Obstáculos à Inovação no Brasil e o que temos feito para superá-los (parte 2)

Obstáculos à Inovação no Brasil e o que temos feito para superá-los (parte 2)

No primeiro artigo desta série, compartilhei os principais motivos para que a Inovação seja tema prioritário em qualquer organização ("Inovar Para Quê?" (parte 1)).

Vimos que além de ser fundamental à continuidade das empresas, há também um forte aspecto socioambiental que justifica todo o esforço e investimento necessários para inovar, especialmente dentro do agronegócio.

Agora, nesta segunda e última parte, abordo o que acredito serem os maiores obstáculos à Inovação no Brasil e o que nós na MSD Saúde Animal estamos fazendo para superá-los. Além disso, compartilho algumas recomendações para (intra)empreendedores que buscam impactar positivamente a vida das pessoas.

OBSTÁCULOS

Apesar de o potencial e a importância da Inovação estarem cada vez melhor compreendidos, ainda há muitas barreiras para que possamos extrair o máximo valor das novas soluções, especialmente no Brasil.

O primeiro grande desafio é a mudança de modelo mental e de cultura. Como diz George Westerman, pesquisador e palestrante do MIT Initiative on Digital Economy, por mais sexy que seja especular sobre Inteligência Artificial, Robótica e IoT, o foco apenas na tecnologia pode levar a uma direção perigosa, porque quando falamos sobre Transformação Digital, não é sobre o “digital”, mas sim sobre a “transformação”!

Ou seja, não adianta a empresa adquirir sensores e softwares se não mudar a maneira de trabalhar, não aproveitar o potencial transformador das soluções. Organizações com modelos de negócio obsoletos que investem em tecnologia, sem trabalhar simultaneamente a evolução da cultura e dos processos, tornam-se apenas organizações obsoletas mais caras.

É preciso avaliar de forma ampla e criativa as possibilidades que a tecnologia traz, para então desafiar os conceitos e práticas vigentes. A inovação deve gerar algum resultado concreto, como por exemplo viabilizar o acesso a novos mercados, garantir maior qualidade ao produto, entregar uma experiência superior do cliente, ou melhorar a eficiência operacional. Tal potencial só é realizado ao se ajustar a forma de pensar e operar o negócio como um todo, adequando cada elo da cadeia que pode se beneficiar.

Especialmente nas cadeias de produção animal, vemos que em alguns casos houve uma espécie de “corrida do ouro” para implementar novas soluções que geram enormes quantidades de dados. Porém, passada a euforia inicial, percebe-se que sem uma aplicação clara, sem insights que cheguem às mãos dos decisores no momento correto e de forma que direcione a ação, isto gera apenas mais burocracia e confusão.

Outro grande obstáculo ainda é a falta de conexão à internet. Segundo dados do IBGE, 40 milhões de brasileiros ainda não tem acesso algum à rede.

Como a maioria das novas soluções dependem de conexão para que se possa capturar todo seu potencial, enquanto este gap não for coberto, dificilmente será possível termos uma ampla adoção de inovações, principalmente se comparada a países mais desenvolvidos.

Ainda mais importante é a chegada iminente da tecnologia 5G, que reduz incrivelmente a latência, ou seja, o tempo que um dado leva para sair do emissor e chegar ao receptor. Hoje com o 4G este processo é de cerca de 50 milésimos de segundo, enquanto com o 5G cai para 1 milésimo de segundo.

Esta diferença viabiliza uma enorme gama de novas soluções, como veículos autônomos, cirurgias a distância e cidades inteligentes. Porém, esta tecnologia convergindo com a expansão e evolução de outras como a Internet das Coisas, a Inteligência Artificial e Realidades Mistas, promete gerar uma revolução ainda maior do que ocorreu com o 4G, agregando mais de 13 trilhões de dólares à economia mundial e gerando mais de 22 milhões de empregos até 2035, de acordo com o World Economic Forum.

Isso nos leva a crer que o que conhecemos hoje em termos de possibilidades é apenas um vislumbre do que realmente pode vir a ser, e muitos países, especialmente EUA, Coréia do Sul e China, já estão trabalhando aceleradamente na criação deste futuro.

No Brasil, o leilão das licenças de serviços 5G aconteceu recentemente. Isto vai viabilizar o desenvolvimento interno de produtos e serviços com base na rede da quinta geração, possibilitando nos tornarmos produtores relevantes de novas aplicações, e não apenas compradores.

O gap quantitativo e qualitativo de mão-de-obra no campo é outro importante obstáculo. O desemprego no país é um problema mais urbano do que nas áreas rurais, onde há uma necessidade crescente de trabalhadores qualificados.

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No Brasil, 29% da população entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Isso significa que mais de 40 milhões de brasileiros em idade ativa não conseguem interpretar um texto simples.

Com a crescente adoção de tecnologia, será necessário contar com pessoas capacitadas para implementá-las e operá-las e quando se há um contingente tão relevante com este nível de déficit educacional, o país como um todo passa a estar sob risco de perda de competitividade e relevância no cenário global.

O professor e autor Yuval Harari alertou que há um importante risco da disrupção tecnológica criar um abismo social ainda maior do que existe hoje, especialmente em países pobres. Portanto, o avanço da educação no Brasil se torna ainda mais prioritário na era digital, e atuar para que as metas do Plano Nacional de Educação (PNE) sejam cumpridas torna-se um dever de todos, pois é uma questão não apenas econômica, mas também social.

Outras barreiras importantes para maior adoção de soluções tecnológicas são o acesso à informação e o alto custo, especialmente no campo.

Em pesquisa realizada pela Embrapa, Sebrae e INPE, 41% dos 504 agricultores entrevistados disseram que falta conhecimento sobre quais seriam as tecnologias mais apropriadas ao seu negócio, enquanto 67% apontou o valor do investimento como uma importante barreira à adoção de novas soluções.

Considerando que os pequenos produtores respondem por 77% dos empreendimentos voltados ao agronegócio no Brasil, o acesso a informação e a crédito são ainda mais importantes para a ampliação do uso de tecnologia.

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É papel de todos os atores do setor trabalhar para democratizar a inovação, pois apenas dessa forma nos manteremos protagonistas na missão de alimentar o mundo.

E vale lembrar para as organizações envolvidas no desenvolvimento de soluções inovadoras, que não se trata da tecnologia, mas sim do valor criado. Entenda qual é o problema que se pretende resolver, qual é o benefício que se pretende gerar e foque nisto, ao invés de tentar fazer a necessidade do seu potencial cliente se adaptar à sua ideia.

A inovação tem o potencial de endereçar todas as barreiras citadas acima, portanto, este pode ser um bom ponto de partida para (intra)empreendedores que buscam fazer a diferença!

A INOVAÇÃO NA MSD SAÚDE ANIMAL

A MSD é uma multinacional americana, presente em mais de 140 países e que há mais de 130 anos atua em saúde humana e animal com o propósito melhorar a vida das pessoas e a saúde e bem-estar dos animais.

Em 2015, a liderança global da unidade de Saúde Animal percebeu que as tecnologias emergentes poderiam ter um impacto importante na forma com que os animais eram criados, diagnosticados e tratados, assim como na experiência e conexão dos tutores com seus pets. Com isto, foi criada uma corporate venture chamada MSD Animal Health Ventures que tem como missão prospectar e investir em empresas de tecnologia em diferentes estágios de desenvolvimento.

Após a aquisição de algumas empresas como Antelliq, Quantified AG e Identigen, em 2020 formou-se uma nova unidade de negócios global com foco exclusivo na democratização de soluções tecnológicas inovadoras, chamada MSD Saúde Animal Intelligence, e partir daí diversas outras aquisições foram feitas, reforçando a presença e liderança da companhia neste novo mercado.

Já no Brasil, a partir de 2019, a Inovação passou a ser um dos pilares da nossa cultura organizacional, e criou-se uma nova diretoria de Estratégia & Inovação, com a missão de apoiar a companhia a maximizar o core business e, simultaneamente, criar e desenvolver novos motores de crescimento, além do negócio principal.

Contamos também com a Universidade MSD, que há mais de 10 anos capacita centenas de profissionais em habilidades técnicas, gerenciais, comportamentais e de inovação. Criamos um MBA Executivo em Liderança e Desenvolvimento do Potencial Humano, que este ano teve suas portas abertas para o mercado, oferecendo inclusive vagas para bolsistas afrodescendentes.

Também temos um forte compromisso com a sustentabilidade e o bem-estar animal. Fomos pioneiros na utilização de dispositivos de vacinação intradérmicos em suínos, que, por não ter agulhas, reduz o stress e a dor dos animais, abcessos, riscos de ferimentos, perdas produtivas e descarte de resíduos.

Outro exemplo nesta frente é o programa Criando Conexões, em que profissionais são capacitados em técnicas de manejo de baixo stress que melhoram a resposta imunológica dos animais, contribuem para um ambiente mais seguro tanto para o manejador quanto para o animal e reduzem drasticamente o índice de lesão de carcaça durante o transporte.

Recentemente lançamos a tecnologia Sphereon que inova na formulação e embalagem de vacinas vivas de aves, permitindo a reciclagem de 100% dos resíduos sólidos. Além disto, fechamos uma parceria com a ONG We Forest em que apoiamos o reflorestamento de áreas desmatadas no Brasil, Índia e Zâmbia.

Por fim, entendemos que cada vez mais os ativos que irão proporcionar vantagens competitivas estarão fora das fronteiras das organizações. Por isso, temos trabalhado para construir um ecossistema de start-ups, hubs de inovação, órgãos governamentais, universidades e outras empresas estabelecidas que possam fortalecer e complementar soluções que impactem positivamente a sociedade.

Deixo aqui um convite: não vamos apenas nos adaptar ao que está por vir, mas sim criar juntos um futuro que seja melhor, mais justo e saudável para todos!

Edilene Leticia do Nascimento Pereira

Green Belt Lean Six Sigma | Outbound Sales & Marketing | Analista de Marketing da WV Investimentos | Vice-presidente da Staff Consultoria

2 a

Parabéns pelo artigo e apresentação na Iguassu Valey, destacando a importância da inovação alinhada com o campo da sustentabilidade

Lucas Akira Isawa

Estagiário | Eng. de Produção | UTFPR

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Ótimo texto e ótima apresentação na Iguassu Valley!!! Parabéns 👏👏

Gustavo De Vita

DeVita Rural Projetos e Soluções Agroambientais

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É preciso afiar o machado, já dizia Dr. Lincoln … belo texto, parabéns!

Eduardo Ibrahim

CEO Humana University | Global Faculty SU.org | Autor de Economia Exponencial | Palestrante

3 a

Visão e clareza mais uma vez 👏👏👏

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