O VAZIO- by Ivana Lopes

O VAZIO- by Ivana Lopes

Seria injusto não escrever nada. Injusto não escrever nada sobre este vazio que assola a alma quando nos levantamos, sobreviventes de uma longa guerra sangrenta. Todos que passaram por isso entenderão do que eu falo. Levantar, olhar ao redor, e não encontrar uma alma parecida com a nossa, que nos conheça, que nos entenda, que nos chame de amiga ou de irmã.

Um sentimento que talvez tivesse o povo, ao fim da guerra, onde foi praticamente dizimado pelo inimigo. A grande pergunta pulando da boca. - Para onde vou? - Com quem?

Não é preciso uma guerra de verdade, com canhões, mísseis, bombas nucleares para haver uma grande devastação. Muitas vezes a guerra acontece no interior do interior de cada um, com quase nenhum espaço geográfico. Mas ela está lá, e devastou tudo. Levou bons momentos, de uma maneira que parece que eles nunca existiram, levou a alegria que agora também parece de mentira. Só deixou a dor, a mágoa, a lembrança da dor, a dor multiplicada por dois. Deixou o vazio. Silencioso, triste espaço onde não cabe quase nada, não cabe nem a saudade, afinal quem tem saudade da dor?

O vazio, triste espaço em branco. Ou seria melhor dizer, triste espaço em cinza? Mas aos poucos, a cada acordar, a vida nos empurra pra fora da cama, nos joga de cara pro sol que já vai alto, pra urgência das coisas que não querem nem saber como estamos. Nos empurra pro meio da multidão de aflitos das ruas, seguindo, seguindo sempre em frente, todos, inclusive a gente, sem saber pra onde ir.

O vazio nos faz caminhar, não dá pra voltar, atrás de nós, um campo minado e destruído. Sonhos dilacerados. Sentimentos pisados, esmagados. Só resta caminhar, refugiados de nós mesmos, sem terra prometida a nossa frente. Só bem lá no fundo uma centelha de esperança, de chegar a algum lugar onde se possa ao menos parar, parar de caminhar, descansar a alma, voltar a sentir paz.

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