Os Códigos de Ética devem sobretudo privilegiar valores. O tom punitivo não favorece o diálogo e o engajamento
A elaboração, pelas organizações, de Códigos de Ética tem sido uma prática cada vez mais frequente, mas, em muitos casos, ela encerra alguns equívocos. O Código de Ética representa não apenas uma declaração da conduta esperada dos colaboradores em seu relacionamento interno e externo, mas um compromisso com a cidadania. Infelizmente, é possível identificar, na leitura de muitos Códigos de Ética um tom autoritário, indicando que eles se prestam mais para explicitar (e legitimar) formas de punição para os funcionários que não "rezam pela cartilha da empresa". Vamos admitir, porém, que esse fato constitui uma exceção: a tendência é que eles realmente se constituam em um instrumento estratégico que fortalece as relações e a convivência.
Pesquisa realizada pela profa. Maria Cecília Coutinho de Arruda, que consistiu na análise do conteúdo de 17 códigos de ética de empresas e entidades, sediadas no Brasil, concluiu que neles predominam o caráter construtivo, ou seja, "mais do que conteúdo, o que elas (as organizações) buscam é uma estrutura lógica de documentos, orientados para os stakeholders e não propriamente um instrumento com características legais. Ainda que o cumprimento à legislação apareça em primeiro plano, fica claro que o intuito é agir conforme as normas e requisitos governamentais com base no respeito, e não na punição. O curioso é que, em geral, as penalidades dos códigos de ética se identificam com as previstas em leis para as respectivas infrações. Do ponto de vista empresarial, o máximo que pode ocorrer é a dispensa ou o desligamento dos empregados, fornecedores ou clientes." (Maria Cecília Coutinho de Arruda. Código de Ética: um instrumento que adiciona valor. São Paulo, Negócio Editora, 2002, p.26).
É importante ressaltar alguns dados e fatos que comprovam a valorização pela sociedade, de maneira geral, e de setores, em particular, do comportamento ético. São, sobretudo, surpreendentes os que relacionam o desempenho de organizações e a sua imagem, enquanto socialmente responsáveis ou éticas.
Os investimentos éticos têm hoje importância fundamental e algumas organizações (igrejas, fundos de pensão, órgãos de financiamento e fomento) levam em conta fatores sociais para aplicar os seus recursos. Como explicam Klaus M. Leisinger e Karin Schmitt, "com sempre maior frequência, o dinheiro dos bens das igrejas, mas também dos fundos de pensão inteiramente comuns, são aplicados obedecendo a critérios morais. Entre outras coisas, é considerada a estrutura da atividade da empresa, o desempenho ambiental, a posição da mulher na empresa, sua linha de produtos (por exemplo, fumo, álcool, armas, jogos de azar ou energia atômica, como linhas críticas), mas também a segurança e a qualidade dos produtos. Além disso, muitos ethical investment funds também analisam aspectos de direitos humanos e de assuntos eticamente controvertidos, como, por exemplo, a proteção dos animais." (Klaus M. Leisinger e Karin Schmitt. Ética empresarial: responsabilidade global e gerenciamento moderno. Petrópolis, Vozes, 2001, p. 191.)
Estes autores trazem dados reveladores para legitimar a adesão do mercado e dos cidadãos às empresas éticas: "se compararmos os cursos das ações das firmas aprovadas pelos fundos de aplicação éticos com o rendimento médio das ações (por exemplo, o índice Dow-Jones ou o Standard & Poors 500), as "boas" empresas se saem melhor ao longo de um intervalo de dez anos com uma vantagem cumulativa de mais de 180%. Esta correlação é particularmente clara no tocante à percepção da responsabilidade ecológica. O Washingtoner Investors Responsability Research Center verificou que, em 73 de 90 casos, o rendimento financeiro das empresas de "baixa poluição" entre 1987 e 1991 foi mais alto do que nas empresas de "alta poluição". (Klaus M. Leisinger e Karin Schmitt. Obra citada, p. 192.)
A elaboração e a aplicação competente de Códigos de Ética são fundamentais para o sucesso de Programas de Governança Corporativa, Compliance e Integridade nas organizações.