Onde estão as oportunidades
Correio Braziliense - 15/01/2018
A retomada da economia em 2017, com crescimento estimado em 1%, favoreceu a geração de empregos no país. Levantamento do portal Trabalho Hoje, realizado a pedido do Correio, aponta que 17 das 27 unidades da federação voltaram a criar vagas entre janeiro e novembro. O fechamento de postos ainda ocorre em três estados do Norte, seis do Nordeste e um do Sudeste, o Rio de Janeiro. A pesquisa analisou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, que contabiliza empregos com carteira assinada.
No topo da lista, São Paulo (92.357), Minas Gerais (51.884) e Santa Catarina (49.058) são os estados que mais abriram vagas no período analisado. No Distrito Federal, o saldo é positivo, mas o aumento foi de 664 empregos. Entre os 5.570 municípios brasileiros, São Paulo lidera o ranking dos 15 que mais contrataram entre janeiro e novembro, com a criação de 9.871 vagas formais. Outras quatro cidades paulistas estão na relação.
Joinville (SC), com 7.406 empregos gerados, é a vice-campeã. Outras três cidades catarinenses fazem parte das 15 que mais contrataram. Completam o ranking dois municípios de Goiás, entre eles Goiânia, dois de Minas Gerais, um de Mato Grosso e um do Rio Grande do Sul.
Entre as ocupações que mais geraram emprego, a pesquisa aponta alimentadores de linhas de produção, com abertura de 96.563 vagas. Na lista das cinco primeiras posições estão ainda vendedores e demonstradores em lojas ou mercados (47.494); escriturários, agentes, assistentes e auxiliares administrativos (41.163); trabalhadores nos serviços de manutenção de edificações (39.646); e trabalhadores agrícolas na fruticultura (30.073).
Na outra ponta, as demissões atingiram principalmente trabalhadores da construção civil (-27.279); supervisores de serviços administrativos (-24.329); gerentes administrativos, financeiros e de riscos (-22.956); vigilantes e guardas de segurança (-17.972); e gerentes de marketing, comercialização e vendas (-16.141).
Responsável pelo levantamento, o especialista em mercado de trabalho Rodolfo Peres Torelly detalha que a geração de postos de trabalho se concentrou em ocupações de menor nível de qualificação, com salários menores. “As contratações se concentraram no chão de fábrica. Cargos gerenciais foram extintos diante da necessidade de ajuste das empresas ao nível de demanda”, avalia. “A tendência é de que 2018 seja melhor para a geração de emprego formal.” Entre os fatores que devem delinear um ambiente mais favorável para o mercado de trabalho, ele inclui as mudanças nas leis trabalhistas, como a flexibilização das normas para contratação e a extensão de até seis meses para emprego temporário.
Apesar do otimismo, Torelly explica que os números de 2017, ainda não fechados, devem terminar com número menor de vagas abertas do que no ano anterior, apesar dos resultados positivos de boa parte do período. Segundo ele, dezembro é historicamente um mês de demissões, com média de 500 mil postos formais encerrados. “Com isso, o Brasil deve terminar com saldo negativo de até 200 mil postos”, projeta.
Um entre milhões de desempregados do país, Carlos Silva, 23 anos, formou-se em Relações Internacionais, em 2016 e, desde então, procura uma vaga no mercado formal. Ele tem apostado em sites especializados em mão de obra, buscado indicações de amigos e parentes, além de entregar currículos pessoalmente. A principal barreira para a conquista do primeiro emprego, conta, é a exigência de experiência profissional. Segundo Silva, algumas empresas não consideram estágios como experiência e as vagas são disputadas por pessoas com melhor currículo. “E os processos seletivos, mesmo aqueles de trainee, não costumam ser transparentes e nem sempre dão uma resposta, deixando o candidato no escuro”, critica.
Formada em moda, Mohana Jensen, 25 anos, conseguiu emprego há um mês e meio como vendedora em uma loja de bolsas. Até encontrar essa vaga, por indicação de amigos, ela enviou o currículo para diversas lojas, mas recebeu poucos retornos. “Entrei em grupos de oferta e procura de empregos nas redes sociais, falei com amigos, enviei currículos nos e-mails de empresas, mas a demanda é muito grande para pouca oferta”, comenta.
Segundo Mohana, em consequência da alta concorrência, algumas pessoas começam a trabalhar em um setor diferente da formação profissional. “O mercado está em trânsito. Acredito que este seja um bom momento para investir em capacitação, de forma a abrir portas quando o mercado de trabalho tiver uma melhora mais notável”, completa.