O tabu socialista
Tenho que confessar que sempre tive muito interesse pela experiência revolucionária cubana. Acho que, em parte, por curiosidade; já que não há informações abundantes sobre a ilha. Mas também porque nunca entrou na minha cabeça o imperativo vida-trabalho-alienado-reprodução que a sociedade capitalista impõe em nossas vidas.
No Dia da Rebeldia Cubana, ontem , quis trazer 3 aspectos que descobri sobre a sociedade socialista do país:
Imprensa: quero começar já por um ponto polêmico, a chamada "liberdade de imprensa". Assim como qualquer outro conceito social, esse também é estabelecido dentro de uma cultura. E na cultura ocidental, está diretamente ligado ao direito de expor fatos e ideias a um grande número de pessoas. Acontece que em Cuba, esse conceito tem outra interpretação: imprensa é todo o sistema que permite o fluxo de informações entre o povo e os dirigentes. Ou seja, não só os jornais e revistas, mas as assembléias, comitês e sindicatos. É por lá que as massas poden denunciar problemas e solucionar impasses entre si e com o governo. O jornalismo cubano se propõe à defesa da ordem socialista e não crítica o regime, é verdade. Mas os oligopólios da imprensa burguesa que temos por aqui criticam a ordem capitalista?
Ataques: durante os 10 primeiros anos da revolução cubana, os Estados Unidos promoveram muitos ataques à ilha, diretos e indiretos. Dois episódios ficaram marcados por sua desproporcionalidade: 1) a invasão da Baía dos Porcos, quando mais de 2000 de mercenários e militantes anti-revolucionários foram capturados. Mais tarde, eles foram trocados por 50 milhões de dólares vindos do governo americano. 2) o mito espalhado pela propaganda americana por panfletos jogados por aviões de que todas as crianças cubanas seriam enviadas para internatos soviéticos, que perdura até hoje. Os EUA patrocinavam estas propagandas para intensificar a fuga do que hoje seriam chamados de "talentos qualificados".
A Saúde: Atualmente, Cuba lidera várias pesquisas de saúde pública e existe um exército de 50 mil médicos cubanos prestando ajuda internacionalista a muitos países e, claro, ajudando a captar dinheiro. A principal crítica é a falta de liberdade que esses profissionais tem e o fato deles desfrutarem de apenas de 10% dos seus salários, aproximadamente. Sobre este ponto, não tenho opinião formada, mas confesso que prefiriria doar 90% do meu salário a viver em uma sociedade de privilégios como a nossa! ("Vai pra Cuba!")
E pra terminar, rapidinhas:
- - antes da revolução, mais de 60% das praias de cuba eram particulares. Hoje, mais de 70% dessas mansões se tornaram escolas ou prédios públicos.
- - para quem quer saber mais, a foto do livro tá aqui, mas tem outros: Fernando Morais entra com "A Ilha", Netflix com WASP e Eliana Cardoso com "Cuba after Communism" (esse beeeeem crítico ao regime).
- - claro que o regime tem casos violação dos direitos humanos e isso é abominável e tem que acabar para ontem, qualquer tentativa de relativizar isso não pode ser levada a sério. Mas em um mundo onde todos os Estados tem suas faces sombrias, a análise não deve se restringir a apenas esta dimensão se quisermos aprender a construir uma sociedade melhor.
#cuba #socialismo #polemica