragilidade masculina entra em jogo quando homens se sentem ameaçados por mulheres em posições de poder. Em vez de celebrar a diversidade e a inclusão no ambiente corporativo, muitos homens optam por minar o sucesso feminino, criando barreiras invisíveis, mas incrivelmente opressoras. Esse comportamento não surge da superioridade, mas sim de um medo profundo de perder o controle e a posição de privilégio que historicamente ocuparam. O medo de ver uma mulher no comando é, na verdade, um reflexo de insegurança sobre a própria identidade.
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A cultura machista alimenta essa fragilidade ao propagar a ideia de que os homens devem sempre ser os líderes, os provedores e os que têm "as rédeas" em suas mãos. Isso é visto no tratamento desigual em ambientes de trabalho, onde as mulheres são testadas e questionadas constantemente, enquanto os homens recebem o benefício da dúvida. Para cada erro que uma mulher comete, ela é julgada como uma "prova" de sua incapacidade, enquanto os homens são frequentemente desculpados, visto que “todos podem errar”.
Precisamos urgentemente desconstruir essas normas. O progresso das mulheres em posições de liderança não só beneficia as empresas, como também promove uma cultura mais justa e igualitária. Diversidade de pensamento e abordagem é o que torna uma equipe mais inovadora e resiliente. Ignorar o potencial feminino por causa de padrões ultrapassados é um tiro no pé para qualquer organização.
Além disso, é essencial que homens em posições de poder questionem seu papel nesse sistema. Devemos parar de enxergar a ascensão das mulheres como uma ameaça e começar a reconhecê-la como um avanço natural e necessário. Homens que verdadeiramente entendem seu papel como líderes devem apoiar, capacitar e defender suas colegas femininas, em vez de competir ou criar barreiras para sua ascensão.
Como sociedade, precisamos repensar o que significa liderar. A liderança não deve ser sinônimo de poder, mas sim de impacto, colaboração e transformação. Mulheres trazem uma perspectiva única, uma abordagem que é, muitas vezes, mais inclusiva, empática e orientada para o coletivo — qualidades que o mundo corporativo moderno demanda cada vez mais.
O caminho para romper essas barreiras não é fácil, mas é necessário. Cada vez mais mulheres estão desafiando o status quo e assumindo posições de poder. No entanto, é fundamental que essas mulheres não precisem enfrentar o preconceito e o machismo em cada etapa de sua jornada. As empresas precisam revisar suas culturas, criar políticas mais inclusivas e, acima de tudo, garantir que a liderança seja um espaço de todos, não apenas dos que sempre estiveram lá.
Portanto, a pergunta não é se as mulheres podem ou devem liderar — a história já nos deu provas suficientes de que elas são perfeitamente capazes. A pergunta é: até quando vamos continuar permitindo que a fragilidade masculina e a cultura machista bloqueiem o caminho para o progresso feminino?
Exemplos de Liderança Feminina no Brasil Contemporâneo
Além de Luiza Helena Trajano, Rachel Maia e Sônia Hess, outras líderes brasileiras contemporâneas, como Ana Paula Assis, presidente da IBM América Latina, e Adriana Machado, ex-presidente da GE Brasil, têm mostrado que mulheres são perfeitamente capazes de conduzir grandes corporações e influenciar de forma significativa o cenário empresarial. Suas trajetórias desmentem a ideia de que mulheres em cargos de poder são uma exceção, provando que a competência feminina está presente e deve ser reconhecida.
A resposta depende de todos nós.