OPINIÃO: Qual será o futuro dos estudantes de Relações Internacionais ?
Primeiramente, esse texto todo, será uma indagação. Então não teremos aqui uma resposta para a pergunta do título mas sim, talvez, o inicio de uma discussão sobre o futuro dos estudantes, do curso e da carreira.
Por mais um ano, o curso de Relações Internacionais foi um dos mais concorridos do vestibular da USP 2016, estando quase no mesmo patamar de Medicina. Com um curso tão concorrido, o que será dos estuantes que estarão se formando daqui 4 anos ?
A graduação em Relações Internacionais é um curso teoricamente novo, se comparado com outros mais tradicionais, e ainda precisa de muita evolução. Porém, como um curso pode evoluir se o mesmo está, ao meu ver, fadado ao declínio ?
Na minha opinião de bacharel em RI, ou melhor "Internacionalista", a graduação acompanha o momento politico e econômico que o Brasil vive. Durante os anos de crescimento econômico e expansão de influência politica internacional brasileira, o curso de Relações Internacionais bombou, várias universidades e faculdades decidiram abrir um curso de graduação em RI e esse gênero chegou a ser considerado como o "Curso do Futuro". E a popularidade do curso se deu pois vários adolescentes da época (assim como eu) aproveitaram o momento econômico para viajarem, ingressarem em programas de intercâmbio, conhecerem um pouco o mundo e quando voltaram ao Brasil, optaram por um curso que possuía um viés mais "internacional".
Pois bem, a popularidade do curso foi lá em cima, milhares de adolescentes que não sabiam o que queriam da vida optaram por escolher R.I (talvez a adm do século XXI), cursaram e se formaram. Mas depois do diploma, o que veio a seguir ? Para muitos, não foi uma carreira na "área de RI".
Relações Internacionais é algo de suma importância num mundo globalizado com o de hoje, mas parece que as empresas no Brasil não entenderam o momento pelo o qual o curso de RI passou. Na verdade, poucos entenderam.
Talvez a grande falha para o possível fracasso do curso seja a falta de uma grade de aulas única (as instituições lecionam no curso de RI aulas que acham importante ou que obedeçam as ideologias da instituição, não há um padrão no curso, como o caso do Direito, por exemplo) e também a falta de definição da carreira de um Internacionalista. Hoje, um cara que faz Medicina torna-se médico, um cara que faz Direito e passa no exame da ordem torna-se advogado, aquele que cursa arquitetura torna-se arquiteto, todas as carreiras são bem definidas. O cara que cursa e se forma em Relações Internacionais torna-se o que ? Bacharel em RI ? Internacionalista ? Diplomata Corporativo ? Analista Internacional ? Enfim, essa falta de definição é mortal para uma pessoa que quer sair da faculdade e arranjar um bom emprego e começar a viver a vida de gente grande.
No principio, o curso de RI era visto como uma bela opção para se ingressar na carreira diplomática. Com a pouca oferta de vagas anuais no Itamaraty, aqueles que não conseguiam ingressar no CACD, voltavam-se para empresas em vagas de COMEX e Adm. Com o ápice do curso, algumas empresas conseguiram captar a essência do curso e passaram a oferecer vagas de emprego que focavam naquilo que o curso de RI realmente ensinava. Agora, essas vagas estão ocupadas, deixando os recém-formados novamente reféns de vagas que não são de sua área, mas que são "parecidas".
Um adolescente já vive um grande dilema na hora de escolher um curso e uma universidade, já que deve escolher o seu futuro sem ao menos conhecer o que vai ser dele. Ele olha então para a carreira, pois quem cursa uma universidade visa a sua carreira profissional. Se ele ver que o mercado está totalmente fechado a novas oportunidades para os alunos de RI, ele vai escolher outra coisa. E aí, diminui o numero de alunos por sala de aula, professores são demitidos, cursos são fechados e consequentemente o curso em si entra em colapso, voltando a ser aquilo que era antes (apenas um curso oferecido por poucas instituições, que visam majoritariamente o Itamaraty).
Mas e então, o que acontece com os recém formados de agora ? Muitos estão trabalhando em outras áreas, outros voltaram a estudar em outros cursos, alguns arriscaram nos concursos públicos, mas nada está certo para o futuro dos estudantes de RI.
Como eu disse lá em cima, esse texto é só pra levantar algumas questões, de alguém que está um pouco preocupado com o próprio futuro. Na minha opinião, para que o curso não "desmorone" é necessário criar um foco para o curso. E também para a carreira. Toda empresa precisa de um departamento que analise as mudanças no mundo, ou no país em que atuam, para que possa tomar medidas estratégicas e é aí que um Internacionalista entra. Isso e outras coisas, já que um estudante de RI se adapta facilmente a diversas funções, desde que visem o âmbito internacional.
Só espero que esse ponto seja notado o mais cedo possível, para que possamos desenvolver uma base sólida no curso de RI e possamos ter profissionais cada vez mais centrados e focados em uma carreira específica.
Bacharel em Turismo
5 aVcs acham que, com o acordo entre Mercosul e União Europeia, vão ter mais oportunidade de emprego para os internacionalistas ?
Senior Director, Government & Public Affairs, Americas at The LEGO Group
8 aSou formada em RI e trabalho na area internacional de uma empresa, mas conversando com a nova geracao de "internacionalistas" escuto (mais do que eu gostaria de ouvir) esse tipo de frustracao e duvida sobre a carreira. Acredito que os professionais de RI tem muito a oferecer, mas concordo que eh necessario mudancas estruturais tanto nos cursos para torna-los mais adequados a realidade de mercado quanto dentro das empresas brasileiras para conseguir absorver adequadamente este tipo de professional dentro da empresa.
Especialista Relaciones Internacionales | Project Manager | Grado Empresariales | Postgrado Relaciones Internacionales | Máster Políticas Sociales | Máster Smartcities | MBA Marketing & Gestión Internacional | SCRUM
8 aAcredito que o Brasil precisa aumentar seu grau de internacionalização, o país ainda está muito atrasado no ranking mundial, por esse motivo o trabalho no setor privado ainda é pouco. Por outro lados as instituições e organizações internacionais devem flexibilizar seus processos seletivos permitindo a mobilização dos profissionais no território nacional em lugar da concentração de vagas em Brasilia, São Paulo e Rio de Janeiro.
Talent Acquisition | Recursos Humanos | Global Mobility | Operações de RH | Generalista | Relações Internacionais |
8 aCaro Matheus, agradeço pelo texto e a oportunidade de debate-lo. Concordo em certa parte com o seu texto. Não vejo como falha a postura das faculdades em adotar a grade curricular de acordo com a sua ideologia e escolha própria E sim, um trunfo pois qualifica o aluno além do Curso de RI que como você mencionou é novo. O mercado está exigindo a especialidade do individuo e não um generalista. Tambem vejo que alguns cursos focam demais na Teoria e deixam as matérias voltadas ao ambiente corporativo quando o aluno já está procurando estágio ou emprego colocando o aluno em desvantagem. Porque em algum processo seletivo ele vai disputar um profissional de ADM, Economia e Direito. Por fim não me arrependo de ter cursado RI e sim de não ter me preparado profissionalmente antes de entrar na faculdade.