Obrigada Pelo Seu Fracasso

Há um tempo viemos tentando desmistificar o sucesso, principalmente aqui no Brasil, onde ele foi sempre tão imaculado e protegido. Mas sinto que ainda temos um longo caminho a percorrer.

Quem ainda não ‘chegou-lá’ definitivamente não quer falar sobre o fracasso. Como se isso fosse diminuir os méritos que ele ou ela já conquistou. Como se fosse prejudicar a visão que essa pessoa precisa e está lutando para criar em torno de si.

Até consigo entender essa perspectiva. O pior não são esses casos. E sim os casos de quem já ‘chegou’. São pessoas que já falam sobre erros e fracassos, pois já é considerado cool dizer que você quebrou x vezes antes de abrir o negócio da sua vida. O problema é que muitas não expõem suficientemente suas vulnerabilidades.

O fracasso como fonte de motivação

Outro dia eu estava ouvindo um podcast sobre a história bem-sucedida de uma blogueira. Ela contou abertamente que seus textos, no começo, eram horríveis. Mas sabe o que ela fez com esses textos? Apagou. Tirou do seu blog.

Por quê?? Esses são os textos que quem está começando mais precisaria ler.

Não para usar como referência de aprendizado, é claro que quem está no começo da jornada precisaria se inspirar nos melhores exemplos para aprender. Mas com o simples objetivo de se automotivar.

Sabe aquele momento crítico em que você começa a duvidar de si mesmo, e cria desculpas para desistir ou adiar seu projeto mais um vez? É exatamente aí que você precisa ver que alguém já esteve na mesmíssima situação, e escolheu seguir em frente e possivelmente fracassar, independente do que os outros iam pensar. É exatamente aí que você precisa se apaixonar pelo processo. E não pelo resultado.

Me lembro sempre de uma frase do Flávio Augusto, do Geração de Valor, no primeiro podcast lançado do GV. Durante a entrevista com o Jovem Nerd ele disse ‘esse vai ser o pior podcast do GV’.

Tudo bem que esse cara já é muito bem-sucedido, e provavelmente quase qualquer coisa que ele faça vá sair acima da média. Mas a questão é que, com essa frase ele expôs uma vulnerabilidade. Ele abraçou o fato de que não estava 100% preparado e que fracassaria em algum nível no princípio.

Nós precisamos dessas histórias para compreendermos que os vitoriosos de hoje não começaram porque já estavam aptos, e sim tornaram-se mais aptos em algum ponto porque começaram. 

Similar à menina que falei no começo um outro escritor que acompanho também é categórico ao afirmar que, no princípio, seus textos eram bem ruins. Mas o que o diferencia dela é que ele não tem vergonha disso. Os textos estão todos lá para quem quiser ler.

Eu leio. Sempre que me vejo para baixo, ou que acho que os meus textos não são bons o suficiente... Preciso dizer que fazer isso me motiva bem mais do que ler Clarice Lispector. Então, obrigada pelo seu fracasso, querido escritor. Assim como você eu fracasso agora e vou fracassar amanhã. E se um dia eu ‘chegar lá’ não pretendo, de forma alguma, apagar esse começo. 

* Este artigo foi publicado originalmente no meu blog taissabordalo.com