Os 365 dias mais difíceis de minha vida

Aqui um breve relato sobre os 365 dias mais difíceis de minha vida.

Alguns trechos não farão sentido à você, tão pouco fizeram para mim; outros são explicados por minha fé em Deus, e pelas inúmeras orações e energias positivas enviadas por milhares de amigos ao redor do mundo.

No período de 10/01/2023 a 10/01/2024 tivemos 249 dias úteis, 104 sábados ou domingos, e 12 dias de feriados nacionais, totalizando 365 dias.

Os dias foram tão intensos que minha mente não conseguia diferenciar dias úteis, de finais de semana e feriados. Eu contava segundos, ou melhor, milésimos de segundos. Era um mecanismo de defesa de minha mente numa tentativa frustrada de enganar o meu corpo.

No dia 10/01/23 após retornar de férias, dei carona à minha esposa até sua nova empresa, e ao invés de ir para o meu trabalho, fui direto ao hospital (Albert Einstein), pois sentia um desconforto absurdo no abdomen.

Atendido prontamente, realizei alguns exames, e o médico com expressão de tristeza me informou que eu deveria ser operado com extrema urgência, por conta de um câncer enorme (tamanho de um tablete de manteiga) no intestino. Como o cenário era gravíssimo, solicitei gentilmente ao médico que ligasse para o meu médico de confiança (Dr Thiago Nogueira - Sirio Libanês). Após uma conversa técnica entre os dois, decidiram me transferir para o Hospital Sirio Libanês de maneira que eu pudesse realizar a cirurgia imediatamente com o Dr. Thiago.

Cirurgia bem sucedida, excelente pós-cirúrgico; agora a saga era buscar acompanhamento com um especialista em câncer, o temível oncologista.

Minha filha me apresentou um dos melhores oncologistas do país, Dr. Andrey Soares, diretor do setor oncológico do Albert Einstein, e sócio da maior clínica oncológica do país, onde minha filha iniciou sua trajetória profissional.

Após baterias intermináveis de exames, fui diagnosticado com nível avançado de câncer, onde todos os índices (tipo, tamanho, metástase, órgãos afetados) apontavam para uma breve sobrevida, que dias mais tarde foi confirmada pessoalmente pelo Dr. Andrey.

Ao lado de minha filha, recebi a triste notícia de que o meu tratamento seria paliativo com o objetivo de minimizar o meu sofrimento, e numa avaliação otimista da equipe médica, deveria ter no máximo mais uns 3 meses de vida, e o agravante era por conta da metástase que atingiu o pulmão de forma devastadora.

Enxugando as lágrimas, abracei minha filha, olhei em seus olhos e disse à ela o quanto a amava, o quanto Deus foi bom pra nós, e que havia cumprido o meu objetivo nesse plano. Para "blindar" minha esposa, e meus pais, decidimos em conjunto que não deveríamos compartilhar a informação sobre o "meu prazo de validade", apenas informações básicas do tratamento.

Após essa bomba atômica em minha alma, os dias se passavam como num piscar de olhos, e minha mente buscava mecanismos de defesa para desacelerar. Contar minutos, ler dois, três, até 5 livros por vez; inventar atividades e compromissos desnecessários; ir ao mercado 2 vezes ao dia; descobrir novos lugares para passear com minha familia (pais, esposa e filha); ligar para os tios distantes; visitá-los; e fazer aquilo que não estamos preparados: revisar todas as pendências financeiras, compromissos, e organização de contas, senhas de e-mail, redes sociais, e investimentos.

Sentia dores terríveis, e nesses momentos me trancava no banheiro para que minha esposa não ouvisse meus gemidos, meu sofrimento, meu choro. Pedia à Deus que cuidasse de minha familia, de meus amigos, e de todos aqueles que estivessem conectados para tornar esse plano melhor.

Finalmente chegou o dia de minha primeira sessão de quimioterapia, e com ela a primeira visão sobre a minha partida desse plano. Meu corpo não resistiu, e fui diagnosticado com sepse generalizada, popularmente conhecida como infecção generalizada. Internado com extrema urgência, entrei em coma e tive muitas alucinações Numa delas vi claramente um homem vestido de branco enfiando a mão em meu peito, e retirando uma bola escura repleta de sangue, apresentando às pessoas que estavam ao seu redor, dizendo que eu havia sido curado, e que todos deveriam prestar atenção naquele procedimento.

Despertei daquela cena com um sentimento de cura, de poder, de vida. Fizeram novos exames, fiquei mais uns 5 ou 6 dias no hospital, repetindo exames para constatar o milagre que meu espírito vivenciou: o pulmão estava curado, e eu deveria fazer mais 2 ou 3 cirurgias para retiradas de nódulos de outros órgãos.

A partir daquele momento o tratamento era curativo, e não mais paliativo.

Deus foi ouvido por milhares de pessoas que oravam por mim. Familiares, amigos, pessoas desconhecidas, que souberam do meu caso por meio das correntes de oração, dos comentários de seus companheiros, filhos, e até mesmo das almas que estão nesse plano para elevarem nossos espíritos.

Aqui um momento para agradecer cada pessoa, cada alma que orou, que me apoiou, que me abraçou, sorriu pra mim no momento mais delicado de minha vida. Desejo muita luz, saúde e prosperidade à vocês.

No meio do meu tratamento por orientação médica, meu pai realizou um checkup completo, e descobriu que também estava com câncer.

Iniciou o seu tratamento em meados de maio/23, e ao contrário de mim, sempre saia fortalecido da quimioterapia. Enquanto eu ia direto para a cama de minha casa, ou do hospital, meu pai saia todo serelepe para caminhar com minha mãe (sua fiel escudeira) nas ruas do centro de São Paulo e/ou parques da cidade.

Um homem sábio, querido por todos, figura carimbada no Palestra Itália (Allianz Parque). Todos queriam a sua opinião, seus conselhos, suas preciosas palavras. Líder nato; italianíssimo, viveu de maneira humilde por toda a vida, construiu sua fortaleza, e realizou todos os sonhos.

Meu herói, minha referência.

Finalizei o meu tratamento em outubro/23, e meu pai ainda teria mais 4 ou 5 sessões de quimioterapia.

Ele estava bem, no mesmo ritmo que comentei nos parágrafos anteriores.

Comemoramos a minha cura, e mais um período de férias chegou. Eu e minha esposa decidimos realizar um sonho que compartilhávamos: conhecer o leste europeu: Praga, Budapeste, Bratslava, e aproveitar para colocar no circuito as cidades históricas: Berlim, Frankfurt, Barcelona e Madrid.

Um roteiro encantador, cidades charmosas; periodo natalino com cenários de filmes da sessão da tarde. Perfeito para comemorar a vida.

Fomos interrompidos por uma ligação: minha filha estava preocupada com a saúde do meu pai, e sinalizou que ele estava estranho, e já não conseguia se comunicar direito. Essa triste mudança levou cerca de apenas 15 dias.

Retornamos para o Brasil, e nos deparamos com o pior cenário de minha vida: era um dejà-vu, mas desta vez com o meu pai. Ele estava incomunicável. Contratamos enfermeiras particulares, cama hospitalar, entre outros, pois os hospitais recusavam interná-lo.

Passamos o natal em casa, e na véspera de ano novo ele teve uma recaída ainda mais abrupta. Conseguimos transferencia para o hospital para que ele pudesse ser tratado com dignidade.

Era madrugada do dia 04/01/24, eu dormindo na cadeira de acompanhante, ao lado do meu pai, a equipe médica entrou para realizar novos exames. Aproveitei e questionei o médico sobre os procedimentos, e se meu pai tinha chances de recuperar a sua saúde.

Aquele tipo de olhar novamente, triste, enigmático, e ao mesmo tempo repleto de verdades. O médico colocou a mão em meu ombro, e disse que estavam levando o meu pai para um exame especial que poderia comprovar algo que eu mais temia: morte cerebral.

Não aguentei e explodi em lágrimas, soluçando e implorando ao médico que salvasse o meu pai.

Doutor, esse é o meu pior presente de aniversário.

Sim, era o meu aniversário. Estava completando 50 anos naquele dia, e aquilo só poderia ser um livro de terror psicológico.

Espantado, o médico me questionou 2 vezes:

Hoje é o dia de seu aniversário?

Baixou a cabeça, saiu apressado ouvindo minha resposta no corredor, e só o reencontrei no dia seguinte. Dia oficial do falecimento de meu pai, 05/01/2024.

Certamente o médico adiou os procedimentos que comprovassem a morte de meu pai, de maneira não associar ao mesmo dia de meu aniversário.

E lá se foi para os braços de Deus a alma mais gentil, amável e solidária que conheci.

Orações, lágrimas, dias de tristeza e alegria, até que chegou o dia 10/01/24; agora longos , outrora curtos 365 dias do início de minha missão.

Missão: transmitir conhecimento, amor e esperança. Ser o instrumento de Deus para elevar a fé do ser humano.

Meu propósito de vida no ambiente corporativo:

• Simplificar a vida de todos
• Formar líderes extraordinários
• Despertar o potencial criativo das pessoas
• Transformar realidades por meio de cultura e tecnologia

Agradeço à Deus por colocar em meu caminho líderes facilitadores desse propósito.

Muita luz, amor, e saúde à vocês.