Orgulho LGBT: só na publicidade?

O cálculo é simples: mês do orgulho LGBT e cada vez mais agências publicitárias incentivando diversidade, o resultado é a “obrigatoriedade” que se instala no mercado de toda marca ou empresa se associar ao público LGBT por meio dos anúncios e materiais de veiculação do discurso de responsabilidade social da instituição.

Na prática, vivemos um momento fértil, no qual sabemos que o outro é um público importante. Se não somos humanos solidários o suficiente, no mínimo, todos sabem reconhecer que a população negra, idosos, mulheres, pessoas com deficiência e as LGBT são consumidores que importam. Não dá para deixar ninguém para trás. Tanto em nível individual quanto em nível organizacional, é preciso ser “pra frente”, ético e se livrar dos preconceitos.

Contudo, muito se diz e pouco se faz. 61% dos profissionais LGB brasileiros escondem sua orientação no trabalho. O público T não conta com o mesmo “privilégio” de poder esconder suas respectivas identidades de gênero, logo, é são jogados e jogadas para as posições subalternas ou para destinos de sobrevivência como a prostituição. Já quem não esconde, pouco fala abertamente sobre a questão com os colegas de trabalho.

Muitos profissionais LGBT não se sentem confortáveis nos processos seletivos e outros são descartados, facilmente, pelos recrutadores que fingem que a diferença não é um fator. A meritocracia é a pílula calmante que todo mundo toma para poder dormir no fim do dia. Quando existe o acesso, são LGBT que não chamam atenção.

Muitas vezes o estigma e a discriminação colocam as pessoas LGBT em posições subalternas dentro das organizações. Se somos respeitosos e reconhecemos os dilemas sociais, não podemos ser meramente “inclusivos” e comemorar a primeira funcionária trans. É um caminho, mas ainda é lamentável que só se tenha uma. E olha que eu não cheguei aos dilemas cotidianos das piadas, violências verbais, assédios morais e sexuais em ambiente de trabalho.

Felizmente, tem gente por aí pensando que o tema não pode ser encarado como da moda ou como o tema da vez. Tenho amigos que estão, pessoal e politicamente, agindo para que o cenário seja melhor para todos nós. Este é o único alívio que trago.

A promoção de oportunidades e de igualdade no ambiente de trabalho importa para todos. A empresa que tem orgulho dos funcionários LGBT é aquela que oferece contrapartidas internas e externas e não aquela que se vale apenas das estratégias de marketing nas datas e nos lugares que a tornam bonita na foto.

É preciso pensar em políticas de acesso, de recepção, de permanência, de promoção, de igualdade e de bem-estar laboral. É por meio destes pilares, que qualquer instituição, liderança ou CEO pode dizer com fôlego que tem orgulho das pessoas LGBT.

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