Ociosidade e pausa: quem são e onde vivem?

Já há alguns anos tenho a sensação de que, de dezembro a dezembro, estamos sempre no mesmo ritmo. As festas são um momento de celebração, união ou reflexão, mas no dia seguinte, voltamos à intensidade e aceleração.

- Vem feriado ai!

- Opa, passou e nem sentimos...

E o que justifica esse tempo voando? Será o excesso de dopamina no corpo, gerado pelas centenas de estímulos diários? Será culpa da aceleração das voltas da Terra em torno do Sol? Será que Freud explica? rs

Aqui não me refiro a ter ou não ter alguns dias de parada no trabalho, férias ou feriados. Me refiro a como estamos nos comportando diante desses dias.

Entramos em um mood onde parar soa negativo. Onde as pessoas sentem vergonha de fechar a telinha e descansar, de pedir a folga para resolver o BO pessoal. Vergonha de não estar ali disponível para produzir (vejam que a produção em si si pode nem acontecer, mas há a necessidade de se colocar a disposição).

Imagina não produzir nadinha o dia todo?! (mas o que mesmo estamos chamando de produzir? O que mais fazemos ao longo dos dias é produzir. Ocorre é que nem sempre somos reconhecidos por isso rs... coisas da vida adulta). Mas, que tal apenas parar e se divertir? Ouso dizer que surgem muito mais insights e soluções para problemas no momento da descompressão, do que o contrário (Domenico de Masi fala sobre isso em O ócio criativo).

É preciso se atentar para que o trabalho não vire um vício de ocupação, que ora é substituído pelas redes sociais e ora é ocupado por curtas horas de sono. Nesse caso, o que sobra é a dependência constante da dopamina gerada nesses momentos de busca por algo que não sabemos exatamente o que é, mas que acreditamos estar do outro lado da telinha.

As vezes o caminho ao bem estar está ao seu lado, te esperando para tomar um drink, um café ou para um almoço. As vezes pode ser um livro ou um filme, uma corridinha na rua ou uma panela de brigadeiro. As vezes é somente o momento de estar presente para si.

Respondendo ao título: Mas e a ociosidade e a pausa?

- Bem, essas, não nos parecem estar muito em alta, dado os seus significados:

Ociosidade: qualidade, estado ou condição de ocioso; inatividade. Falta de disposição, pressa ou empenho; preguiça, indolência, moleza.

Pausa: suspensão temporária de ação ou movimento. Falta de agilidade; morosidade, lentidão.

Quem aí deseja ser visto na ociosidade ou na pausa, se o significado ecoa inatividade, preguiça e falta de agilidade? Precisamos literalmente rever nossos conceitos e não ser enviesados por eles.

Está tudo bem apenas deitar, tirar uma soneca, preparar uma comidinha, sair para resolver suas coisas e estar com quem se gosta. O importante é se organizar ao longo dos dias para isso acontecer.

Gerencie seu tempo, coloque metas diárias, descreva suas atividades para não perdê-las de vista e mantenha uma rotina de report / apresentação. Quando você reconhece o trabalho que faz e o evidencia, você não precisa mostrar que está disponível para produzir, porque você sabe que está de fato produzindo e aí, as correntes da cobrança se soltam e você fica livre para viver outras coisas. Isso é gestão de tempo, de processos e de rotina. É simples, mas requer disciplina e pode ser dificultado pela dose de ansiedade de parar para arrumar 'a casa'. Arrumar a casa significa mapear suas atividades, organizar o que é prioridade e delegar o que for possível. Se tudo é urgente, nada é urgente! Provavelmente você está entregando o que tem menor valor, impacto ou prioridade, por não estar conseguindo perceber o todo. O fato de escrever o que você está fazendo, dará dimensão e senso de organização. Apenas comece fazendo o que você tem aí, do jeitinho que está aí. Se esperarmos o modelo perfeito, ele nunca vai chegar, porque não existe modelo perfeito. existe o modelo que funciona e que semana a semana, vamos aperfeiçoando.

Ufaaa!! Um leve distanciamento do turbilhão já te faz perceber melhor as coisas. Uma leve pausa para reorganizar a vida já te dará mais tempo para ter ociosidade e pensar estratégias ainda melhores. Parece incoerente, mas quanto mais tempo você tiver, mais e melhor, você trabalha. Estar ocupado não significa ser produtivo.

Valorize o trabalho, mas não se esqueça de que sem vida, não há produtividade!

Como está sendo o seu dia? Onde estão as suas pausas?