O Uso do Melodrama nas Eleições

O Uso do Melodrama nas Eleições

O melodrama constitui uma chave de leitura pouco explorada nos estudos relativos ao comportamento político. Na ciência política, o processo de escolha do voto tem sido frequentemente explorado a partir do ponto de vista do comportamento racional. As teorias políticas que tomam como base a teoria econômica da racionalidade descartam a relevância do uso do melodrama na decisão do voto, assim como ignoram a personalidade individual do sujeito na escolha do candidato, bem como seus desejos, anseios e conhecimentos.

Escolher um candidato pela sedução, pelo engajamento emocional, seria um ato irracional, pois seria o uso de um expediente político para um fim não político. “A função política das eleições numa democracia, presumimos, é selecionar um governo. Portanto, comportamento racional vinculado às eleições é comportamento orientado para esse fim e nenhum outro” (DOWNS, 1999, p. 29).

Assim, os jingles, de forma específica, também sinalizam para essa mudança de foco da campanha, em que as escolhas no processo político deixam de se limitar ao formato racional, no qual o eleitor analisa de forma interpretativa e reflexiva as proposta do candidato, tomando sua decisão por aspectos quantitativamente previstos, passando a fazer uso de elementos musicais e visuais como fortalecedores de laços sociais. O som e a imagem não criam o cenário político, mas intensificam aspectos emocionais que motivam ações políticas.

Deste modo, reconhecer o potencial da música no jingle é o mesmo que reconhecer a importância das visões de mundo dos eleitores. Os efeitos musicais estão relacionados ao elo emocional estabelecido entre as pessoas e a política. A música tem efeitos sinestésicos sobre o ouvinte, dos quais resultam as respostas emocionais. Esse feedback emocional se dá por três organizações musicais – ritmo, altura e melodia, as quais transmitem “sentimentos” ao público, sendo que este responde aos estímulos como exaltação emocional e simpatia (POLI, 2008).  

A música é capaz de induzir afeto e permite construção de sentidos por parte dos sujeitos. No caso do uso da música em peça de campanha política, cabe observar o poder que o jingle ganha enquanto determinante na tomada de decisão do voto, uma vez que colabora na formação de impressões sobre o candidato, agindo na formação de julgamentos com base no estado de humor do eleitor. Este estado de humor, por sua vez, é alterado pela música e pelas significações individuais e coletivas estimuladas a partir dela. Diante disso, o melodrama ocuparia esse espaço de visão de mundo do eleitor, a partir do qual a música consegue manifestar seus efeitos emocionais.

O eleitor não é linear em seu processo de escolha do candidato, ele busca atalhos para sua avaliação. Diante disso, o melodrama poderia ser observado como atalho na campanha eleitoral. Pensar o voto pelo olhar racional não quer dizer a defesa do voto como um ato em benefício do bem-estar de toda a nação. Pela teoria econômica da racionalidade, o ato de votar ganha papel de defesa de interesses sociais e econômicos, sejam esses individuais ou coletivos.

Neste sentido, o jingle político funciona como arremate da campanha eleitoral, uma vez que, através da imaginação melodramática – construída socialmente, pela mídia e pelos programas eleitorais – cria engajamento político entre eleitor e candidato, por meio de engajamento emocional. O formato audiovisual que agrega música e imagem, desperta emoções individuais, independentes do contexto político, assim como coletivas, atreladas ao momento da eleição.

Finalizando, na modernidade, as crenças espirituais e os rituais começam a ser gradativamente substituídos por valores morais, difundidos pela pedagogia moralizante, que, no caso do melodrama, se utiliza da matriz melodramática do excesso para dramatizar a vida das pessoas. A complexidade do campo da comunicação política o leva, em alguns recortes teóricos, a uma aproximação com as ciências que tentam dar conta do imagético do eleitor, como a psicologia política.

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