Será mesmo que nada temos para dizer?
Em um de seus livros, o pensador indiano Jissu Krishnamurti, no capítulo que trata sobre arte, beleza e criação, faz um questionamento que considero impactante para o momento, se o contextualizarmos no tange à comunicação interpessoal. Ele pergunta: “Por que dar importância àquilo que é apenas um meio de comunicação, se nada temos para dizer?”.
A comunicação constitui um dos processos fundamentais da experiência humana, mas não é somente a troca de informação entre indivíduos. Ela envolve muito mais que isso. Além do nível dos fatos, das ideias, do imaginário, encontra-se também o nível dos sentimentos, fundamental nas relações humanas. Ou seja, existe o fato de estarmos ligados a alguém por um vínculo. Os laços pessoais, portanto, são importantes no processo da comunicação. Deve-se haver calor humano.
O que se faz hoje pelas redes sociais, e-mail, WhatsApp está muito aquém da comunicação efetiva, interpessoal, que considera o outro como semelhante e participante de sua vida de uma forma ou de outra. Geralmente, o que se tem é um vaivém de imagens, de vídeos, de links, de mensagens repassadas, textos de outrem, e, quando muito, pequenas frases grafadas em “internetês”, com o predomínio de consoantes, ou apenas o alinhamento de palavras desconexas. Usa-se o celular como meio de comunicação, mas nada se tem a dizer; há um vazio comunicacional imenso. Nunca se comunicou tão pouco em meio a tantas possibilidades de nos comunicarmos com as pessoas, especialmente de nossos relacionamentos mais íntimos, seja familiar ou de amizade.
Essa lacuna na comunicação entre as pessoas estaria relacionada ao esfriamento do amor de uns pelos outros? Seria por falta do que dizer ou simplesmente por medo de se expressar? Não vou entrar aqui no mérito da conversa informal tête-à-tête, no bate-papo despreocupado, no jogar conversa fora – esta última tão fora de moda, criticada, mas que faz um bem enorme, principalmente no mundo agitado em que vivemos. Refiro-me, especificamente, à comunicação via meios tecnológicos.
Destarte, em meio à síndrome chamada nomofobia, precisamos, como seres humanos, refletir um pouco mais sobre a forma como temos realizado nossa comunicação interpessoal.
Prof. Maurício Apolinário é licenciado em Letras, especialista em Gestão de Pessoas e Gestão Escolar, e atua como freelancer nas áreas de comunicação e educação. Revisor gramatical.
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