O uso de IA e a mudança de paradigmas na formação de pessoas
O domínio das ferramentas de #IA será cada vez mais determinante para o sucesso ou fracasso de muitas funções e profissões. O que está em jogo inicialmente é a maior produtividade – fazer mais e melhor em menos tempo. Mas vai além disso: ao fazer a “máquina” trabalhar para você, a partir dos seus comandos, abre-se o espaço para inúmeras novas possibilidades.
A questão é que nunca fomos treinados para isso, então é como se fosse uma realfabetização. Eu comecei a usar o #ChatGPT 4.0 e ferramentas afins há não muito tempo, e sou apenas um aprendiz em estágio muito inicial. Mas já usei para coisas legais como:
- Criar uma argumentação de vendas para um caso específico a partir dos conceitos de um dos livros de negociação (vejam aqui o ganho de eficiência: segundo os conceitos do livro tal, como você argumentaria nesse caso?);
- Criar uma macro em VBA para uma tarefa que fazia manualmente no Excel - só que vou precisar de ajuda para implementar!;
- Fazer várias apresentações rápidas em PPT, a partir de conceitos que queria transmitir (interessante para treinar equipes, por exemplo, sem perder muito um tempo);
- “Discutir” com a IA a respeito dos benefícios e riscos de sua adoção generalizada no ensino e ganhar novos pontos de vista;
- Propor um brainstorming com 15 ações de publicidade não usuais, que nossos clientes poderiam fazer para a nossa comunidade online;
- Propor atividades não convencionais que poderíamos fazer em um evento inédito que faremos no ano que vem;
- Criar um roteiro de viagem nos vilarejos mais charmosos da Toscana;
- Argumentar sobre as escolhas profissionais de uma pessoa próxima;
O potencial é enorme, tanto na vida pessoal como no trabalho. No entanto, envolve uma mudança de paradigma a meu ver muito maior da que ocorreu do analógico para o digital (ou do papel para a internet). Primeiro, as possibilidades são muito mais amplas, e estamos apenas “scratching the surface” do que poderá vir pela frente; segundo, a mudança é tão drástica que os impactos serão grandes em várias dimensões e áreas.
Vejamos por exemplo o ensino, seja o ensino fundamental, médio ou superior. Conversando com algumas pessoas próximas que atuam com educação ou estudam, vejo que o uso da IA é pontual, controverso, desestimulado/bloqueado ou mesmo solenemente ignorado, com raras exceções. Isso certamente vai ter que mudar diante da enorme transformação em curso.
Mas as dúvidas e medos, existem, claro. Se os alunos podem fazer trabalhos usando a IA, será que de fato aprenderão, ou se tornarão preguiçosos? Que atividades serão colocadas no lugar, já que a eficiência de tempo será muito maior? Como usar a IA como uma ferramenta que permita que o aluno vá muito além do que iria pelas vias convencionais? Como estimular o senso crítico para buscar validar a informação obtida? Essas são algumas das questões envolvidas, todas elas dependendo do treinamento dos professores para essa nova realidade. Isso sem falar no fosso que se forma entre aqueles com acesso ao digital e os sem acesso, especialmente na rede pública. Entender como usar a IA para potencializar o ensino, otimizar o tempo e formar pessoas com maior repertório, demanda uma abordagem inovadora. É uma verdadeira mudança de mindset, em um momento em que se debate a proibição de celulares nas salas de aula (lembrando que o celular é de certa forma o instrumento de trabalho dessa nova realidade – no mínimo uma contradição!).
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O próprio papel da escola e da universidade, muda com o contexto.
Há uma passagem interessante relatada por Doris Drucker, esposa de Peter Drucker[1], mas que serve como uma boa analogia: quando a escrita foi disseminada, os sábios da época ficaram preocupados, porque ninguém mais precisaria ter conhecimento, já que, a partir de agora, tudo estaria escrito e, portanto, acessível sem uma análise mais crítica. Você não precisaria “saber” nada, bastava ir até os livros e “ler”. Até então, o saber era algo exclusivo, que não estava ao alcance dos comuns.
Se pensarmos nas universidades e escolas, o princípio que as criou era parecido. Um local exclusivo em que as pessoas com conhecimento (como os sábios) tinham a prerrogativa de explicar o que era importante saber, e como saber. Evidentemente, a internet começou a quebrar essa máxima (foi o equivalente à disseminação da escrita para os antigos), que agora será desafiada de vez pelos ChatGPTs da vida. Afinal, possuir o conhecimento não vai ser diferencial no futuro, já que quase tudo estará disponível, em grande parte de graça.
Saber a informação dá lugar a saber onde está a informação (primeiro passo), como acessá-la e como usá-la. Quantos números de telefone você sabe hoje, comparado a 15 anos? Quantos caminhos você sabe hoje, comparado ao passado, quando não tinha waze nem google maps? Passamos de estoque de conteúdo para fluxo de conteúdo. Em um mundo em que as mudanças são cada vez mais rápidas, isso faz cada vez mais sentido. Em um mundo em que a quantidade de informação nova se multiplica, saber simplesmente será ineficaz. Chegaremos ao ponto de “não saber quase nada”, e ainda assim (ou exatamente por isso) sermos eficientes? Saberemos o que de fato importa, e como utilizar o conhecimento disponível?
O fato é que a mudança está aí. Teremos que buscar olhar com novas lentes para não repetir o erro de percepção dos sábios do exemplo acima. E conseguir compor com a IA, indo além do que conseguimos fazer pelos métodos tradicionais. A tecnologia nos ajuda a otimizar o tempo, acessar a informação ou realizar uma tarefa de um jeito totalmente novo. Pense o quanto de tempo nós aprendemos a gastar com atividades que não agregam. Pense o tempo que aprendemos a gastar com atividades importantes, mas que não eram feitas de forma eficiente. A IA eliminará grande parte disso, abrindo espaço para o que quisermos. O trabalho árduo será substituído pelo trabalho inteligente. Mas temos de reaprender para preencher esse tempo livre com “qualidade”.
Por fim, vale dizer que, ao entrar para o mercado de trabalho, esses alunos serão cobrados justamente por ter produtividade. E a IA talvez seja o principal vetor de aumento de produtividade. “Alfabetizar” o aluno em IA será talvez mais importante do que grande parte dos conhecimentos que hoje são ensinados. A escola e a universidade devem contribuir para que os futuros profissionais aprendam a navegar nesse novo mundo.
O mercado de trabalho está ansioso. Ainda não recebi nenhum currículo em que consta “proficiência em ChatGPT ou CoPilot”, com exemplos de realizações que os candidatos fizeram usando a IA, mas tenho certeza de que isso vai ocorrer em breve. E eu contrato na hora!
E você, acha que a IA deve ser incentivada na formação dos alunos?
#tecnologia #IA #chatgpt #ensino #pessoas #treinamentodepessoas #gestao
[1] Segundo o ChatGPT 4.0: “Doris Drucker mencionou em seu livro Invent Radium or I’ll Pull Your Hair uma referência a essa ideia (obs: eu queria ter certeza, porque li há muito tempo). Ela relatou como alguns antigos sábios temiam a disseminação da escrita, acreditando que isso tornaria as pessoas menos sábias, uma vez que elas não precisariam mais reter o conhecimento, pois ele estaria disponível por escrito.
Esses sábios acreditavam que a escrita poderia prejudicar a memória e o entendimento, porque as pessoas passariam a confiar nos registros escritos em vez de aprender e compreender profundamente os temas. Essa visão é semelhante ao que Platão descreveu no Fedro, onde ele, através do personagem de Sócrates, discutiu que a escrita enfraqueceria a memória e a capacidade de pensar de maneira autêntica.”
Empreendedor na area de Recursos Humanos
5 mLigia Zotini Mazurkiewicz
Gestão Comercial| Vendas | Key Accounts | Novos Negócios| Relacionamento com Clientes| Zootecnista, mais de 30 anos em Nutrição Animal|
5 mÓtimas colocações Marcelo Pereira de Carvalho ! O uso da IA está transformando paradigmas na formação de pessoas ao oferecer novas ferramentas de aprendizado e otimização de processos. Contudo, é crucial ressaltar que o sucesso dessa integração depende do domínio do conhecimento humano para interpretar, filtrar e aplicar as tecnologias de forma ética e estratégica. O avanço tecnológico não substitui o papel do ser humano na educação, mas exige um equilíbrio cuidadoso entre inovação e discernimento para usar a IA de forma eficaz e responsável.
Dairy Specialist | CowSignals Expert | Senior Consultant @ Plenteous Consultoria
5 mExcelente artigo, com importantes reflexões. O domínio dessas ferramentas é imprescindível para nossa sobrevivência nesse mundão em constante transformação, e vai de fato muito além de ganhos em produtividade. Tenho uma preocupação, de que as novas gerações se tornem exímios "mestres da IA e afins" e percam ainda mais a capacidade de pensar, fazer conexões, e interagir positivamente com outras pessoas. O segredo é alcançar um bom equilíbrio entre o domínio e bom uso das tecnologias mantendo as habilidades sociais.
Liderança | Marketing | Eventos | Estratégia | Customer Experience | CRM |
5 mExcelente reflexão, Marcelo! Acredito que o uso de IA não só está transformando a maneira como formamos pessoas (e ainda tem um caminho exponencial de ampliação pela frente), mas também como desenvolvemos estratégias de negócios e eventos. No setor de eventos, por exemplo, a IA tem ajudado a identificar perfis de público, otimizar o engajamento e até personalizar experiências – e muito mais!-, o que tem sido uma ferramenta valiosa para a tomada de decisões mais assertivas. Eu acredito que a chave está no aprendizado sobre todas as potencias da IA (e como nossa rotina pode ficar menos exaustiva e produtiva) associado a nossa capacidade de análise crítica.
CEO ETICOM, IPGE, PriceLab *** M.Sc. in Governance, MBA Professor of Business Strategy & Execution, Budgeting, Pricing *** Founder: IPGE (1994) *** 30000 connections
5 mO IA é apenas uma ferramenta. Não pensa e não ensina a pensar. Hoje, no Brasil, 80% do povo não sabe pensar. Pobres que não conseguem comer jogam seu dinheiro na internet. O que IA pode fazer por essa gente de mente vazia?