Olho de Pavão (Fusicladium oleagineum (Castagne) Hughes
(=Spilocea oleagina Cat.)
Gilberto Lopes

Olho de Pavão (Fusicladium oleagineum (Castagne) Hughes (=Spilocea oleagina Cat.)

Gilberto Lopes

O olho de pavão (Fusicladium oleagineum (Castagne) Hughes (=Spilocea oleagina Cat.) é uma das doenças mais importantes do olival.

Afecta todas as variedades, existindo umas mais sensíveis que outras, podendo haver algumas variedades que toleram melhor a doença. Pode provocar uma forte desfolhação e queda prematura das folhas, enfraquecendo a planta, contribuindo para uma diminuição da produção de flores e originando a queda precoce dos frutos.

As lesões manifestam-se na página superior das folhas, na forma de manchas circulares, com diâmetro variável, de poucos milímetros a 1 cm, fazendo jus ao nome vulgar “olho de pavão”, fazendo lembrar o padrão distinto das penas da cauda dos pavões. A coloração é variada, misturando tons de castanho, amarelado a verde de forma concêntrica. Com o avançar da doenças, a coloração ganha tons “negros”. Para além das folhas, podem também atacar pedúnculos e frutos.

Durante as épocas desfavoráveis o fungo sobrevive nas folhas caídas no solo e em folhas afectadas que permanecem na arvore. Sendo estas ultimas as principais responsáveis pelas infeções Depois de um período húmido e com as condições favoráveis ao desenvolvimento da doenças originam-se novas infeções, produzindo os sintomas descritos anteriormente.

Podemos dividir o ciclo da doença em 3 fases: Germinação, Incubação, Esporulação e Disseminação.

Germinação: os esporos dispersam-se através da chuva, vento ou insectos. Uma vez depositados sobre os tecidos sensíveis, a germinação só ocorre se tivermos precipitação ou humidade relativa superior a 98% com temperaturas compreendidas entre os 8 e 24ºC.

Incubação: tem lugar nas células sub-cutículares das folhas, onde se estabelece a infeção e começa a desenvolver-se o micélio do fungo. Para o estabelecimento da infeção, necessitamos chuva ou uma atmosfera saturada (HR elevada) durante 1 ou 2 dias e temperatura (5-25ºC). A duração do período de incubação da doença, entre a entrada do fungo na planta e o aparecimento dos primeiro sintomas pode durar de 2 a 15 semanas, dependendo de vários fatores como a temperatura, humidade relativa, idade das folhas e susceptibilidade das variedades.

Esporulação: os esporos que espalham a doença, aparecem na página superior da folha.

Disseminação: Os conídios ou esporos são dispersos principalmente pela chuva. As infeção posteriores ocorrem principalmente no sentido descendente da arvore (áreas inferiores mais afetadas).

As folhas jovens são muito mais susceptíveis à doença do que as mais velhas, portanto a protecção das novas rebentações é crucial.

O final da primavera é crítica para o tempo da infeção, se neste período o tempo for fresco e chuvoso, a abundância de inóculo e a presença de folhas novas podem dar lugar a infeções severas que permanecem latentes durante o verão, sendo a principal fonte de inóculo para o outono-inverno, que com as primeiras chuvas de outono ativam os conídios que sobreviveram ao verão desenvolvendo a doença.

Os prejuízos associados a esta doenças passam essencialmente em caso de ataques severos e sem qualquer tipo de controlo por desfoliações intensas, levando a um enfraquecimento da arvore, impedindo a diferenciação floral e como consequência uma diminuição do potencial produtivo. Quando o fruto sofre ataques, estes caracterizam-se por zonas necrosadas, parando o crescimento e atrasos na maturação. No pedúnculo da azeitona podem surguir manchas cinzentas alongadas, causando interrupção na circulação da seiva, ficando o fruto o fruto engelhado, seco e mumificado, acabando por cair.

No que se refere à sensibilidade das variedades, estas podem ser consideradas de sensíveis (Picual, Cornicabra, Cordovil de Serpa, Negrinha, Madural, Redondil, Carrasquenha de Elvas, Maçanilha, Conserva de Elvas, Hojiblanca, Picudo,), mediamente sensíveis (Gordal, Cobrançosa), pouco sensíveis (Galega vulgar)

Se por um lado temos sintomas que podemos observar à vista desarmada, temos formas latentes do fungo. Neste caso podemos fazer uma recolha de folhas no olival e posteriormente introduzi-las numa solução de NaOH a 5% durante 2 a 3 minutos. Este método é efetuado em folhas novas à temperatura ambiente, em folhas velhas deve ser realizada a 50-60ºC. Em presença de ataque, poder-se-á observar na página superior da folha manchas circulares escuras (opacas) que não são mais do que o inóculo latente.

Fonte: Ficha de Divulgação n.º 28/2015 - Estação de Avisos Agrícolas do Algarve

Como meios de luta para esta doença devemos dar preferência aos meios de luta cultural, onde devemos destacar práticas que dificultem o desenvolvimento da doenças tais como: evitar copas muito fechadas, efetuando podas que permitam um bom arejamento da copa e com renovação de folhagem, evitar adubações azotadas exageradas, dar especial atenção aos terrenos pobres em calcário e corrigir as deficiências de potássio. Evitar sempre que possível compassos que promovam pouco arejamento das copas.

Outa forma de luta é a genética, utilizando variedades reistentes ou médiamente suscetíveis.

Em conjugação com os métodos anteriores a luta quimica desempenha um papel fundamental para um bom controlo desta doença. Ponderar a utilização dos fungicidas, dentro dos autorizados para a finalidade, os que apresentam os menores efeitos secundários para o Homem, ambiente, auxiliares e outros organismos não visados. Os fungicidas disponíveis devem ser utilizados preventivamente em função do risco da doença, posicionados de acordo com as condições de aprovação e características biológicas (mobilidade na planta, atividade biológica, persistência de ação, etc.). Sobretudo deve ter-se em consideração que os fungicidas cúpricos atuam preventivamente, por contacto, através da inibição da germinação dos esporos do fungo. Por isso, é fundamental que, por um lado, o olival esteja protegido antes da ocorrência de condições favoráveis à germinação desses esporos e, por outro lado, que toda a copa, e em especial as zonas mais baixas e interiores, sejam bem molhadas, com a calda.

Para além dos fungicidas cúpricos, actualmente existem outras soluções (IBE's, estrobilurinas, ou mistura de IBE's + estrobilurinas)com outra mobilidade na planta que nos permitem fazer uma boa gestão do controlo da doença, sabendo que existem limitações a nivel europeu no que diz respeito à quantidade de cobre metal a utilizar por ano (max. 4 kg/ano/ha).

Em suma, a prevenção é a melhor arma para combater esta doença.

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