O tal home office

O tal home office

Durante os anos em que estive no mundo corporativo e na consultoria de outplacement, era muito comum ouvir dos profissionais o desejo de ter uma jornada de trabalho flexível e/ou trabalhar remotamente, nos dias atuais: Home Office.

Eu mesmo, sonhava com isso. Imaginava como seria a vida sem perder tempo no deslocamento de casa para o trabalho. O que eu poderia fazer com o tempo que sobraria, atividade física, dormir um pouco mais, levar as crianças para escola sem o stress do horário apertado. Pensava sempre que seria bom almoçar em casa com a família todos os dias, tomar café da tarde (minha refeição predileta), que delícia!

É claro que, existiam aqueles que eram contrários a essa prática, sob a alegação de que precisavam da rotina de sair de casa todos os dias para o trabalho, que as relações entre os profissionais ficariam prejudicadas, não haveria troca, não tinham infraestrutura em casa para trabalhar, a relação líder-liderado ficaria pobre, entre outras.

Do lado daqueles que sonhavam com a possibilidade de trabalhar em casa, não faltavam argumentos: evitar o trânsito caótico da cidade, poder ter mais tempo para a vida pessoal, economizando o tempo de deslocamento, mais tempo com a família, diminuir a poluição nas ruas, já que seria menos alguém utilizando transporte ou tirando o carro da garagem. Outros, alegavam até o aumento da produtividade, já que não haveria as interrupções daqueles que adentram sua sala ou estação de trabalho, apenas para comentar algo ou chamar para o cafezinho.

O fato é que nestes dias que estamos vivendo, uma parte de nós, está tendo a oportunidade de experimentar o tal do Home Office.

Temos que reconhecer que em uma situação atípica, sem dúvida, tendo em vista que outras áreas da vida, também não estão acontecendo como de costume. Os filhos estão em casa, não dá para contar com a ajuda de ninguém para as atividades domésticas, nem sempre o delivery está disponível, a insegurança que o momento nos impõe e muitas outras coisas.

Mas porque não aproveitar esse tempo como uma oportunidade para EXPERIMENTAR?

Isso mesmo, embora em uma situação bem diferente daquilo que seria um home office de verdade, como já disse acima. Tanto a turma que sonha com o Home Office, quanto aqueles que “torcem o nariz” para a prática, sugiro que abram a mente, os olhos e o coração e sintam-se nessa experiência, para então formar opinião.

Mesmo com todas as adversidades que o momento impõe, é possível vivenciar as vantagens e desvantagens dessa forma de trabalho, e depois, colocar na balança o que realmente serve e não serve para você.

Neste período de isolamento social, este assunto tem sido recorrente, pessoas comentando nas redes sociais suas dores e delícias de trabalhar em casa e as mídias falando amplamente do assunto. Eu mesma, que de um ano para cá me tornei fã de Podcasts, acabei de ouvir um episódio do CBN Professional, que aliás eu recomendo (episódio 132), vários profissionais falando sobre suas experiências com o home office. Foi então que comecei a refletir sobre a minha própria experiência de trabalhar em casa, antes e depois da Pandemia e resolvi escrever esse texto.

A ideia aqui é listar alguns fatores que podem ajudar a ter uma boa experiência em home office, desde estrutura física, organização pessoal até mesmo características de perfil que facilitam a adaptação e produtividade nesse modelo de trabalho.

Minha sugestão é que, após ler essas considerações, possa refletir sobre o que é verdadeiro para você e construir o seu cenário ideal.

Aqui estão:

  • Ter um local na sua casa que seja preparado e, de preferência, exclusivo para o trabalho. Com computador, boa internet, condições ergonômicas para trabalhar com tranquilidade e conforto. Essa estória de ficar passeando pela casa com o computador, não funciona.
  • Manter uma rotina diária, com horário para acordar, se alimentar, fazer atividade física e trabalhar. O rítmo é importante para que sua mente e seu corpo entendam que o que é para ser feito em que momento. Ter horário de início e término.
  • Ter acordos claros com a família, todos precisam saber que você não está de folga. As pessoas têm uma tendência a nos ver em casa e achar que estamos disponíveis. O filho que quer brincar, a ajudante que sempre fez tudo sozinha, mas quando te vê em casa, interrompe a cada minuto para fazer perguntas, os pais que querem sua atenção e começam a pedir favores tipo, acompanhar em consultas ou no supermercado, etc.
  • Cuidado especial para não deixar a rotina doméstica interferir no trabalho e vice-versa. É verdade que o home office nos dá mais flexibilidade. Entre uma reunião e outra, é possível colocar uma roupa na máquina, trocar aquela lâmpada queimada ou adiantar o jantar. O perigo é que quando se dá conta, perdeu o horário da reunião ou esqueceu do relatório que tinha que ser entregue em 3 horas. Assim como é verdade que:” já que estou em casa mesmo, vou terminar de ler e responder os 600 e-mails da caixa de mensagem, pois amanhã inicio o dia zerado”. Quando olha o relógio, já são 22h e ainda está trabalhando.
  • Evitar tempos prolongados à frente da tela. No escritório, é comum uma parada para um café, alguém que interrompe para tratar um assunto pessoalmente, sair para almoçar. Isso nos faz parar, levantar, andar e interagir, sem a tela como intermediária. Em casa, se não cuidarmos, passamos horas na frente do computador, sem perceber, até comemos ali mesmo. Vale até colocar um timer para de tempos em tempos sair da cadeira, alongar, tomar uma água, respirar. Só não vale ficar assaltando a geladeira, essa é uma outra armadilha.
  • Reuniões muito longas e com muitos participantes devem, preferencialmente, ser realizadas de forma presencial. É claro que nesses tempos que estamos vivendo, isso não tem sido possível, mas em “condições normais de temperatura e pressão”, sempre que puder, encontre formas de fazer reuniões presencias. Quando o grupo é grande (aqui eu entendo mais que 4 pessoas), o assunto é complexo e o tempo de discussão for superior a 2 horas, pode haver perdas pela falta de interação, a não possibilidade da leitura corporal, o olho no olho, que tem grande valor, especialmente na cultura latina.
  • Fazer reuniões presenciais, ajuda também a preencher uma lacuna deixada pelo trabalho remoto, que é a interação informal que o trabalho presencial proporciona. Um papo na área do café que pode render boas ideias, a happy hour no final do expediente que ajuda a baixar o stress de um dia intenso e o papo agradável na hora do almoço que relaxa para encarar o “segundo tempo”. Otimize o tempo, já que está na rua para a reunião, aproveite para encontrar pessoas.
  • Disciplina, essa é outra regra de ouro para se dar bem no home office. Aqui, vamos além da rotina, mas é falar sobre ter uma agenda semanal e diária de tarefas. Ter um bom planejamento das suas responsabilidades e projetos. Isso, especialmente se você é um profissional autônomo ou liberal, como no meu caso, onde não tem alguém que te cobre ponto a ponto, mas geralmente, existe a data final de entrega, aí você vai procrastinando e quando se dá conta está em cima da hora.

Após um período de quase 04 anos trabalhando no que eu chamo de “modalidade híbrida”, onde hora estou produzindo em casa, hora estou no escritório com cliente, posso dizer que me adaptei a essa realidade e gosto dela.

Afirmo ainda que, o que tenho vivido nestes quase 30 dias de isolamento social, não é, nem de longe a minha rotina de home office. Nesse período, boa parte do que disse acima, não está acontecendo. Perdi meu escritório para o marido, que também está trabalhando em casa e como tem mais horas diárias de trabalho que eu, ganhou a prioridade. Estou responsável pelas tarefas domésticas, que geralmente são divididas com a ajudante que vem 2 dias na semana. Tem o filho que está em “homeschooling” e precisa de suporte, enfim. Ainda assim, estou conseguindo trabalhar. É claro que ajustes foram feitos. E quem não precisou ajustar a vida?

 O que me conforta, é saber que tudo isso vai passar.

O que encontraremos lá fora depois desse período? Não sabemos, ninguém sabe. Por mais que tenha muita gente dizendo que sabe. Podemos até inferir algumas tendências, como a de que o home office será mais frequente daqui para frente. Será? Pode até ser, mas de verdade, ainda não sabemos.

O que podemos fazer é pensar sobre, a partir dessa experiência, no aqui e agora, como o tal do Home Office funciona para você. Assim, lá na frente, caso ele se apresentar como uma possibilidade na sua vida profissional, você terá condições de decidir se quer ou não. Ainda que ele não seja uma possibilidade, mas a única opção, terá consciência do que será necessário fazer para se adaptar, ter realização no trabalho e manter a vida equilibrada

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