Os AntiDigitais
Ainda há relutância na divulgação profissional de serviços privados nas redes sociais.
Daqui a 100 anos provavelmente promover-se nas redes sociais vai ser algo extremamente comum. Aliás, à velocidade que a tecnologia evolui, nem devemos conseguir projetar na nossa mente como será daqui a 100 anos.
Talvez redes sociais em formato holograma. Ou algo, muito para lá do inimaginável.
Uma coisa é certa, daqui a 100 anos não sabemos, mas daqui a 10 anos será muito mais expressivo, do que já o é, utilizar o digital como forma de divulgar o "eu profissional".
Hoje, quando alguém vai para as redes promover os seus serviços, é apelidado de influencer.
Pensem comigo: quando antigamente as pessoas colocavam os seus cartões na caixa de correio para divulgar o seu trabalho, eram influencers?
-Ah, mas não "conhecíamos" a pessoa.
Certo, mas eram conhecidas por aquele vizinho que nos indicou, e mais outra pessoa que também indicou. É quase como o indicar alguém na internet. Só que agora o cartão tem vida, mexe-se, tem voz, som e imagem, e não é por isso que é influencer. É apenas uma pessoa a divulgar o seu trabalho.
Quem o faz muito bem, tem resultados expressivos e constrói um negócio lucrativo por detrás. E não precisa de mostrar a sua vida, ou o seu dia a dia. Simplesmente pelo peso do seu conhecimento, sabedoria e profissionalismo tem fãs e/ou clientes (não precisa de ser uma legião para se ser bem sucedido - aqui é outra crença que também existe por aí).
E é isso que ainda muitas pessoas têm resistência, divulgar a sua profissão, os seus serviços, porque pensam que têm de ser obrigatoriamente influencers.
Muitos não querem ser influencers, só querem trabalhar, só querem o seu trabalho reconhecido e respeitado.
Quem não quer o seu trabalho reconhecido e respeitado?
E por isso mesmo o novo normal é estar no digital (até me sinto meio cliché, porque parece-me tão óbvio), é estar "on" para mostrar a sua sabedoria, para mostrar como pode ajudar os seus futuros clientes, saber conversar com eles, ouvir as suas dores, curar essas dores, oferecendo serviços de qualidade e que extrapolem o esperado por parte do cliente.
Se fizer isto, não é necessário uma legião de seguidores, precisa sim de clientes, poucos, mas que se tornarão muito bons, pois serão eles que proporcionarão crescimento, serão eles que farão olear engrenagens necessárias para se receber dentro de alguns anos, um maior crescimento, não nas redes, não de seguidores (acabará até por ser um resultado natural), mas um crescimento no negócio, obter mais clientes, contratar pessoas, construir uma empresa.
Ser antidigital é como ser o "Velho do Restelo". O afastar do digital limita o potencial que está guardado numa gaveta à espera de ser aberta.
Atrevo-me a citar Os Lusíadas:
Mas um velho, de aspecto venerando,
que ficava nas praias, entre a gente,
postos em nós os olhos, meneando
três vezes a cabeça, descontente,
a voz pesada um pouco alevantando,
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que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
tais palavras tirou do experto peito:
"Ó glória de mandar, ó vã cobiça
desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
c'ua aura popular, que honra se chama!
(...)
O problema é só esse, nem todas as pessoas que estão no digital, estão por fama. Há aqueles que só querem trabalhar e fazer o seu trabalho com excelência e resultados, só isso.
Há muitos que enfrentam demónios de vergonha por se exporem nas redes, mas necessitam para poder ter trabalho e resultados. Ter clientes. Algo natural para qualquer profissional liberal.
Não meçamos todos pela mesma régua, como diria a minha avó, "pela mesma bitola".
Pare-se de criticar quem está nas redes a fazer o seu trabalho e apenas isso.
Pare-se de medir todos por um só.
Pare-se de chamar, a quem tem um perfil público, de influencer.
Pare-se de tirar julgamentos precipitados e de apontar o dedo.
Aprenda-se, Cresça-se e Evolua-se.
E em contramão, faça-se em vez de criticar-se.