O TIMING DO COMPLIANCE
Pilar de qualquer indústria que se pretenda sustentável, o compliance deve nortear todas as ações e atitudes (postura) não somente de uma empresa, mas de todo o setor na qual está inserida. Principalmente quando este setor tem um papel crucial para o desenvolvimento econômico-social de um país.
É o caso da indústria de óleo e gás e gás no Brasil, que vem se expandindo e diversificando por meio da tão propalada ‘janela de oportunidades’ que as riquezas do pré-sal ‘descortinaram’ para o país bem como para os investidores internacionais – afinal, toda janela é uma via de mão dupla.
Tudo o que gera oportunidade impõe também responsabilidade como contrapartida. Não somente do ponto de vista individual, de cada empresa, como do ponto de vista setorial.
Assim como nenhum homem é uma ilha, o mesmo vale para qualquer indústria, principalmente a de óleo e gás, que nas últimas décadas vem investindo na comunicação para mudar sua imagem perante a sociedade, cada vez mais preocupada com as consequências que a exploração de recursos naturais vão ter no futuro da humanidade. Dai a transição energética ter entrado na pauta do dia dessa indústria.
Sem perder de vista a transição energética, os players dessa indústria, que atuam de forma imperativa na disputa pelas melhores oportunidades de negócios, seja em aquisição de empresas ou em leilões da ANP (concessão ou partilha), devem se posicionar também de forma incisiva quando essa cadeia produtiva gera um incidente ambiental, como o que vivenciamos no Brasil.
Não dá mais para ficarmos tergiversando sobre a quem cabe a responsabilidade do vazamento de óleo que avança pela costa do Nordeste e chega agora ao sudeste. Esse era (e ainda é) o momento da indústria de óleo e gás como um todo, sentar na mesa para planejar e tomar uma atitude incisiva, diria mesmo imperativa, para equacionar de vez esse problema que é dela, independente do responsável individual pelo acidente.
José Firmo sinalizou isso em seu último discurso como presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), na abertura da OTC Brasil 2019. Ele lembrou que após o acidente no campo de Macondo, no Golfo do México, em 2010, a Associação Internacional de Produtores de Petróleo e Gás (OGP) formou o Grupo Global de Resposta da Indústria (GIRG), visando disseminar e replicar em todo o planeta as lições aprendidas e as medidas tomadas naquele momento.
Alinhado com essa postura, o IBP vem apoiando as ações de contingenciamento no incidente que está impactando a nossa costa, fornecendo à Marinha e às autoridades dos estados afetados, dados georreferenciados disponíveis no banco de dados MAREM (Mapeamento Ambiental para Resposta à Emergência no Mar), que contém informações importantes sobre o ambiente nas praias e locais costeiros, bem como sobre a fauna sensível ao derramamento de óleo.
“Esse banco de dados é uma ferramenta relevante para ajudar a mitigar os impactos na costa brasileira”, afirmou Firmo, acrescentando que o IBP e suas associadas vêm trabalhando junto com as autoridades governamentais, citando múltiplos esforços, entre os quais o envio de kits de segurança para os voluntários, a modelagem reversa para identificar a localização do vazamento, a análise de óleo em laboratórios internacionais para ajudar a definir a origem do petróleo vazado.
Mas a sociedade não vê ainda o mesmo empenho demonstrado no golfo do México (sociedade, governo, empresas), principalmente por parte dessa cadeia produtiva que tem tanto a ganhar quanto o país, com essa janela de oportunidade. A sociedade viu na mídia o resultado dos leilões e o debate sobre o quanto eles podem impactar os bilionários investimentos projetados pelo setor e o governo, ficou ciente da alegação de que o exercício de preferência da Petrobras afasta interessados bem como da mobilização para o Congresso Nacional mudar essas regras.
Mas a sociedade, que ainda não se deu conta da real proporção dessa tragédia ambiental, não viu em nenhum momento a indústria arregaçar as mangas e dizer ESSE PROBLEMA É NOSSO, DA NOSSA INDÚSTRIA.
Afinal, de que valem todas as tecnologias debatidas e expostas nos eventos (como a OTC Brasil) para prevenção e contingência de vazamento e todos os programas de SMS (segurança meio ambiente e saúde ocupacional), principalmente os de contingência, implementados e divulgados exaustivamente nos relatórios das oil companies, se há mais de dois meses essa mancha avança sobre a costa brasileira?
Mais ainda, avança sobre a reputação de uma indústria que, ao longo da história vem acumulando papéis ‘negativos’, por ‘abastecer’ guerras na disputa pela hegemonia da produção de petróleo, na exploração de riquezas que nem sempre revertem em benefícios para as comunidades e sim em lucro para algumas minorias, entre outros libelos que recaem sobre esse setor..
Sem discursos ideológicos, a verdade é que a indústria petrolífera tem buscado transformar essa memória negativa ao buscar maior protagonismo na transição energética. Mas não bastam campanhas de comunicação se ela perde o timing na crise, posicionado-se como coadjuvante na hora em que deveria ser o agente de transformação de uma realidade que é fruto dela.
Essa é, sem dúvida, uma outra janela de oportunidade para a indústria de óleo e gás mostrar que, de fato, está comprometido não somente com uma nação, mas com o futuro de todos os povos e do planeta...e não apenas com os seus acionistas e parceiros comerciais.
Chefe de Núcleo de Pessoal na Grupo Caberj
5 aBia, perfeitas suas colocações. Ninguém está tão preparado para enfrentar essa crise como a própria indústria do petróleo que tem brigadas treinadas e equipamentos especializados para o tratamento do óleo e rejeitos. Falta essa visão de que o problema não é do governo nem do cidadão que mergulha sem EPI no mar na tentativa de fazer a sua parte pra tentar proteger a natureza, mas sem preparo e equipamentos, muito pouco pode fazer. É hora dessa indústria acordar. Se não pela necessidade de proteger a natureza e aos homens e familiares dos que fazem parte dessa indústria, que o façam pelo menos pela oportunidade de aparecerem na mídia fazendo a coisa certa, transformando as despesas em novas oportunidades de negócio e quem sabe até criando brigadas e empresas específicas que poderão verde o serviço em outras partes do mundo, afinal, acidentes sempre acontecem não só aqui.
I lead a law firm who specialise in helping vessels keep sailing while we deal with accidents, claims, contracts, authorities and ports issues. I also advocate for gender equality and do some public speaking.
5 aSuper de acordo Beatriz ! Tb sempre advoguei pela indústria ser protagonista ambiental e tb vejo como oportunidade para o Brasil e para a indústria Compartilhando !