O vazio de uma vida ocupada demais

O vazio de uma vida ocupada demais

Esses dias eu assisti novamente Jerry Maguire- A grande virada, um filme dos anos 90 que conta a história de um cara muito bem sucedido na carreira, mas que, um belo dia, se permite sensibilizar pelo filho de um de seus clientes, e então decido escrever um "memorando" sobre como as pessoas são mais importantes do que o faturamento. Esse documento, que começou com apenas algumas páginas, tornou-se um lindo "dossiê", cheio de consciência e personalidade, mas que (obviamente) não combinava muito com as regras não escritas do mundo corporativo. O documento foi escrito de forma a transcender a todos os conceitos pré-fabricados que temos no trabalho e foi enviado para todos os funcionários da empresa em um momento de "lucidez", que acabou custando a sua carreira, em menos de 5 minutos.

Lembrei-me, então, de 03 histórias que marcaram muito a minha vida e que tem uma estreita relação com o filme citado e também com a reflexão que ele provoca, sobre como somos impulsionados a cair na armadilha de nos tornarmos pessoas distantes de nossa própria essência ou daquilo que gostaríamos de ser (ou do que imaginamos ser), e principalmente, nos coloca a pensar sobre como estamos utilizando o nosso tempo, esquecendo que não viveremos para sempre e do equilíbrio necessário entre o trabalho e todo o resto:

1- A primeira história é sobre uma reportagem que eu li há muito tempo, na sala de espera de um hospital, a respeito da “mulher que alimentava”. Uma biografia chocante sobre uma merendeira chamada Alice de Oliveira Souza, vítima de um câncer fatal e que deixou uma mensagem a ser divulgada, repetida e repensada milhões de vezes:

“É tão estranho”, disse ela. “Passei a vida inteira batendo o ponto, com horário marcado pra tudo. Quando me aposentei arranquei o relógio do pulso e joguei fora. Finalmente eu seria livre! Aí apareceu essa doença. Quando tive tempo, descobri que meu tempo tinha acabado.”

2- A segunda história é sobre um episódio do podcast Monalisa de Pijamas, em que os convidados comentaram sobre “Os cinco maiores arrependimentos dos pacientes terminais”, um texto baseado no livro americano “The top five regrets of the dying”, e publicado no site do hospital Albert Einsten.

O texto é, na verdade, uma análise da publicação, feita pela Dra. Ana Cláudia Arantes – geriatra e especialista em cuidados paliativos do Einstein – que comentou, de acordo com a sua experiência no hospital, cada um dos arrependimentos levantados pela enfermeira americana. O resultado mostrou o seguinte top five: 

1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim; 

2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto;

3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos;

4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos; 

5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz. 

E a dica da especialista é a seguinte: “se você pensa que, no futuro, pode se arrepender do que está fazendo agora, talvez não deva fazer. Faça o caminho que te entregue paz no fim. Para que no fim da vida, você possa dizer feliz: eu faria tudo de novo, exatamente do mesmo jeito”. 

3- E a última história, mas não menos importante, é sobre o Steve Jobs, um cara que foi demitido da empresa que ele mesmo fundou e sobre as 3 histórias de vida que ele compartilhou em seu discurso na universidade de Stanford em 2005. Disse ele:

"Quando eu tinha 17 anos, li uma citação que dizia algo como "se você viver cada dia como se fosse o último, um dia terá razão". Isso me impressionou, e mesmo anos depois, sempre me olho no espelho pela manhã e pergunto: e se hoje fosse o último dia da minha vida, eu desejaria mesmo estar fazendo o que faço hoje? E se a resposta for "não" por muitos dias consecutivos, sei que é preciso mudar alguma coisa.

Lembrar de que em breve estarei morto é a melhor ferramenta que encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo do fracasso - desaparece diante da morte, deixando somente aquilo que é importante. Lembrar de que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar armadilha de achar que você tem algo a perder. Não há motivo para não seguir seu coração."

Concluo portanto que, no final das contas, o seu trabalho é importante, mas não esqueça que você será substituído até mesmo antes do seu funeral terminar.


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